tag:blogger.com,1999:blog-1347052608110052622024-02-07T00:19:24.683-03:00҉ Interesses e afinsEm minha humilde opinião, a não-cooperação com o mal é um dever tão importante como o é a cooperação com o bem - GandhiFernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.comBlogger514125tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-7272545827558582842015-05-27T01:08:00.000-03:002015-05-27T01:11:41.135-03:00Um abraço, professor<div style="text-align: justify;">
Um abraço: tudo de que eu precisava em certos momentos da minha vida. Sonhei que iria matá-lo, chamei-o de cínico, ralhei, mas... no fim do ano ele me abraçou. Na verdade mesmo, meu pesadelo foi muito pior: eu já havia consumado o crime e estava foragido, fugindo de todos, cerceado por minha própria sombra. Despertei perspirando. Foi o raiar de que algo não estava bem em mim. Mas, no fim do ano, ele me abraçou, e seu abraço me curou. Obrigado, cara. Você me permitiu que eu perdoasse a mim mesmo.</div>
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<br /></div>
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Você é um dos motivos mais fortes por que eu sigo fazendo o que eu faço, com a mesma verdade, força e intensidade do teu abraço. Eu abraço o que eu faço, e faço do que eu faço o meu abraço.</div>
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<br /></div>
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Se é fácil fazer o que eu faço? Tão fácil quanto perdoar quem nos ofendeu e a quem ofendemos, com o gesto simples e sem som de um abraço. A força sutil na inocência suave de um abraço, capaz de fazer esquecer ofensas passadas, pesadas, que, repensadas... mostram-se insensatas, insensíveis, insignificantes, na força de um abraço. O passar dos dias assenta em meu seco coração a certeza de que ser professor mede-se mais e além do que a força de dois eSSes.</div>
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<br /></div>
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Mede-se na sabedoria somente mensurável aos que souberam sofrer e, mesmo assim, ser professor sempre, até nos piores dias.</div>
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<br /></div>
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Pois um singelo abraço pode cindir toda nossa concepção sobre o que é ser professor, em tempos difíceis e de provações, privações.</div>
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<br /></div>
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Sua sensibilidade valeu mais que todo o meu salário.</div>
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<br /></div>
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Esta noite dormirei em paz. Você ganhou um amigo - e eu, serenidade. Eu ganhei um abraço, e você: minha amizade, mais sincera.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E se amanhã tudo mudar? Eu diria que a sabedoria de um abraço sincero não muda com o passar dos dias, e esse abraço sincero, em nosso coração, jamais se esfria. O que sentimos permanece, apesar de tudo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Abraço nota dez? Abraço não tem nota, mas todo abraço, desde que sincero, é digno de nota. Mais: abraço sincero não tem preço, só apreço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sou eu que agradeço.</div>
Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-83538222138217498472014-11-21T14:50:00.000-02:002014-11-21T15:00:03.698-02:00Vale a pena doarSou doador desde os 18 anos. Parei por um tempo, mas voltei, e gostaria de incentivar quem me lê a fazer o mesmo. O restante já falei no vídeo...<br />
<br />
Se vocês acessarem <a href="http://www.prosangue.sp.gov.br/home/Default.aspx">a página</a> da Fundação Pró-Sangue, verão que o estoque está em nível crítico para os tipos O+, O-, A- e B-. Quem sabe, com ampla divulgação, esta situação não mude um pouco? Aliás, não é só de água que São Paulo está precisando, não é mesmo? <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dwK79ZvUlL6yzRKKb_Wf9GXB719nonChX7qJO9KqV7qTRaIKPuycL4f4y5Tj6sJRKCzl-CWbuq24CbBq6F9XQ' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
P.S.: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=2Y4FCZhugLc">link original youtube</a><br />
P.S.2.: <a href="http://www.doe1minuto.com.br/home?v=162">link #doe1minuto</a><a href="https://www.blogger.com/null"> </a><br />
<br />
Abraços!<br />
<br />Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-28269756539305312222014-10-06T17:07:00.001-03:002014-10-06T17:07:36.645-03:00DemocraciaA democracia é complicada. Tenho que aceitar que pessoas que respeito e estimo votam exatamente naquele(s) político(s) que desrespeitam e subestimam o trabalho, a profissão e a carreira que escolhi. Esses mesmos que nada de concreto fazem a favor da instituição em que estudei e que me formou não só em uma área do conhecimento, mas me preparou para a vida. Minha alma mater, que me nutriu para a vida e em relação aos meus princípios.<br />
<br />
O voto realmente deve ser secreto e sigiloso. É melhor, para mim, não saber. A democracia põe esta dificuldade: é realmente difícil respeitar a escolha alheia. Portanto, se a escolha alheia não for conhecida, torna-se mais fácil a convivência pacífica no dia a dia. De que adianta bater boca sobre quem nos governa? De nada, até onde sei.<br />
<br />
1 minuto de silêncio vale imensamente mais que 10 minutos de intensa discussão por...<br />
<br />
<b>Nada</b>.Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-89355153019221772662013-04-26T23:08:00.002-03:002013-04-26T23:08:44.945-03:00Um provérbio<div style="text-align: justify;">
Esses dias li no jornal (sim, estou vivo) uma frase latina, acompanhada da tradução:</div>
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<br /></div>
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<i>Nulla dies sine linea</i>. Nenhum dia sem uma linha.</div>
