terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Bão dia, São Ão

Minha peregrinação
No deserto do sertão
Onde eu conheci São Ão
De chinela e tamancão

Ele ria e dizia
Faz um sol de meio-dia
Essa minha travessia
É um banho de água fria

No meu corpo quase nu
Esfolado pelo sol
Trago a vaca que fez mu
Entoado em si bemol

E por pouco a chifrada
Nesta pele depenada
Não fez um rombão enorme
Onde o intestino dorme

Eu fiquei foi mais esperto
Nunca mais cheguei tão perto
Doutros bois de cara preta
De espingarda de espoleta

Ai, mamãe, que é qu'eu fiz
Nesta vida de aprendiz
Pra nascer tão infeliz
Co'esse rosto bonachão

Se fui salvo por um triz
Foi porque o fado quis
Co'essa linda flor-de-lis
Recheada de emoção

Respirar o ar do mar
Por aqui não consegui
Só o belo bem-te-vi
Pude ver no céu silvar

O pedreiro desta terra
Faz do alto sua mansão
O joão-de-barro é fera
Jamais erra uma mão

Pelejei com a enxada
Chapéu coco na mia cuca
Esse cabo que machuca
Grita, berra, urra e brada

Capinei, rocei, suei
E gritei: E-í E-í e Ei
Ô-í ô-í ou, eu vou
Procurar em mim o ouro

Ouro fino, ouro preto, ouro
Branco de joias reais
Elas em mim valem mais
Que um simples, fixo agouro

Predestinado da vida
Tão precoce e resumida
Por rezas e esconjuros
Prisioneiros de seus muros

Onde eu conheci São Ão
Rima de libertação
Forte como a explosão
De um vivo e rico Não

Não à mão que esmurra e bate
Nas bochechas escarlates
Dessa moça nova e bela
Pra mantê-la sob a sela

Não a todas bagatelas
Ditas por um Zé Ruela
Cuja vida é mentir
Com astúcias seduzir

Se eu amo a aventura
Foi devido à vida dura
Adoçada à rapadura
Quando a noite vinha escura

Foi devido aos meus amigos
Os meus cães qu'eu sempre sigo
Me livrando do perigo
De focar meu próprio umbigo

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Não quer...

Minha mão na contramão
Torto escreve, reto apaga
Não é mão de homem são
Nem herói de uma saga

Quer carícia, mas afaga
O papel de cor pastel
E a moça de anágua
Tão longínqua como o céu

Quer as curvas da mulher
Mas só acha o caderno
Despe, dobra, toca o terno
A frieza da colher

Quer cabelos anelados
Para enrodilhar os dedos
E com toques saciados
Relembrar de manhã cedo...

Quer o talhe de Iracema
Romanesca e rebuscada
Sua voz doce e amena
Convocando ao tudo ou nada...

Quer... apalpar superfícies
Planas e heterogêneas
Bruscas, lisas e difíceis
Como as montanhas do Quênia

Quer, bem-me-quer, malmequer
Se são flores ou quereres
Se são cores ou mulheres
Escrever a mão não quer.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ato de Cidadania

Um grande amigo meu pediu, a todos que pudessem, ajudá-lo lendo o pequeno post no blogue do grupo dele: LINK

Parece que para o projeto dele ser viabilizado será levada em conta a quantidade de votos (clicando no coraçãozinho abaixo do artigo) e de comentários, preferencialmente comentários que gerem feedback dos autores (fazer uma pergunta é um jeito de gerar feedback...). Já li, votei e comentei.

Eu agradeço por ele, já que ele é um grande camarada meu.

Muito obrigado!
\O/