domingo, 15 de março de 2009

A Marca da Maldade (Orson Welles, 1958)


Um filme delineado pela ação e pelos planos de sequência. Necessita de muita atenção do espectador aos diálogos, que se dão de maneira rápida e sempre envolvendo um raciocínio lógico. Para quem gosta de Sherlock Holmes, é um filme que não decepciona em ponto algum. Ora intrigante nas questões levantadas, ora envolto em uma trama de puro suspense, dá o que ver, e muito mais o que pensar.

Se fosse mais um filme de detetives cliché, blasé, não haveria porque falar dele. E é exatamente por transcender as pistas fáceis e a atitude policial supostamente limpa, que ele tem algo a nos contar. Mais que um causo, ou uma simples anedota do gênero, ele escancara um vilão arguto e do lado da lei. E ao revelar a verdadeira identidade desse criminoso sob trajes de ovelha e com um background psicológico devastado após a morte da esposa, apresenta-nos uma realidade tênue, e deveras escorregadia.

Para que serve a vingança, se seu fundamento é o ódio e o ressentimento extravasado? Ressentir-se é uma forma de (re-)aprender. Porém, uma vez que toda a angústia se externaliza para o outro, já não é de forma alguma um processo catártico, mas algo cíclico. Violência leva à violência, e o que mata à espada, à ela sucumbirá. Karma é o nome.

Vargas, o tira ideal. O que não se corrompe é logo de cara ameaçado pelos corruptos, por meio de subterfúgios ou nem. O fato de se destoar dos demais, faz com que sua postura ganhe maior visibilidade pelas outras partes. Tal visibilidade não é bem-aceita por aqueles que terão sua má conduta em breve identificada, uma vez que surgiu naquele antro alguém cujo trabalho limpo e correto serve de parâmetro universal.

Fabricar evidências é como contar mentiras: mede-se o passo em perna curta. Se ninguém for calado a tempo, não dura muito até que o mentiroso seja devidamente descoberto. Mas há sempre percalços, como seria de se esperar. Há sempre uma armação por debaixo dos panos, com tenção de sujar o nome e renome do tira escorreito. O bem que ele perpetua não conta, quando a corrupção vira regra, e a conduta direita, a exceção.

Quem se importa, não é mesmo?

Desviar as regras, para servir nossos propósitos.

Eis o mundo do caos. Dos cacos.

Humanos quebrantáveis... e o mundo girando.

Nenhum comentário: