(redação escrita no 2º ano, para disciplina LPR. Professora Ana Lisboa)
Lola acabara de acordar quando o telefone tocou. Era Manni, seu namorado, com a voz embargada. Urgia-se que ela conseguisse vinte mil reais em vinte minutos, no máximo. Ela perguntou-lhe o porquê de tanta urgência, mas da resposta só pôde discernir que ele se encontraria em sérios apuros caso ela não lhe levasse a quantia dentro do tempo.
Ela se levantou da cama com um ímpeto furioso, determinada a correr aloucadamente para arrecadar aquela quantia estrondosa e, assim, livrar a pele do namorado ("o que ele aprontou desta vez?!"). Saindo da cama, Lola penteou-se em frente ao espelho, trocou o pijama por roupas leves, de correr, e saiu em disparada do quarto. Na escada que levava ao térreo estava um vizinho pivete, de 10 anos, assobiando candidamente, para passar um ar enganador, suposta infância. No pique que ela deu para alcançar mais rapidamente os degraus, passou despercebido o pé maliciosamente estendido, e ela só tomou conhecimento do fato ao levantar-se, alquebrada, na base da escadaria.
Na rua, às seis horas matinais, os transeuntes, esparsos, ainda estavam envoltos pelo ar sonolento do despertar do dia. Passou casualmente por seu calvo pai, que, de carro, nem sequer a notou. Atravessando uma rua erma sem olhar para os lados, Lola trombou em cheio com um velho maltrapilha, que conduzia sua bicicleta como se em sonho. Não prestou socorros nem, tão-pouco, observou os esgares de dor que o homem fazia, a jazer estendido no asfalto, com uma evidente fratura no ombro.
Cruzando com várias pessoas que tinha a certeza de já ter outrora cumprimentado uma vez na vida, não logrou lembrar seus nomes. Daquele mesmo jeito desmemoriado adentrou o banco, onde seu pai trabalhava ("deveria ter pego uma carona com ele, burra!"). Suava em bicas. Correra por dez minutos sem parar. Pisou com resolução no capacho da porta de entrada, debatendo-se, por dentro, contra a necessidade odiosa de ter de pedir grana àquele coroa ranzinza.
Tudo era contratempo. Antes de passar pela porta blindada que dava acesso aos escritórios dos mais altos funcionários, precisava falar com um guarda gordo e rechonchudo nas faces, sempre a fazer brincadeiras macunaímicas - sem graça, o patife. Ele a cumprimentou com um ar grave, que a surpreendeu. Mesmo assim, ela pensou, preciso tirar esse palerma da minha frente logo, puxa. Ele franziu a testa e pediu um momento. Lola, impaciente, só calculava os possíveis desfechos se o cacife lhe escapasse das mãos, ou se ultrapassasse o já exíguo tempo. O portentoso segurança de súbito assumiu um tom de confissão lamuriosa, contando-lhe - que hora imprópria, pensou Lola - que era seu verdadeiro pai. Explicou-lhe, debulhando-se em lágrimas, que a deixara sob os cuidados do patrão, pois era em quem mais confiava. Aliás, acrescentou o guarda ("é meu pai e nem me diz o próprio nome, é brincadeira isto?!"), a mulher do patrão era sua mãe, mas este nem desconfiava, então era melhor ela ficar quieta. Ela havia feito uma viagem alegando doença terminal ao marido, e tivera Lola em segredo. Quando chegou, confabulou toda a história em que Lola encaixava-se como filha do guarda. O marido gostara da boa ação e, sempre dizia, por algum milagre do destino ainda tomara semelhança à sua própria mulher, que graças ao bom Deus se curara de todo. Só podia ser coisa de Deus, pensava ele.
O que mais espantou Lola foi a rapidez com que se passavam os segundos. De resto, não percebeu que o guarda mal se agüentava. Ai, dramalhão, abra alas antes que te dê um "fica esperto", vamos!