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<br /></div>
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Ou: nenhum dia sem que se escreva uma linha. Ou ainda: nenhum dia sem escrever uma linha.</div>
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<br /></div>
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Achei-a muito aplicável a mim. Nunca mais escrevi poemas, ou mesmo prosa. Pego no lápis, vejo o papel à minha frente: nada sai. Nada de bom, ao menos. Nada que <i>eu</i> julgue bom para mostrar a vocês.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando veio o bloqueio, de fato pensei que eu iria morrer. O que é um artista sem sua arte? Ou melhor: o que é um <i>suposto</i> artista sem aquilo que ele <i>acreditava</i> ser sua arte? Mais que a nutrição para o corpo fornecida pelo pão, cada poema que eu terminava de escrever parecia acrescentar um ano a mais em minha vida. Parecia cultivar algo dentro de mim, uma horta verde e regada, exuberante mesmo.</div>
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<br /></div>
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Mais eis que sobrevivo, sem o que antes me era necessário para viver. Sobrevivo. Será que vivo?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigado a todos vocês que me visitam. Tudo o que está no blogue é de fato meu, prosa ou verso. Às vezes até <i>eu</i> me surpreendo, porque acho uma ou outra estrofe realmente memorável. Sou extremamente crítico com o que escrevo. Num poema inteiro, às vezes colho uma estrofezinha do meu interesse, que passa à prova dos dias, dos meses... dos anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fico feliz por não ter deletado meu blogue, embora eu nunca tenha cogitado em fazê-lo. Sinto que uma ou outra coisa aqui registrada ainda vale a pena. Para mim, pelo menos. Chego à conclusão que a vida nos muda demais. Demais.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigado a vocês. Digo de coração. É só de coração que consigo ser professor, poeta, tradutor. Sem amor, não sou bosta nenhuma. Desculpem meu palavreado. Perto da USP tem um muro pichado assim:</div>
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<br /></div>
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<b>Apatia tem cura</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa é uma das melhores frases que li em anos.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aproveitando que nosso poeta Leminsky voltou à moda com o lançamento, pela Cia. das Letras, de suas poesias completas, recomendo o vídeo que se encontra no seguinte link, em que Leminsky conversa sobre o grafite. Genial. Ge-ni-al.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
http://www.youtube.com/watch?v=cXdKmKUcXAk</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um abraço forte a todos vocês, meus queridos e minhas queridas.</div>
Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-18940244269116742312012-06-04T22:07:00.001-03:002012-06-04T22:07:14.195-03:00Clama<div style="text-align: center;">
Nada como a cama</div>
<div style="text-align: center;">
Quando ela me chama</div>
<div style="text-align: center;">
... </div>
<div style="text-align: center;">
Ela quem?</div>
<div style="text-align: center;">
A cama</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Claro.</div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-5105332390422773982012-06-03T02:25:00.000-03:002012-06-03T02:25:33.788-03:00Passadiço (passado isso...)<div style="text-align: center;">
Pus meu pé no teu sapato</div>
<div style="text-align: center;">
Na sola macia e suave</div>
<div style="text-align: center;">
Na mão que segura a chave</div>
<div style="text-align: center;">
Pus minha mão e meu tato</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Na boca, outrora um mistério,</div>
<div style="text-align: center;">
Senti teu sorriso quente</div>
<div style="text-align: center;">
Soube o futuro da gente</div>
<div style="text-align: center;">
Não quis nunca mais ser sério</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Quando hoje me olhei no espelho</div>
<div style="text-align: center;">
Não me vi jovem, mas vivo</div>
<div style="text-align: center;">
Li o nostálgico livro</div>
<div style="text-align: center;">
O elixir dum homem velho</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
s.d. </div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-67019199672518975112011-10-13T15:43:00.002-03:002011-10-13T15:49:11.438-03:00Grão-passarinho<div style="text-align: center;">Piou, piou e morreu<br />Penas marrons, pintas pretas<br />Perguntou quem era eu<br />Sou a escuridão da greta<br /><br />Sou o inominável mal<br />Sou um néscio sem igual<br />O buraco fundo em cal<br />Ser humano e animal<br /><br />Sou sem me reconhecer<br />Cada dia nulo<br />Cada noite engulo<br />Meu incognoscível ser<br /><br />Piou, piou e morreu<br />Perguntou quem serei eu<br />Ah! Se eu pudesse piar<br />Saberia lhe salvar<br /><br />Mas não posso e estou vivo<br />Vendo-o morrer em mias mãos<br />Eu, ignorante e cativo<br />Um fratricida entre irmãos<br /><br />Quereria lhe ajudar<br />Causei, porém, tua morte<br />Vossos olhos feito mar<br />Sob a sombra da mia sorte<br /><br />Perdão, meu grão-passarinho<br />Chorei quanto pude a ti<br />Pois quis lhe dar outro ninho<br />E assim seu passar sofri<br /><br />Reverbero vãs palavras<br />Sondando meu sofrimento<br />Perdido em trevas ignavas<br />É o pó meu alimento.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-67811578873096962992011-08-26T00:06:00.003-03:002011-08-26T00:20:23.952-03:00Comunidade Armênia de SP<div style="text-align: left;">Quase dois meses sem postar nada, não por falta de tempo, mas por um ressecamento da criatividade. Espero que seja passageiro, mas talvez não o seja e eu estou preparado (ou ao menos preparando-me o máximo possível) para isso.
