Fabiano apanhara os picuás que precisava para matar rês qualquer. O aió de fumo no fim, o canudo do cachimbo sarrento, todos esses elementos fazendo de Fabiano um animal atilado.
Cambaio, em frente xiquexiques, mandacarus, quipás, catingueiras, baraúnas, sucupiras, imburanas, todo o universo de Fabiano abria-se e fechava-se ali.
Tomara que hoje não precise de pabulagem, rosnava. A reiúna que lhe pezunhara o pé machucava-o. Por dentro. O dunga da cidade ia se ver com ele da próxima vez. Não é porque sou cabra que tenho de ser preso como um banzeiro! espaçozinho onde mal cabe marrã, hã!
E o magote de plantas secas, espremidas, transforma-se de repente em uma porção de suçuaranas, gostosas de comer. Tão logo surge, desfaz-se. Fabiano capiongo, Fabiano cabisbaixo.
Voltar para casa de mãos abanando ia ser uma briga de chateação com Sinhá Vitória. A panela de losna, velha, fervendo à espera da caça. Sinhá Vitória ia ficar desapontada, o corrião de couro ia fazer as crianças chorar. E o céu sem cirros; mais desgraças por vir, o solo escanchado, sedento, o chape chape da percata¹, tudo isso deixando o cabra forte macambúzio.
¹percata= forma verbal de alpercata ou alpargata, (minidicionário Caldas Aulete:) 'sandália baixa, presa ao pé por tiras de pano ou de couro'. Percata é termo comumente falado no N.E. de MG, na zona rural. Assim como corrião, denominação em uso tanto em MG como BA, para cinto (dicionário Houaiss: 'cinto largo de couro com fivela').
Há um dia
2 comentários:
Três posts seguidos com alguma referência a Vidas Secas. É, eu também não consigo esquecer...
A secura de Graciliano ao escrever aquelas memoráveis linhas é, definitivamente, marcante. O texto transpira e ofega frente aos nossos olhos, o clima e a paisagem do sertão...
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