quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Bilinguagem

Life of Strife

How considerate of you
To not know how I feel
How considerate of me
Blind ... unable to see

Forever asking, mouth agape
Why am I a man
And not an ape

Why call me Sam
For heaven's sake!

***

Meanwhile
I see the stars
Put off sleep
Search the heavens
Down, down, deep

Oh, I'm asleep

***

How...
Sighs she
Thinks he

But the real question
Instead
Should be
Is it?

Merde.

***

Hot inside
Burning like hell
I am Lucifer
He who fell...

***

I've come
And I've gone
I've some
And I've none

...(meanwhile) the Sun shone...

***

Angels whe are
I did dare
I did stare
I was just
A star

***

Breathing is hard
Thinking too
I am back to the start
And so are you...

***

Listening
To the sound
Of waves
Dreaming
So astound
In caves

Telling
You
Hearing
Everything
But nothing
Coughing...

***

Apart
From the world
Is my condition...
This last word
Is my rendition...
I am a slave
I can be free
I am not
Then I can be
'Tis all blindsight
Then I can see...

Vida Aturdida
(tradução poética de 'Life of Strife')

Eu sei o quanto tu pensas em mim
Em não saber que me sinto assim
Quão ignorante sei que eu sou
Não enxergo... algo me cegou

Sempre a indagar - a boca abro,
Porque faço parte da humanidade
Por que não um macaco

Porque chama-me Mateus
Pela graça de Deus!

***

Entrementes
Eu vejo os astros
Empurro longe o sono
Perscruto a fundo o além
Aquém, aquém, a fundo

Oh, que sono profundo

***

De que maneira...
Em um murmúrio ela suspirou
E, por acaso, o mesmo ele pensou

Mas a pergunta deveria ser
Não é verdade
É isto a realidade?

Merde.

***

Por dentro me é tudo brasas
Queimando como o inferno
Sou o caído Lúcifer
O anjo que perdeu as asas

***

Pois eu vim
Pois parti
Tenho, sim
...Já perdi

...Enquanto isso, o Sol sorri...

***

Nós somos anjos
Eu, sim, ousei
Eu, sim, mirei
Fui justo
Somente uma estrela

***

O ar me vem espesso
Estou de volta ao começo
Pensar não me vem bem
É o recomeço
E a ti também...

***

Escutando atento,
No desalento,
Das ondas, o marulhar
Sonho lento...
Surpreendentes cavernas


Digo
A ti
Ouço
O Tudo
O Nada
E tuço... mudo.

***

Aparte
Do mundo estou
É esta minha condição...
Esta palavra que restou
É, pois, minha rendição...
Sou um escravo
Posso ainda me libertar
Nada sou
Posso então me tornar
É cego o meu olhar
Pois posso, agora, enxergar...

***
A minha intenção em escrever a poesia começou inexplicavelmente pelo título. Digo isto porque durante todos os anos de escola e curso de inglês e japonês, sempre foi de praxe escutar que se começa pelo corpo, pela idéia, e o título é um posterior acréscimo. Mas não foi assim desta vez. Em minha cabeça irrompeu "Life of Strife", e logo em seguida a tradução poética que eu conceberia: "Vida aturdida". Pois eu estava, horas depois, estando já praticamente esquecido aquele singular pensamento, assistindo a mais um bocado do belo - e incansavelmente lírico - filme Asas do Desejo (Der Himmel Über Berlin, 1987).

A inspiração que me trouxe o filme foi instantanemente a de escrever. Mas me vieram, apenas, feliz ou infelizmente, palavras e linhas em inglês. Pensava, transcrevia, e me admirava com o resultado. Não que esteja uma maestria, não que esteja perfeito. Bem longe disto; o que me assombra, no sentido positivo da palavra, é esse arroubo poético que, cada vez mais às claras, se manifesta. Que siga assim.

A tradução não foi menos trabalhada. Aliás, poucos são os autores que traduzem a própria obra. Tradutores , bem ou mal pagos, sempre haverá para isso, naturalmente pensamos. Somente que, em matéria de poesia e obras transbordantes de lirismo, não se dá o mesmo, não apenas por razões estéticas e estruturais. A questão da tradução poética eu pude finalmente entender por meio da seguinte analogia: o escultor esculpe com esmero sua Pietá marmórea. Será você capaz de reproduzi-la em todos os seus originais detalhes? Já sabes a resposta, e é exatamente por isso minha colocação. Superada essa frustração inicial, sobe à cabeça a pergunta: Que aspectos escolherá, sendo-lhe impossível reproduzir com fidelidade o todo, para poder, então, transcrever em outra língua a essência do que foi escrito? Há de separar, pois, o trigo do joio.

Traduzir uma poesia, penso eu, é recriá-la; uma segunda vez desenhá-la; pôr-se como um segundo autor. E, para isto, dá-lhe responsabilidade! Posso humildemente dizer que estava ciente do trabalho mental que teria pela frente. Ao invés de rebaixar os versos originais às minhas limitações, galguei todos os degraus necessários para me deixar à altura da originalidade de meus pensamentos. Não fui, pois, infiel em ponto algum ao sumo do que havia escrito em inglês, na tradução acima. Mudaram-se palavras, mudaram-se, em duas ocasiões, o número de linhas de uma estrofe? Sim, isto mudou. Quanto à essência, o mesmo não pode ser dito. Traduzir um poema, é retrabalhá-lo mentalmente. Às vezes escrevemos por inspiração, mas isso não basta. Sem compreender, é impossível traduzir dignamente. Se somos incapazes de reproduzir o original, atendo-se, não às suas infinitas peculiaridades, mas à alma daquele, então não o entendemos. Leia e compare. Confronte.

Descu..a.

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