<br />
<br />Faz um mês que venho buscando descendentes armênios que morem em São Paulo - capital, devido ao meu projeto de Iniciação Científica da faculdade de Letras, no qual venho empenhado desde março/11. Já entrevistei 0ito pessoas, o que já é em si um sucesso, para um curto período de um mês, descontados fins de semana.
<br />
<br />Quem conhecer descendentes armênios que morem na capital de SP, ou se por ventura houver algum descendente armênio que leia essas páginas, por favor entre em contato comigo:
<br />
<br />fejapimenta@gmail.com
<br />
<br />Meu trabalho é idôneo, de caráter e rigor acadêmicos. Sou orientado pela excelentíssima profª Dra. Deize Crespim Pereira, que leciona todos os módulos das matérias de Cultura e Literatura Armênias, no Departamento de Línguas Orientais da USP (Universidade de São Paulo). Eu respondo os e-mails no mesmo dia, ou no máximo no dia seguinte.
<br />
<br />Ah! Como se identifica um descendente armênio? Pelo sobrenome terminado em -IAN. Ou se ele for seu amigo e te disser, claro.
<br />
<br />Obrigado e um grande abraço a todos.
<br />
<br />Fernando
<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-67065932674924734202011-07-06T10:47:00.003-03:002011-07-06T10:54:12.711-03:00Despetalada Rosa<div style="text-align: center;">Minha nítida memória<br />Não retorna à minha infância<br />Não me traz a paz tão glória<br />De estreitar essa distância<br /><br />Minha límpida memória<br />De todo o mal cometido<br />Não me esclarece a história<br />Dalgum bem ali contido<br /><br />Não sou Proust, não recordo<br />Dos mais mínimos detalhes<br />Da idade em qu'eu acordo<br />E perdoo todos males<br /><br />Não sou Jung, não sou gênio<br />Não me relembro hoje adulto<br />Cena por cena o proscênio<br />Quando o cérebro era inculto<br /><br />Há em mim uma semente<br />Plantada entre pedras duras<br />Teimosa e resiliente<br />Erguida em negras agruras<br /><br />Foi um milagre irrompido<br />Um sussurro no silêncio<br />Da Terra em guerra um gemido<br />Seca lágrima no lenço<br /><br />O sorriso ofuscante<br />Dentre as trevas da tristeza<br />Rebrilhava o diamante<br />Uma prece ao céu acesa<br /><br />Clareou-se a mente, a noite<br />Luziu-se inteira em clarão<br />A lua, em forma de foice,<br />Projetou-se alva no chão<br /><br />A memória veio ao homem<br />Lúcida, clara, divina<br />E se os outros seres somem<br />Ela ainda os ilumina<br /><br />Esquecer o mal passado<br />É negar o maior dom<br />Apartar-se do cuidado<br />De dizer o mau do bom<br /><br />É negar-se ser humano<br />A via mais dolorosa<br />De eleger-se o vil tirano<br />E pisotear a rosa.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-56910271424758460252011-07-05T15:20:00.004-03:002011-07-05T15:38:50.101-03:00Ínvio Mar<div style="text-align: center;">Aceitar sua própria morte<br />Quem sequer a aceitou<br />Ver-se fraco, fora forte<br />Sua força fraquejou<br /><br />Dolorosa nostalgia<br />Ver a luz se amaciando<br />Ao olho o que antes não via<br />Sem saber jamais o quando<br /><br />Hoje lampeja e fulmina<br />A pálida e fosca luz<br />Nesta funda e escura mina<br />Onde o sol não mais reluz<br /><br />Nos calabouços da alma<br />Na masmorra agonizante<br />Nada se agita ou se acalma<br />Ouço eu um só mesmo instante<br /><br />Minha trilha ao Minotauro<br />Nesta senda apavorida<br />Reconstruo e restauro<br />Passo a passo minha vida<br /><br />Não fosse este tênue fio<br />Fino, feio, quebradiço<br />Esticado no vazio<br />Deste meu real feitiço<br /><br />Esta linha tão-só minha<br />Retilínea, tensa, inerte<br />Com meus bravos pés caminho<br />Quem sabe eu um dia acerte<br /><br />Há saída ao labirinto?<br />... ou dá voltas sobre si...