segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mahomet

Se Maomé nada fizer
Nada será; nunca será
A Montanha não vindo
Maomé bravo pra lá irá

Maomé deve ir até ela
Desbrava, homem,
Vá logo, caminha!

Que te importa se é lépido ou moroso
Espezinhar rápido, bem vagaroso
Eta, caminhar ditoso!

Desde o início tu caminhaste
Não foi propício mas tu andaste
Que sacrifício, homem guindaste!
Esse resqüício que pezunhaste!

Quem disse que era fácil?
Quem disse que era grácil?

O suor te cegou o olho
Caíram-te os pêlos do sobrolho
Tu até mesmo colocaste as barbas de molho...
E chegaste lá zarolho

É,... eu bem sei
Chamaram-te Nei
Apelidaram-te de Nem
Ninguém sabia quem tu eras
Mas tu sempre foste alguém...

Ah! Não crês?
Não vês?
Tu és.

Exatamente porque nunca creste.

Seus passos apolíneos
Em veredas e caminhos
Teu porte retilíneo
No trilhar sozinho

Tinha rosas, tinha espinhos
Mas nunca degredaste
A obra principiada
Foste duro e rijo
Um'árvore delgada
Paradoxo: bem-arraigada.

As passagens tortuosas
Que espetaram-te os dedos
As chacotas preguiçosas
Nem te sequer botaram medos

Pois, não foste tu?
Que enfrentaste o degredo?
Sem ela, a Capitu,
Tu levantaste dia-a-dia cedo...

E para quê?
Tu, somente, sabes
E eu ficarei na minha
Foste tu quem aprendeste
E eu fiquei pra ver...

Tu por dentro cresceste
Num homem novo renasceste
Mas disso nada sei...

Mágoas te infligiram
Misericórdia não te deram
E mesmo assim tu perseguiste
E perseveraste...

Ô, homem,
Que te fizeram?
Cegaram-te os olhos?

"Pois eu tudo vejo,
E tudo escutei.
Pois o que almejo,
Isso tudo alcancei."

"Então perdoas-me pela demora?
Tu por mim esperaste sem ir embora.
O que fizeste o tempo todo pra passar a hora?"

Uá, eu fui olhando lá pra riba!
Vi estrelas, conheci Curitiba!
Li um montão de livros,
Sabe aquele do Içami Tiba?

"Me desculpa o infortúnio
De não conhecê-lo?
No andar eu vi Netúnio.
Tu já chegaste a vê-lo?"

Creio que... não, nunca o vi
E tu, já ouviste o bem-te-vi?
Em criança me arrependi
Mas adulto jamais esqueci
Como canta bem o danado!

"Que maravilhoso o que dizes!
Quem não o ouviu são infelizes,
É um cantar bem prolongado
Tom, voz e timbre, tudo sincronizado!"

Cuida que não é só isso não!
Aquela ave tem é belo diapasão!
E estranhamente canta quieto
O que me deixa circunspecto...

Por que será que canta assim?
E o sabiá, não será outrossim?
Canta finim, finim, ô passarim
Ê, candura que nu acha fim!

"Não sei se vigiaste pernoitadas
Mas meus pés deixaram pegadas
Talvez o sigam, talvez jamais
Ele é reto, desgostoso ao Barrabás...

Talvez seja isso um bom sinal
Caminharão nele os do bem
E será abandonado também
Por aqueles que pensarem mal...

Repousam lá cansados viandantes
Jazem nele semi-mortos os viajantes
Mas, mais vivos que todos eles,
Não o estão nenhum dos seres...

Porque eles buscam, né, a tal verdade
E pouco a pouco largam vil saudade
A casa ampla se abrirá ao voltarem
À distância mui custa se acostumarem...

Penso que, no entanto, fazem bem ao viajarem
Seu lar, seu bar, sua pátria, até a estalagem
Torna-se leito, cama, repouso pra viagem
Desnecessitam de mãe, pai ou pajem

Compenetrados eles vão
Seguindo a viagem
Vem do sol a mornidão
Fazem e perfazem
Na calma, tênue solidão,
Memorável viagem...

Fênix humanas..."

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