quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Good Night, Sweet Girl

Inspirado em parte no filme Brincando de Seduzir (tradução insensata, o nome original é Beautiful Girls, ou seja, Garotas Bonitas), 1996, do diretor Ted Demme. Belíssimo.


Tentei pensar no termo humanidade
Sem falsa sensação de intimidade
Não pude senão sentir saudade
De momentos não vividos nesta vida

Que escorre e morre, ressentida
Sob o duro sol da nossa lida
Minha amada, minh'amante,
Mia querida

Que é que podemos nesta vida...


***

E ela me disse:
"Podemos muito, amor
A começar pelo agora."

"Fazer de cada dia um'aurora
E viver esta vida, esta hora
Ao sabor do sol, que ri e que chora
Você meu senhor, eu sua senhora
Tua face enrubesce, o meu rosto cora"

"Somos duas vertentes
Do amanhã, do agora..."

+++

E meus aplausos à artista ucraniana Kseniya Simonova, por esta obra pungente, marcante e humanizadora. Acerca da guerra, invasão e ruína de seu país, e da hecatombe dos sonhos de toda uma sociedade. Palmas!:


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Amor e Paixão - Qual a Relação

Quanto mais me apaixono, maior o risco de me iludir. A paixão - do grego pathos, que designa a situação em que sou passivo (em oposição à ação) e minha razão fica inibida - não é boa juíza de caráter ou de relações (...). O encontro emocional intenso pode dar errado. Sua base pode ser frágil. Por isso, parece necessário cada pessoa construir o sentido de sua vida (seu "eixo") sozinha, e balizar a relação com o outro por essa prévia definição pessoal. O amor apaixonado não substitui minha obrigação de saber quem sou, o que eu desejo, o que vou fazer. Mas, como a paixão não é amor, isso não reduz o sentimento mais profundo pelo outro. Apenas coloca na ordem do dia uma questão que afronta o consumismo afetivo de nosso tempo: a necessidade de converter o entusiasmo passional, que leva ao erro, em amor. A mídia fala muito em paixão, pouco em amor. O amor sempre aparece como algo menor que a paixão. O coração não dispara. Parece coisa de velho. Não assistimos a histórias de amor, só de paixão. Talvez esteja na hora de começarmos a contar histórias de amor, não só de enganos. Aprendemos a viver escutando narrativas. É hora de pensar que "foram felizes para sempre" só é possível com o amor, não com o fulgor passional.

***
Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo. In: A Insuportável liberdade do Amor, artigo publicado no caderno "Aliás", do Jornal O Estado de São Paulo, domingo, 22/11/2009.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ei, flor!

Te ofereço esta rosa
Cheirosa, dengosa
Como você

Que me espreita
Me olha
Mas nunca me vê.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Awake

What kind of world is that we live in
When all that matters is to win
Where love is mistaken
Our souls firmly shaken
On a fiery foundation
Contempt for another man's nation
And utter isolation

What kind of world is that we live in
When daily pleasures are taken as sin
Our values stepped upon received
With a goarish grin

Aye! Man must find a way
Farther than kneel and pray
The strongest bridge will sway and fall
A novel man born from a fissure small
A new beginning for it all.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Nature's Call

Early midnight spring
What news do you bring?
Will you rip my heart open
For me to finally sing?

My soul is soaken
My bones are broken
Not a word left unspoken
And yet no king to be seen...

Though nothing is as it seems
I guess... one nightmare... has killed all my dreams.