<br />Mas só eu sei o que eu sinto<br />E o que eu jamais senti<br /><br />No infinito desafio<br />Posto à prova pelo fio<br />Pois não foi senão aqui<br />Onde o cérbero ladriu<br /><br />Dédalo pranteia ainda<br />A vã queda do anjo alado<br />É a dor do pai infinda<br />Ver o filho morto ao lado<br /><br />Custou caro a aventura<br />Da prisão se libertar<br />Foi sua ideia madura<br />Afogada no ínvio mar.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-28910976377795765952011-05-19T17:59:00.002-03:002011-05-19T18:13:50.101-03:00Fútil Fardo<div style="text-align: center;">No derradeiro momento<br />Na hora final. Adeus<br />Neste assento em que me sento<br />Eu morri por erros meus<br /><br />Minha certeza almejada<br />Minha ilusão construída<br />Ruiu a minha morada<br />Destruiu a minha ermida<br /><br />Confiei no corpo, inércia<br />De estar bem até o além<br />De por muitas peripécias<br />Encontrar-me eu lá também<br />Tornar-me um herói da Grécia<br />Enganar... não sei a quem<br /><br />Fiei-me no acaso, o prazo<br />De chofre expirou, se foi<br />Veio talvez com atraso<br />E eu pereci como um boi<br /><br />Não fosse esse sol nascente<br />A me dizer: ei, acorda!<br />Pondo-me aos olhos a lente<br />Ver em meu pescoço a corda<br /><br />A corda da morte aqui<br />Enlaçada firme e forte<br />Por fim eu a vi, a vi<br />A vida rumo a um norte<br /><br />Tortuosos bairros, ruas<br />A noite escurece o olhar<br />Dia a dia a alma nua<br />Não consegue se mirar<br /><br />Se o corpo rege a mente<br />O tirano toma o trono<br />A descrente mente mente<br />É o meu mundo sem dono<br /><br />Barreiras intransponíveis<br />Pedras, cacos e destroços<br />Desce-se ao inferno em níveis<br />Já não posso... eu não posso<br /><br />Talvez possa e quem dirá<br />O contrário, a negação<br />Desse sonho acolá<br />Antevendo a salvação<br /><br />Morrer de uma vez pra sempre<br />Sorrindo por dentro ainda<br />Sem vergonha que me lembre<br />A terrível vida infinda<br /><br />Semivida dum zumbi<br />Semimorto, semivivo<br />Em seu receio de si<br />Sem poder dizer: eu vivo.<br /><br />Desacorrentado enfim<br />Não nos outros, mas na vida<br />Não em sonho, mas em mim<br />Minha terra prometida<br /><br />Ancorar na tempestade<br />Na luta épica da alma<br />Coroar-me majestade<br />No deserto que desalma<br /><br />A futilidade orgânica<br />Duma vida sem sentido<br />O pó, a cinza vulcânica<br />Dum nobre vulcão extinto<br /><br />Cospiu feroz - e morreu<br />Tossiu, engasgou-se em si<br />Embevecido no eu<br />Múltiplo, vário, saci<br /><br />O perneta traiçoeiro<br />O curupira nostálgico<br />Meteu o pé no bueiro<br />Perdeu a noção do mágico<br /><br />Não escondido ou obtuso<br />Mas real, escancarado<br />Ai de mim quando eu acuso<br />Ser a vida eterno fardo.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-86883790524899683702011-05-05T11:10:00.005-03:002011-05-19T18:18:03.630-03:00Luziluzem Luzes<div style="text-align: center;">Labutei dias a fio<br />Foi sorrindo, foi suando<br />E no fim um elogio<br />Transmudou tudo em brando<br /><br />Eu emagreci, sofri<br />Sem sequer saber por quê<br />E no fundo quem eu vi?<br />O reflexo de você<br /><br />Objeto ou pessoa?<br />Era imagem ou miragem?<br />Ou uma súplica boa<br />Que os anjos me encorajem<br /><br />A olhar valente a frente<br />Estendida horizontal<br />Não tornar-me um descrente<br />Na crua cela de cal<br /><br />E talvez me ver no espelho<br />Duplicado em você<br />Com a morte me aconselho<br />Onde a sombra não se vê<br /><br />Minha luz fraca e opaca<br />Pouco ilumina o semblante<br />Paira hesitante e estaca<br />De esperança radiante<br /><br />Quem o resgata em naufrágio?<br />Meu espírito escravo<br />Um sussurro embora frágil<br />Resiliente... e bravo!<br /><br />Ora! Não vá agora embora<br />Hoje não fuja de mim<br />Só vim à esta má hora<br />Tirar-te o não, dar-te o sim!