Deixa meu sacrário em paz!
Tu não quererás saber,
O que aqui jaz.
Tua curiosidade assaz,
Fá-lo em vão padecer,
Ó ser contumaz!
Não sabes, mesmo, o que faz,
Vá procurar viver,
Criatura pertinaz!
Teu rosto sangüíneo
E olhar perscrutador
Conhecem prazeres,
Ignorando a dor.
Aflige-se, no entanto.
Com matérias triviais,
Coisas vis sem encanto,
Que entoas em fúteis lais!
Que poeta queres ser,
Se morre em ti a vontade
De buscar o conhecer,
A calmaria na tempestade!
Não me diga:
"-É verdade."
Antes prossiga
No culto à inverdade.
Pois as argúcias que empregaste
Irão cobrir-te inteiro com taticumã
Tu não passas, hoje, de reles traste
E não te salvarás ímpio talismã!
Se aind'um dia disseres
"-Minha vida é vã!"
Deixarás de ser um alferes
Impostor, comedor de marrã!
Siga, pois, tua vida
O rubor já te largaste
A vergonha, já esquecida,
Dos inocentes que mataste!
Ó guerra rubra!
Evento Infame!
Qu'a História te cubra.
Não mais sangue derrame!
Rifles e fuzis
Assassinando civis!
Cadáveres chasqueados,
Adunados aos milhares na sarjeta,
As ordens seguidas, atroz matança
Por cruéis soldados fardados
Surde então a Esperança,
Da incólume e alheia greta
De corações humanos
Condenadores de Massacres!
Malferidos sentimentos
Vão tardar a recuperar
Devido aos crimes pardacentos,
Que seus donos foram impelidos a causar!
Novos olhos divisarão novos horizontes
Mas antes volverão aos crimes cometidos
Agônicas faúlhas saltar-lhe-ão aos montes
Para que os torturadores sejam jamais esquecidos!
O zinir das cigarras substituirá, então,
O zunir das violentas, cruentas balas
Os medos humanos enlear-se-ão
E a humanidade terá aprontado suas malas...
Os epígonos de regimes ditatoriais
Serão finalmente condenados
Às penas que lhes cabem
E os desalmados terão voz não mais...
Tendo uma vez sido despertados
Os altos brados dos que sabem!
O martírio cederá seu lúgubre lugar
A ações de homens, desta vez dotados de emoções
Profundas e menos evanescentes:
Entre elas o verdadeiro amar!
E cantar-se-ão belas e inolvidáveis canções!
Feitas por poetas, músicos e ascetas
Todos vestidos de azeviche, em forte luto
Por todos os heróis vitimados pelas setas
Que destruíram o mundo,
Mas não deixaram o ser humano mudo...
Quem viveu nesse período contristador
Sabe mais que nós sobre a perda e a dor
Infligidas em belicosidades sem qualquer valor...
Fulgurantes íris virão iluminar
Os pórticos outrora escancarados
Aos demônios do guerrear,
Tenazes, vilões e mascarados
Os demos que intentaram dominar
Todos os homens, analfabetos ou letrados!
Nesse comenos, o vozear humano gritará:
"-Liberdade dos conflitos, a nós duramente impingidos!"
E o tatalar nas árvores, o ruflar da ave que enfim gorjeará:
"-Luto aos homens e mulheres, e todos os civis falecidos,
Nesta Guerra Mundial!
O homem jura ad aeternum hoje: não mais matará!
As cruezas e os combates desferidos,
Não serão com o tempo esmaecidos,
Porque já não vive mais o homem bestial!
Declaro, por fim, neste momento final:
Terminam hoje as façanhas dos demos do Mal!"
E assim morreram os homens bestiais.
Com o renascimento de conscientes mortais.
Que souberam, finalmente, clamar, em voz alta,
Um sonoro, e inesquecível: Jamais!