segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Hoje e eternamente

Está um dia maravilhosamente quente. A campânula celeste exsuda e o mundo sorri. É mais um dia desta canícula primaveril, que recende a leituras e atividades ininterruptas. E sobre atividades ininterruptas: hoje fui à biblioteca, descobri que chegaram livros novos, novinhos em folha. Fausto, de Goethe, em uma tradução bilíngüe a partir do original alemão, em dois volumes, belos catataus que eu cogito ler em breve. Édipo em Colono, seqüência de Édipo Rei, em uma tradução direta do grego, também bilíngüe. O texto em grego, ao final, surpreendentemente vem impresso em páginas verdes, algo que eu nunca vira antes. Resume-se ao belo, visto que não tenho o mínimo conhecimento sequer das letras gregas utilizadas na física.

Enfim, encontrei uma novíssima tradução, por Rubens Figueiredo, de Anna Karenina (a grafia do nome sempre muda), algo como uma Madame Bovary russa. Ou assim ouvi dizer. Tendo já lido sobre os adultérios desta feminista de vanguarda criada com esmero por Gustave Flaubert, falta-me, então, ler sua correspondente eslava, levemente mais espessa, digamos, considerando que tem oitocentas páginas e é um livro bem grandinho, nem de bolso, nem de sobrecasaca. Peguei mesmo foi Memórias de um Sargento de Milícias, do Manuel Antônio de Almeida, o 'Um Brasileiro' que escreveu este seu único romance de renome, por seus joviais 22 anos. Oito anos depois morreria nos soçobros de uma embarcação, Hermes, que foi engolida pelo mar. Ironicamente, Hermes é o deus grego das travessias e das fronteiras, que dá uma mãozinha aos viajantes, viandantes. Parece que, no entanto, a mãozinha que o deus estendeu ao Manuel não foi lá de toda solícita. Malgrado nosso.

Peguei juntamente A Morte de Ivan Ilitch, obra do portentoso escritor russo Lev Tolstói, vertida para o português. Quem o traduziu foi Boris Schnaiderman, que ao lado dos consagrados Rubem Braga e Paulo Bezerra (este sendo o cogitado tradutor de Dostoiévski), forma a tríplice escol da tradução literária russa para o português de nossos tempos. Encontrei na biblioteca - quem diria - uma versão monumental e multicentipaginária de Ulysses, James Joyce. Este daí vou ler em ingês, me perdoem os excelsos e intrépidos tradutores.

Não contei, todavia, que ao me vislumbrar com tanto material para leitura e regozijo domiciliar, acabei metendo a carteirinha não sei donde, e foram-se 30 minutos de busca sem sabor nem cor. Até que... tcham tcham tcham! Achega-se do almoço o bem-disposto e bem-humorado "chefe" - ali da repartição bibliotecária - me oferecendo uma ajuda inprescindível. Verdade. Quando, após elogiáveis esforços, ele me entregou em mãos a "amarelinha", só comentou "Se fosse cobra...". Se fosse cobra não picava, não, esgoelava mesmo! Estava embaixo do meu nariz (literalmente, porque eu encontrava-me agachado a dedilhar aquela mesma prateleira onde a sacana se escondeu). E pimba! Ele a acha. Ufa. Quer esconder algo de alguém, ponha-o bem à vista. Ali é mais seguro que o cafofo de São Judas.

E o dia se resume a eu chegar em casa, comer mui pouco - já que não haveria sesta depois do almoço -, e ler como um maníaco primeiro O Veredicto, depois Um Artista da Fome e depois (!) Uma Carta a Meu Pai, todos deste Kafka cada vez mais atual e must-read. Acordei, ops, levantei com as pernas meio mambembes, claudicantes e bambas, mas sarapantado que eu estava com a velocidade vertiginosa, vale tudo, vale tudo!

E o dia bem que ainda não terminou, não é mesmo, Tolstói?

Responderás nas entrelinhas?

Bem o sei...

O Cravo escapuliu...
Veio, pois, a Rosa.
Abriu-se com um abraço
Apresentou-me um outro mundo
Nele ainda estou...
(Eh! me conquistou)

Ressurgiu o rubro Sol
E verdinha Esperança renasceu também
Resta agora ir adiante adiante.
Viandante, estudante
Mutante, pensante
Avante, xavante!

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