<br /><br />Não pergunto qual o prêmio<br />Se é nobre a iniciativa<br />Pois bêbado ou abstêmio<br />Trago mia mente cativa<br /><br />Meditar a dor, compor<br />Um espectro reluzente<br />O hipócrita em horror<br />Jamais soube o que a alma sente<br /><br />Se fraqueio ou cambaleio<br />O passo ébrio e desregrado<br />E o fogo em mim ateio<br />Faço tudo de bom grado<br /><br />Já me desfaço em pedaços<br />Tal qual eu nasci e sou<br />A verdade qu'eu rechaço<br />Ela mesma me matou<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-16478317794077677982011-04-29T18:36:00.002-03:002011-04-29T18:46:44.999-03:00Sonho<div style="text-align: center;">Sóbrio e róseo céu lilás<br />Partido em luz e negrume<br />Novas que só você traz<br />Embora eu não me acostume<br /><br />O estertor do respirar<br />Corta o fogo, a comoção<br />Um trator a ronronar<br />Vejo a morte de Abraão<br /><br />A última hora: o agora<br />Foi o perdão postergado<br />Eis a criança que chora<br />E afoga o fogo do afago<br /><br />Nao há possível consolo<br />Perdeu o colo o calor<br />Reduziu-se o riso a tolo<br />Por prantear tanta dor<br /><br />Infante, o que é a morte?<br />A vida, o amor, o amanhã...<br />Sul, oeste, leste, norte<br />Pálida face louçã<br /><br />Pagou e apagou-se a vida<br />Moinho d'águas passadas<br />A vã prece à paz erguida<br />Chega a guerra à nossa estrada<br /><br />Não enxergamos quem chega<br />Passos pesados e firmes<br />No pão se passa a manteiga<br />Não suspeitando de crimes<br /><br />Quem se aproxima de cima?<br />E vem do alto olhando abaixo...<br />Tantas vozes, graves, finas<br />E na greta eu me agacho<br /><br />As risadas como estrondos<br />Estalam as tábuas velhas<br />Treme as paredes o gongo<br />Toda a casa se destelha<br /><br />Cessam os ruídos - gritos<br />Tomam logo seu lugar<br />Inflama-se o cor aflito<br />A alma a lacrimejar<br /><br />Ouço o clamor da chacina<br />Desnorteado emudeço<br />A mente não mais atina<br />O meu corpo fez-se em gesso<br /><br />Avanço às cegas no escuro<br />Tudo imagino e cogito<br />Ao rastejar no chão duro<br />Gélido como granito<br /><br />As pálpebras entreabro<br />Não foi nada, foi um sonho<br />Sob a luz do candelabro<br />Me entristeço e me envergonho...<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-72539698066971656312011-04-28T19:36:00.004-03:002011-05-19T18:21:40.885-03:00Raptada Empatia<div style="text-align: center;">Austera sombra silvana<br />Ambivalente suástica<br />O meu espírito emana<br />Da insana Via Láctea<br /><br />Percorrida madrugada<br />Só querendo um sinal Vosso<br />Minha cama arrumada<br />E sequer dormir eu posso<br /><br />Quereria eu afirmar<br />Hoje o dia não me agrada<br />Sinto falta de um mar<br />Mas... desculpa esfarrapada<br /><br />Quentes pés na areia fria<br />Solidão e completude<br />A luzidia abadia<br />No campo inóspito e rude<br /><br />A penitência era a lei<br />E por nós era seguida<br />Mas já pouco agora eu sei<br />Da sagrada e ida ermida<br /><br />Pelos vícios volteei<br />Rebuscando uma virtude<br />Ser meu vitalício rei<br />Tão embora a vida mude<br /><br />Aos céus alcei os meus sonhos<br />Mal meus pés roçando o chão<br />Os outros, tão enfadonhos<br />Eu gigante, o mundo anão<br /><br />De antemão não saberia<br />Todos próximos pesares<br />A catástrofe do dia<br />Ares nada salutares<br /><br />O enforcamento da alma<br />No patético patíbulo<br />A morte cruel e calma<br />Deste índio desgarrido<br /><br />Ó, Sol, teus raios não bastam<br />Para alumiar-me a face<br />Por ter crido n'algo casto<br />Antes o algo me matasse<br /><br />Mas morrer sem direções<br />Pasmo, inerte, vegetal<br />Dado à boca dos leões<br />Eis o mais supremo mal<br /><br />Ter crido no colorido<br />Avesso ao vão preto e branco<br />Para achar-me aqui tolhido<br />Cego, surdo, mudo e manco<br /><br />Estupraram meu orgulho<br />Restou-me este roto corpo<br />Na raiva e no ódio eu mergulho<br />Em meu panorama morto<br /><br />A perspectiva infértil<br />Ladra uivosa do meu âmago<br />Já alojou-se o projétil<br />Tornando o vivaz em lânguido<br /><br />Foram-se as minhas proezas<br />Exaltadas, aclamadas<br />Minha voz, refém e presa<br />Corre interminável escada<br /><br />Fraqueja o brilho celeste<br />Minha alma gela e inverna<br />Não foste tu quem disseste...