quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Grão-passarinho

Piou, piou e morreu
Penas marrons, pintas pretas
Perguntou quem era eu
Sou a escuridão da greta

Sou o inominável mal
Sou um néscio sem igual
O buraco fundo em cal
Ser humano e animal

Sou sem me reconhecer
Cada dia nulo
Cada noite engulo
Meu incognoscível ser

Piou, piou e morreu
Perguntou quem serei eu
Ah! Se eu pudesse piar
Saberia lhe salvar

Mas não posso e estou vivo
Vendo-o morrer em mias mãos
Eu, ignorante e cativo
Um fratricida entre irmãos

Quereria lhe ajudar
Causei, porém, tua morte
Vossos olhos feito mar
Sob a sombra da mia sorte

Perdão, meu grão-passarinho
Chorei quanto pude a ti
Pois quis lhe dar outro ninho
E assim seu passar sofri

Reverbero vãs palavras
Sondando meu sofrimento
Perdido em trevas ignavas
É o pó meu alimento.