segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ciclo I (modificado em 02/08 e 10/08)

Se eu pudesse, de verdade, descrever
O que se passa no coração,
Não poderia me esquecer
De abordar a solidão.

Sim, a solidão:

O sentir-se sozinho,
Olvidado pelo mundo
O sentir-se efêmero
Descartável, temporário
O germinal de trigais não meus...

O não saber o próprio caminho
Aquele que se descobre somente perscrutando a fundo
Os âmagos da memória,
A própria história;
A minha vida,
A tua vida.
A experiência contida
Em uma memória fragmentada, partida...

Ao me encontrar sozinho,
Esqueço-me de quem eu sou para os outros,
O que represento, aquele detestável papel,
A conexão com a Terra, em antagonismo ao Céu,
Até mesmo onde nasci, o meu narcísico ninho.

Após deixar de lado tais preocupações, vago horas em pensamentos soltos...

Ao encontrar-me sozinho,
Deixo, por um momento, de ser o "animal social"...
E é quando me vejo tal como sou...

É legal sorrir, é bonito chorar
Mas se a vida fosse apenas rir
Seria um detalhe prescindível a nossa infância
De brincadeiras, descobertas, amizades e carinho.
Seriam desnecessárias todas as etapas de auto-descoberta,
Igualmente ridículo definirmos futuras metas...

Seria tudo muito simples
E ao mesmo tempo obscuro
Seria um viver constante sobre o muro
Na indecisão, sob as presas do instinto
Animal, anti-social...

A aspereza seria a marca humana
Ou melhor, desumana...
A frieza seria a saída sã
Para uma vida interminavelmente insana...
A crueldade seria facilmente aceita,
E todas as religiões se mesclariam,
Para formar uma satânica e diabólica seita...

Enquanto isso, algo ou alguém, que não nós,
Sagazmente nossa fúria aproveita...
Nossos medos constantemente espreita...
Porque é tudo muito civilizado, tecnocrata,
Qualquer um sendo taxado a esmo de psicopata,
Quando nem sequer sabemos...
Nos virar nesta escura e perversa mata...

Esta selva fomenta mesmo a ignorância
Fazendo-nos viver numa eterna ânsia
De sermos mais, de se ter sempre mais e mais e mais...
Sem sequer questionarmos que anseio é este
Que nos faz morrer sem quase nada conhecer...

Se a vida fosse, enfim, tão plana,
Já se poderia crescer adulto;
Já se poderia nascer inteligente.
Mas não é assim...
O fruto amadurece, mesmo,
Para cair de maduro.

Se a pancada for mais forte que o fruto,
Nascerão outros:
Nenhum igual a ti;
Nenhum igual a mim;
Mas a vida, em si,
Sempre foi assim.

O homem nasce,
Cresce, tem sua prole.
Depois adoece,
Finalmente morre.

O homem se orgulha
De sua insignificante hombridade
Do teor humano que há em si
Mas que, uma vez determinado
Fecha portas e janelas
Tendo seu espírito sobrecarregado
Por uma perene infelicidade...

Resta ao ser humano
A angústia de não saber;
De querer ser, crescer;
De desejar melhor se conhecer...

Mas a lembrança,
Tal qual a estrela,
Rutila e brilha e cintila,
No perene relembrar
De memórias nossas,
E alheias...

Aprende-se,
Passa-se o aprendizado adiante.
Como quem sente,
A vida, dia-a-dia,
Ofuscando seu vigor,
Perdendo a vivacidade,
Na tristeza ou no amor...

Até que, num belo dia,
Sendo ida a mocidade
O primor, que outrora ardia
Vai-se,
Fechando o ciclo
Mais uma vez...

Meus amigos, minhas glórias
Poemas lidos, contos, histórias(/estórias)...

Cada segundo, uma eternidade
Esta vida, este mundo...
Por dentro a força de viver
Por fora a opacidade...

Não importa o que te digam:
O homem não sabe o que é amar
Mesmo que as más línguas profiram
Que o homem nasceu pra procriar...

Se tu tivesses nascido pra procriar
Teus pais o teriam tido,
figurantes de um terrível ciclo,
Ferida aberta que nunca irá fechar...

Ciclo II

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