<br />Ser a vida chama eterna?<br /><br />Pois a luz ensombreou-se<br />Mutilou-se a mão da tocha<br />E verteu-se amaro o doce<br />Do coração feito em rocha.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-68738995291585920332011-04-21T13:58:00.005-03:002011-04-28T19:51:29.100-03:00O Verbo d'O Pai<div style="text-align: center;">Pai, que foi que tu dissestes?<br />Taciturno, saturnino<br />Quando despi tuas vestes<br />Roupas tuas de menino<br /><br />Pai, tu trabalhaste tanto<br />Extraíste o teu gozo<br />Teu feitiço, teu encanto<br />Teu trabalho laboroso<br /><br />Tutear-te agora é bom<br />Reavivado recordo<br />Tua voz e o teu som<br />Quando estávamos a bordo<br /><br />Desferindo a mesma terra<br />Esplainada pelo sol<br />E ninguém, pois, exagera<br />O poder do arrebol<br /><br />No sertão caía a noite<br />O negrume estelar<br />Só eu sei o quanto dói-te<br />Separar-te do teu lar<br /><br />A dicotomia urbana<br />Esta nunca nos fez bem<br />Já cortar com força a cana<br />Eis a paz que nos contém<br /><br />Eis a luz que não reduz<br />A bravura e o vigor<br />Nosso angu e o cuscuz<br />Para o suor repor<br /><br />Acordar co'a corda toda<br />Pôr a bota, a calça jeans<br />Nossa mão desperta doida<br />Lavourar é bom assim<br /><br />A camisa cobre os braços<br />O chapéu sobre a cabeça<br />Para trás o torpor lasso<br />Cuida co'a vaca travessa!<br /><br />Leite e aveia, pança cheia<br />Café, água, pão, manteiga<br />Borbulha o sange na veia<br />Quão belo café, mia nega<br /><br />Pôr o berrante a berrar<br />No topo do cupinzeiro<br />Seu ruído rasga o ar<br />Meu sorriso sai matreiro<br /><br />Os pés nus entre as formigas<br />Em defesa de seu lar<br />As picadas mais amigas<br />Que se pode esperar<br /><br />Mirando o arcano horizonte<br />Vastidão extraterrena<br />Animo a quem quer qu'eu conte<br />Ser o sertão mia Viena<br /><br />A terra é pequena, plena<br />Nada vale a quem mente<br />Cravejar na alma esta cena<br />E retê-la eternamente<br /><br />Faz dum ateu homem crente<br />Vislumbrar este luar<br />Gente que vive entre a gente<br />O anacoreta tornar<br /><br />Dizer demais diminui<br />Enfraquece o imaginar<br />E passa uma impressão ruim<br />A rei, sultão e czar<br /><br />Calar-se então é melhor<br />Já dizia isso o Pai<br />E sempre saber de cor<br />Aonde é que alma vai<br /><br />Se te escapa ou te acompanha<br />Isso faz-te cego ou sábio<br />Se é brio ou mera manha<br />O Verbo a sair-te ao lábio.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-29172362486904405072011-04-18T09:47:00.002-03:002011-04-18T09:54:11.729-03:00Beirada<div style="text-align: center;">Todos dedos deformados<br />Num pé preto de sujeira<br />Pela dor, pelos calçados<br />Pela à vida à margem, à beira<br /><br />Vida beirando a beira dos beirais<br />A existência suspeita<br />Só, suspensa, sussurrada<br />Psiu! E se for cilada...<br /><br />Viadutos, minhocões<br />Pulsa em roda a vida alheia<br />Lendo em rostos bonachões<br />Sã saúde duma ceia<br /><br />Qual foi a última vez...