Desde o ano passado, sou profundamente grato aos meus sonhos. Sim, quem diria? Foram constantes os que predisseram insucessos no âmbito escolar. Naquele ano, uma semana antes das provas de Matemática, era comum sonhar da seguinte forma: encontrava-me na sala de aula da escola, realizando a prova como meus demais colegas, quando, de súbito, irrompia a professora, até então camuflada de meu campo de visão, gritando: "Você não estudou! Como quer fazer a prova sem ter estudado?!". E eu despertava sarapantado com aquilo, minha camiseta toda ensopada. Olhava em meu derredor e percebia que não passara de um sonho. Tardava ainda uns bons cinco minutos para recuperar do susto, e que sustos me pregaram essas predições!
E ocorria que, se já não pegasse nos estudos naquele mesmo dia de noturnas profecias, eu era ainda atormentado por sonhos, de mesmo teor - na noite seguinte e na seguinte... O fato é que tanto me espantavam aqueles sonhos que não deixava estes se repetirem uma segunda noite. Debruçava-me, então, de vez sobre a matéria, para assegurar um bom e modesto 6,0 de média. Passados os exames, não poderia deixar de agradecer essa onda incosciente que houvera feito subir a maré no tempo certo. Pois não dava outra: bastava iniciar meus estudos que paravam os suspiros noturnos amedrontados, e o cessar de minhas aflições sinalava que iria manter-me ao menos na média. E de fato acontecia.
Pois não é que hoje fui tirar um cochilo à tarde e fui assolado por um sonho tão temerário quanto àqueles? Sonhei, pois, de tal maneira que falhava na prova de Recuperação de Química de amanhã, que só fui tomar conta de que era um sonho horas depois. Sim, fiquei horas pensando ter me dado mal em uma prova que ainda me aguarda! E olha que eu tinha ido dormitar um pouco justamente depois de terminar a revisão da prova. E, pensando bem, preciso agora mesmo resolver, na prática, esta profecia. Vou estudar o quanto conseguir, e sempre confiar nesta Mão que se direciona a mim exatamente quando mais preciso de um ombro amigo. Agradeço que seja um ombro amigo, que se estende não para eu nele derrramar meus prantos e possíveis infortúnios, mas um ombro que se consolida, sempre, como um firme e inabalável suporte nas mais desditosas ocasiões.
Robert Louis Stevenson, famoso pela autoria de Dr. Jekyll and Mr. Hyde (O Médico e o Monstro), inspirou-se nessa estória da luta entre o Bem e o Mal, curiosamente também, a partir de um sonho. No meio da noite foi ele acordado pelo o que havia visto em seus sonhos, relatou-o à mulher e teve a brilhante idéia de escrever um rascunho. Sua mulher desaprovou do primeiro, que ele então atirou no fogo da lareira. Já a segunda versão que preparou recebeu, por sua vez, imediata aprovação, e ao longo dos tempos transformou-se numa estória de que nós, ao menos uma vez na vida, escutamos falar.
E, claro, a literatura não é a única a ter recebido influências de estados de consciência diferentes dos que se pensam serem os responsáveis por grandes obras. Friedriech August Kekulé, o cientista que descobriu a importantíssima estrutura do anel de benzeno, já vinha quebrando a cabeça com o enigma dessa cadeia aromática, de cuja existência ele já estava certo havia tempos. Apesar de todos os seus esforços, não conseguia determinar como se estruturavam os átomos em suas ligações. Dormindo, certo dia, ele sonhou com a cobra Ouroboros, da mitologia nórdica, perseguindo sem cessar a própria cauda, em círculos. Daí seu inigualável achado. Como Arquimedes, Kekulé deve ter se sentido digno de exclamar "Eureka!" muitas e muitas vezes...
Aliás, aproveitarei a sabedoria que me trouxe o Inconsciente e desmentir sua profecia. Isto é, enquanto há tempo...
Há 22 horas
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