sábado, 2 de agosto de 2008

Depoimento

Elaborei o texto abaixo para compor o TCC do técnico de museu. É, no entanto, somente uma das várias partes que o constituem.

DEPOIMENTO

Ao caminhar sobre o muro que sobrou do Centro de Detenção Carandiru, em um dia frio, não senti nada em particular. Após pensar em escrever este depoimento, no entanto, tentei me colocar na posição dos guardas do presídio, realizando a escolta diária, vendo tudo que ocorria no pátio de cima, como que distanciado da realidade dos presos.

Sobre encontrar-me dentro de uma cela, uma só palavra poderia descrever prolixamente a experiência: medo. Medo de estar trancafiado em um cubículo, com meus movimentos restritos e ao lado de estranhos. O que seria olhar pela janela vendo as pessoas indo e vindo livremente no “mundo externo” estando eu fechado dentro de quatro paredes e um teto, opressivos, cerceantes, vigilantes, onipresentes...

O olho. Um grande olho eternamente aberto, fixo em mim. Temerário, amedrontador. São Jorge e o Dragão: o bravo cavaleiro lutando contra um inimigo formidável, soltando labaredas pavorosas. Com apenas uma lança e muita coragem, ele o enfrenta valente. Se não está tão destemido como parece, ao menos o aparenta – e ao enfrentar um inimigo, nomeadamente a prisão, é realmente isso que importa. O Salmo de Davi: esperançoso, religioso. Quem o escreveu sabia que, ali dentro, quando tudo parecesse perdido e o inimigo, imbatível, somente o salmo poderia trazer-lhe o reconforto exigido para peitar bravamente o embate.

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