<br />Sobre a mesa a sobremesa<br />Um cumprimento cortês<br />Sem a sobrancelha tesa<br /><br />Qual foi o dia benquisto<br />Amado, bem recordado<br />Sem ser pego para Cristo<br />Sem a exclusão ao lado<br /><br />Quando foi a ida infância<br />Se sequer a possuiu<br />Pacífica vida mansa<br />Noites inteiras sem frio<br /><br />O último olhar carinhoso<br />Apertado abraço humano<br />Última instância do gozo<br />O amor em primeiro plano<br /><br />A insânia se aproxima<br />Consciência desintegra<br />O azul céu soberbo acima<br />E abaixo a alma em quebra<br /><br />A mole mão esmoler<br />Tresandando forte cheiro<br />Não é homem nem mulher<br />Súplica ao ouro faceiro<br /><br />Oiro, prata, cobre esnobe<br />Estendido ao pavimento<br />Prece ao firmamento sobe<br />Do chão sórdido, cruento<br /><br />Pois eu passo e peço apenas<br />Ao longínquo Pai Noel<br />Galgue rápido as renas<br />Traga o prato mais pitéu.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-91262537288527415872011-04-17T00:10:00.001-03:002011-04-17T00:10:35.193-03:00O Ódio<div style="text-align: center;">Ai, o ódio me rodeia<br />Grande roda a girar<br />Uma agulha em minha veia<br />Latrocínio em meu lar<br /><br />Ai, o ódio me permeia<br />E range a serra da raiva<br />Arrendei minh'alma à meia<br />Sem que a outra parte o saiba<br /><br />Grito surdo me esfaqueia<br />O tudo entorna-se em nada<br />Meu amor prendeu-se à teia<br />Da aranha alucinada<br /><br />Ai, qual lado em mim odeia<br />Esvozeia e vocifera<br />Desfaz meu paço de areia<br />Prenhe e pútrida pantera<br /><br />Ai, inveja, angústia e lágrimas<br />Resvalando-se mesquinhas<br />Vingam-se, anulam-se máximas<br />Quisera eu não serem minhas<br /><br />Que posso eu fazer, dormir?<br />Esquecer, lutar, amar?<br />Ver do apogeu ao nadir<br />Ébrias vagas deste mar...<br /><br />Potentes como o tsunami<br />Tudo arrastam insensatas<br />Deitaram-me no tatame<br />Seu peso sufoca e mata<br /><br />Reerguer-me renovado<br />Talvez seja a solução<br />Sem virtudes, sem pecados<br />Sorridente e folgazão<br /><br />Mas e quanto a meu passado<br />Violento e malquerido<br />Sigo sempre endividado<br />Meu remorso cá comigo<br /><br />Atar-te eu quero à correia<br />Pôr-te o cabresto e o punhal<br />Ódio, que ao amor cerceia<br />Germe do azedo mal<br /><br />Judas, na última ceia<br />Cínico, ri e sorri<br />Cospe, escarra e escarneia<br />Fez tamanho mal a Ti<br /><br />Não sei se isso aconteceu<br />Vejo nisso a alegoria<br />Diferir o Tu do Eu<br />E a luz que a nós alumia.</div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-73123839224375356512011-04-16T23:31:00.003-03:002011-04-16T23:40:24.188-03:00Tchau Tristes Dias<div style="text-align: center;">Ah! dores da diarreia!<br />Quase vós me destruístes<br />Me influindo ideias tristes<br />Como o rosto de Medeia<br /><br />Sentir-me um animal roto<br />Sentado sobre o mau cheiro<br />Tresandando a podre esgoto<br />Fétido de vil bueiro<br /><br />Horas prostrado no vaso<br />Co'a face rente ao chão<br />Já não era brincalhão<br />Mal-amado pelo acaso<br /><br />E pensar sempre no ocaso<br />Nessa morte ignomínia<br />Afogado em poço raso<br />Desta pútrida vã sina<br /><br />Ah! Penitente é quem sente<br />A vida escoar em berros<br />Extraídos como a ferros<br />Na marrom e preta enchente<br /><br />A matéria nauseabunda<br />Vai jorrando miserável<br />A verborreia da bunda<br />Vai rápida como um sável<br /><br />Mas não é o mar que singra<br />Em um ar auspicioso<br />É o meu corpo que sangra<br />Esse líquido asqueroso<br /><br />Ai, convolutas da vida<br />Luta contra a voraz fera<br />Devoradora quimera<br />Das digestões espremidas<br /><br />E venço, afinal! É lindo<br />Ver um novo sol sorrindo<br />Esperanças renovadas<br />Dentre airosas cachimbadas<br /><br />Sem correr mais ao banheiro<br />Branca face, pé ligeiro<br />Rio e gozo do passado<br />Gargalho maravilhado<br /><br />Bau bau, desditosos dias<br />Sopa de arroz e batata<br />Sem sal, refeição ingrata<br />Quando acre eu me desfazia<br /><br />Alegre e festeiro eu canto<br />Ter-me desfeito do encanto<br />Que mia alegria roubava<br />Fazendo a vontade escrava<br /><br />Um viva à saúde! um viva!