May I be wrong

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Louvor aos dias que seguem, incólumes

Todos os velhos foram jovens um dia, como nós
E também pensaram que a doença não viria
Jamais estariam sós

Rostos vetustos, maduros, marcados
Pelo tempo timbrados
Sorriram em seu dia
Como a rosa em botão
O Sol reluzia
Sem jamais cogitar solidão

Todas as broncas e reprimendas que recebemos
Todas as vezes que os mandamos aos demos
E as torturas que na vida sofremos
Sulcaram suas almas também

Gerações antecessoras, tais quais as vindouras
Creram na juventude eterna
E o tempo insaciável respondeu - com a finidade da vida
A morte materna

Promessas não cumpridas, o tempo as desfez
E a seriedade com que se leva a vida
Tornou-se insensatez.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ex-perança

Nós górgios nos prendem
Tua mão à minha
Em vã e fominha esperança
Perfuras meu cor com tua lança
E prostras teus olhos de cabra em mim

Impondo em mim teu sigilo
Teu segredo - dás-me ânsia
Sinto medo
Não diz agora essa palavra -
Ainda é cedo.

O que há de errado nisso?
Não firmamos compromisso...

Cada um pra sua praia
Você de calça, eu de saia
Você de jeans, eu de cambraia

Fundir-se é termo ultrapassado
Amar é coisa do passado
Amor é manco, cego, surdo, mudo...
Um velho retrogrado

Eu fui seu ideal - e você
Mais um ex-namorado, ou melhor:
Namorico, ou melhor:
Um incômodo fardo.

****

Duas notas: o eu lírico é feminino do início ao fim do poema, e eu o atribuo a uma pessoa que deixo sob a égide do anonimato. O que tal pessoa pensa (ou, ao menos, o que eu supus que pensasse), não condiz em nada com que eu penso. Eu acredito no amor - não por ingenuidade, mas porque tenho exemplos da vida real para me fundar. E, para mim, nunca houve um "cedo demais". Isso é restrição, é baboseira, hoje me faz rir. Mas quando ouvi da boca dela, me deixou bastante chocado. Talvez fosse cedo demais para ela, mas de forma alguma para mim. Enfim, se não é mútuo, não é verdadeiro. Ao menos nisso ela acertou. Ah, e todas as falas do poema são dirigidas da parte dela para mim, ou seja, eu sou o receptor dessa mensagem suficientemente incisiva (para quem acreditou amar do fundo do coração). Só posto isso porque faz parte da minha maturidade emocional. Hoje eu tenho os olhos bem mais abertos, o diálogo bem melhor construído, e nem por isso deixo de crer no poder edificante do amor genuíno. Eu tenho como firme crença artística minha que o poeta não deve ser hipócrita com a própria vida - não que seus poemas sejam necessariamente autobiográficos - nesse ponto, vários poemas postados neste blog podem ser tomados como exemplo. Mas detrás do poeta está uma pessoa que se esforça por viver uma vida não-hipócrita, e avessa às mentiras, calúnias e seduções mesquinhas.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Olhar c'os olhos

Ó, doce vida, como é duro despertar!
Vogo a esmo pelos mares, sobre as vagas a sonhar...
Ó, doce vida, como é triste despertar!
É tão lindo o sol poente, que me põe a ponderar...

Ó, doce vida, como custa despertar!
O sol, a lua, o vento me impelem a lutar...
Ó, doce vida, a que custo despertar!
Quando o amor se vai e a alma se desfere a gritar...

O amor perdido, assim fundido
Na tristeza do viver
A paixão arrefecida, relegada
Ao sofrer
O ser humano, cabisbaixo, boquiaberto
Em sua ânsia de enxergar
O pôr-do-sol, a lua nova, e o que mais há de mudar...

Luziluze cudelume

Teus olhos, como fogo
Acalentam meu lar
São fagulhas que pululam
E a tocha a dançar

O pirilampo incendiado
Pelo brilho da chama
Morre agoniado,
Clama em terror:

Sei que és luz,
E a ti eu procuro
Alumia minha breve estada no mundo -
Me arranca do escuro!

Não há flama mais
Forte e ardente
Eis, no ocaso, a sorte
Dest'alma penitente

Minhas asas faíscam
Minha prece esquecida
Minh'alma fenece -
Perco a vida.