quarta-feira, 1 de abril de 2009

Jules e Jim (François Truffaut, 1962)


Fui ao Cine Olido esperando ver o tão aclamado Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore, 1988) e levei um merecido susto ao chegar lá: Cinema Paradiso havia passado na sessão do sábado, ou seja, o dia anterior. Naquele dia, domingo, passaria Jules e Jim, obra do renomado cineasta francês François Truffaut. Bem, pensei, já que saí de casa para assistir a um filme, não vou deixar de cumprir meu objetivo.

A sala estava mais cheia do que das outras vezes. Pela minha contagem, de oitenta a cem pessoas pagaram de R$0,50 (a meia) a R$1,00 para verem Truffaut numa sala de cinema - que tem, aliás, suas próprias particularidades. Já tendo visto também em março outros dois filmes, A História de Adèle H. (François Truffaut, 1975) e A Marca da Maldade (Orson Welles, 1958), tinha, portanto, prévio conhecimento da grotesca mancha amarelo-mostarda que ocupa o centro da tela receptora da projeção. Ou seja, num filme preto-e-branco, o espectador tem a incomum oportunidade de enxergar cenas coloridas. Quase psicodélico. Quase.

Mas vamos ao que interessa: Jules e Jim. O filme é caracterizado pela rapidez com que se dão as cenas, as sucessões de diálogos, as mudanças (de moradia) dos protagonistas, as paixões - ou seja, uma película permeada pelo caráter transitório das impressões: o amor, a perda, as ilusões - todos dividem espaço para mostrar os (des)enlaces de uma amizade a três interessantíssima. A - até então desconhecida - mulher que virá se interpor à amizade de Jules e Jim obtém êxito em cativar os corações de ambos. Impulsiva, excêntrica, independente - Catherine é a presença feminina elusiva. Ora ao lado do amante, sussurando-lhe palavras ternas de amor, ora com outro, desafogando suas angústias.

É a figura indecifrável, repleta de cantos obscuros em sua personalidade, com um sorriso - e um riso - fulgurante, porém de pouca duração. Nada dura para sempre, parece querer nos dizer. Frui, dessarte, como os homens o fazem - troca de amantes, trocas realizadas às vezes num mesmo dia, como se para provar do doce e do amargo, do "gosto" e do "não-gosto". E se gostar de ambos, bem, está feita a colméia!

A lealdade entre os dois amigos não sucumbe ante à volatilidade dos desejos e caprichos daquela por quem ambos são apaixonados. Ela trai ora um ora outro, isso quando não foge de casa - mas que importa? A amizade não se arruína tão fácil. É chiclete duro de mascar, relação fadada a durar. Há os imprevistos, é claro - há as incertezas também. Mas isso acomete a todos nós mortais, mesmo ao convivermos num relacionamento unha-e-carne, temos lá nossas dúvidas e nossos momentos de desassossego e inquietação. Nada mais natural - pois a vida, sem um ou outro repentino turbilhão, é algo intragável, monocórdico - isto é, algo pouco desejado.

Jules e Jim surpreende - e faz-nos discordar.

Que bom, não...

***

Constato que hoje (escrevo este post scriptum em 06/04/2010), a sala já se encontra reformada, com a tela límpida como deveria ser, e mantendo o módico preço de admissão. Voilá!

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