quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Buscai! (Ciclo II)

(|| Leia antes: Ciclo I ||)

A dor que assola,
Amola,
E não consola.

O homem que vive,
Sobrevive,
E chora.

A mão que toca,
Sente,
Mas não vê.

O ouvido que,
Mudo, surdo
E inerte,
Ainda escuta: "Sê!"

A verdade que fere,
A mentira que corrompe,
A dualidade que rompe (com)
Puerilidades absolutistas...

A tristeza que não se faz presente,
Nem, pelo contrário, ausente;
Que os olhos não presentem,
Mas a alma - sobretudo - sente!

E ruge o leão,
As feras ignominiosas,
Verdades escandalosas,
Que, por magia própria,
Erguem-nos, ferozes, do vil e reles chão...

O braço erguido,
O brado ouvido,
O constante olvido,
Do sonho esmaecido...

Esquecido, olvidado,
O sonho nunca outrora conquistado.
Premente, no teu ser,
A vontade de crescer,
Extrapolar...
O ímpeto de viver!

Esquece-se, no entanto,
Que viver é sofrer...
E sofrer é viver.

E tu não compreendes
Como isto pode ser:
Que o homem só fica em pé
Após bravamente se reerguer...
Antes disso,
Nada pode o homem ser.
Não! ao menos não antes de sofrer!

Para, novamente, aprender
Como, enfim, se reerguer...


...

Quem dera teorias
Pudessem expressar
Todas as cruezas
Que temos, por nós mesmos,
De experienciar!
De ver,
Ouvir,
Auscultar,
Degustar,
Inspirar...

Esses mórbidos odores,
Que a alma humana
terá de suportar...

São todos eles meios
Pelos quais
Nossas saídas
Iremos encontrar...

Tateia-se pelo túnel escuro,
Ao som de risos cavos,
Aterradores, inumanos...
Entrevendo-se uma fresta
Atiramo-nos nela em vão...
Era somente uma miragem,
O vestígio de passada ilusão!

Ouve-se murmúrio humano,
Quase inaudível, indistingüível...
E já nos cria esperança
De um futuro auspicioso,
Porque melhor,
Embora austero...

É um futuro inperscrutável...

Renascem as dúvidas,
Nossas questões existenciais...

E o filho vai, pouco a pouco, se libertando
Para, logo ou não,
Descobrir que passou a vida,
Nada diferente de seus próprios pais...

Crendo que se libertou,
Em promessas levianas,
Que o enganaram,
E o deixaram louco, um mero doidivanas...

Crendo no absoluto irreal:
Que ele é homem,
E, ainda assim, imortal...

Grita o homem lunático: "Sou!"
Mas não és.
Se tu fosses,
Não gritarias,
Nem pensarias.
No teu imo,
certamente saberias...

Sem precisar te convenceres,
Por tantas hipocrisias
Que, desmascaradas,
Revelar-te-ão:
Todas as mil porcarias
Que acreditou!
Debalde,
Em vão!

Muçulmano, judeu, ateu, ou cristão,
Sejas tu de qualquer religião...
Tu abriste a porta,
Mas não enxergaste o portão:
Escancaraste a janela,
Para prender a própria mão.

E gritando,
Afirmar que ama,
E buscar, na montanha,
O Sermão.

Que nada te diz:
Porque não conheces,
E sempre te esqueces
Que acreditar
É trancafiar-se,
Indefinidamente,
Na hiante escuridão...

De sonhos,
Devaneios,
Desejos
E anseios.

Que nada condizem com
A Vontade,
Que nunca criaste
Em Si.

A mentira em que creste
Te levaste à pior morte existente:
À auto-depreciação:
O procurar alguém
Para dissipar a solidão;
O admirar as nuvens
Afundando-se na terra...

Errai, errai e aprendei!
Cuspai no pateticamente imodesto
"só sei que nada sei"
Pergunta-te, Honesto,
"Quem sou eu?"

E descubra!

2 comentários:

Jefferson disse...

O que dizer, o que posso dizer?

Vamos descobrir antes e falar depois!

Fernando disse...

É melhor nada dizer. Ainda melhor: viver!