Dardejou pelas portas enumeradas, em série infindável. Estacou à frente da porta semiaberta de seu pai placebo. Auscultou a voz de uma mulher. "Deve ser piriguete". Resolveu dar uma olhadinha ("mal não vai fazer"). Viu a silhueta de uma mulher loira, feia pra baubau, mas bem vestida, aproximando-se de seu padastro com uma fa-mi-li-a-ri-da-dee, hum! Os dois se abraçaram languidamente. Aquele gesto de adultério safado em hora de trabalho foi o estopim para Lola, que escancarou a porta com um chute tão forte que partiu a dobradiça. Entrou, gritando, perdendo de vez o brio ao ver o zíper de alguém aberto:
-Pai, preciso de dinheiro! O pai, exasperado, redargüiu:
-O que é que você quer de mim?
-Dinheiro, já falei!
-Quanto? Fala.
-R$20 000, vai logo!
-O QUÊ? kkkk... Você tá gagá?! - e irrompeu numa gargalhada digna de um orangotango.
-Eu...preciso...do dinheiro... AGORA! - e sacou da bolsa o revólver, elemento-surpresa sempre tão necessário nos empréstimos relâmpagos. Apontou-o para aquele homem, vulgo 'pai'.
Sob a mira da arma o pai seguiu à frente, mas no caminho para o cofre olhares espantados os fitavam pelos corredores daquele labirinto. Faltavam cinco minutos! Lula apressou-o tanto quanto pôde, ameaçando dar-lhe uma coronhada. Cada minuto transcorrido era precioso, uma vez que Manni tinha como última alternativa roubar o supermercado logo ao lado do orelhão de onde telefonara. Finalmente todas as notas estavam dentro do saco preto, que ela amarrou e levou na mão esquerda.
Abrindo a porta de saída do banco, constatou que o instrumento de coação encontrava-se ainda na sua outra mão, então o guardou na bolsa. Chocou-se com a vista defronte aos seus olhos: a polícia fizera um cerco ao prédio. Congelou de medo. De repente um coxinha berrou que saísse da frente, e vários gambés a puxaram com habitual gentileza para fora da formação em arco dos carros e homens posicionados. Disseram para ela: se manda pra delegacia pra dá depoimento. Ela aquiesceu e nada falou. Rachava o bico por dentro. Putz, o Tico e o Teco devem estar tirando cochilo nesses capatazes! Fora salva pelo gongo!
Tremendo dos pés à cabeça, como que bêbeda, virou na esquina e, com as forças restantes, esperneou até Manni escutar. Este veio em encontro a ela, ambos trombaram, de emoção, ressaca e um pouco de adrenalina, e o dinheiro se esparziu pelo chão. A verdade é que ele estava empurrando a porta da loja naquele momento, o que deixou tudo mais cinematográfico. É aquela pegada de timing de diretores de cinema e teatro. Quando certinho, deixa tudo mais alucinante.
Os pedestres, que haviam sabido do assalto ao banco situado a apenas algumas quadras dali, desconfiaram imediatamente. Os namorados, em sobressalto pelo incidente azarento, recolheram parte do conteúdo para dentro da sacola (Lola era prevenida), e distribuíram o resto para o populacho que aglomerara no entorno. Boa-vontade geral! Oxalá! Viva Deus! A Paz esteja convosco, contigo, com ocê! De tudo escutou. De resto, refugiaram-se muito bem.
Até porque, no dia seguinte... já estavam fora do País. Manni pagara sua dívida. De grão em grão a galinha enche o bico, o namorado tinha escutado certa vez. Nunca imaginei que de fiado em fiado...
Há 4 horas
3 comentários:
Algo me diz que a verdadeira história do filme é algo diverso do que escreveu...=)
Hahaha!! Esta daqui é a versão abrasileirada!
Uma das coisas que mais me dá preguiça é redação pra escola XD
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