<br />Longa vida ao coração<br />Pois hoje transborda em vida<br />São, airoso e bonachão!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">***</span><br /><br /><div style="text-align: left;">Que for ler ou já tiver lido Bernardo Guimarães, entenderá este meu poema. E rirá comigo!<br /></div></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-76651488352947027452011-04-08T11:26:00.005-03:002011-04-08T11:43:45.711-03:00Apocalipse<div style="text-align: center;">Já meus joelhos gelados<br />Rejeitam o teu calor<br />Jazem juntos lado a lado<br />Enrijecidos, sem cor<br /><br />Descoroçoado, eu<br />Inicio a noite só<br />Acabrunhado no breu<br />Assimilado ao pó<br /><br />Sento e sinto o som silente<br />Da chuva ciscando o solo<br />É a paz do sono à mente<br />E a cruz da calma em meu colo<br /><br />Me belisco a ver se é sonho<br />O obelisco mais medonho<br />Sóbrio ergueu-se sobre a prece<br />Sua sombra sempre cresce<br /><br />E se prostra à minha face<br />Nem se eu lhe suplicasse<br />Pararia a travessia<br />Do ermo gélido ao dia<br /><br />Assombrosa transição<br />Do amplo universo à terra<br />E os homens, que farão?<br />Ao destino que os desterra<br /><br />Rompe o mar, o chão, a serra<br />Inaudita explosão<br />O humano jamais erra<br />E os homens, chorarão?<br /><br />Mas a paz desfaz o pranto<br />Faz do sórdido, homem santo<br />Tudo quanto havia antes<br />Esmigalha-se em instantes<br /><br />Ondas, anacondas, bichos<br />Fogem, ferem-se, fatais<br />O efêmero luxo é lixo<br />Matam-se nos matagais<br /><br />Palavras trôpegas, tépidas<br />Ah! Aquecem-nos não mais<br />Das relíquias restam réplicas<br />Vis, inválidas, banais<br /><br />Outro beliscão: desperto<br />A destruição tão perto<br />Fora sonho ou vaticínio?<br />Malsão sabor assassino<br /><br />Dobram os sinos solenes<br />Qual moça ou moço não teme<br />Pesadelos iguais, tais<br />Quais os meus sonhos mortais<br /><br />Tão povoados de gritos<br />Infernais e incisivos<br />Mito do mal dos aflitos<br />Todos morrem e eu vivo<br /><br />De que vale essa vivência<br />Solitária e seca e crespa<br />Nessa ignorância imensa<br />Onde o homem é asno e besta<br /><br />Bateria de andróides<br />Mecânico, maquinal<br />Suas ações debilóides<br />Dignas dum animal<br /><br />Bem ou mal, pois tanto faz<br />Tudo o homem é capaz<br />Mas nada novo o inova<br />Néscio renasce à cova<br /><br />Sábios e sabiás não sabem<br />Tampouco sabemos nós<br />Ocultos na cruz do frade<br />Cobertos no albornoz<br /><br />Escusos perdões, os mesmos<br />Milhões de línguas, as mesmas<br />Mentiras reverberadas<br />Em petas, contos de fadas<br /><br />Acerba usura o condena<br />A tirar do outro à marra<br />O que nunca será seu<br />Sobre o Sol um Deus ateu<br /><br />Amarga ambição o atrela<br />À covardia mais falsa<br />Deixa o vizinho sem calça<br />Inda o põe no cadafalso<br /><br />O patíbulo é justo<br />O juiz sequer tem custo<br />Em pôr-lhe as amarras, garras<br />Férreas, e sobr'ele escarra<br /><br />As leis de sua nação<br />Seu Deus Uno, e por que não?<br />Noções de pátria e traição<br />Civilizado está. Bênção!<br /><br />Ó, pesadelo macabro<br />Azedume do curtume<br />Sobe-me e cala-me a boca<br />Geme mia goela rouca<br /><br />Ruge e ri já arrastada<br />Mia parca voz amurada<br />Em corpos, detritos. Caos<br />O Nada. Minha morada.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-26696664710368573252011-04-01T09:45:00.002-03:002011-04-01T10:20:38.308-03:00A Penas<div style="text-align: center;">Pintassilgo, pintainho<br />Pintarroxo, pinta o céu<br />De mel, de fel, passarinho<br />Põe à página o pincel<br /><br />Meu piar apavorado<br />Por estar sempre apressado<br />O preço da pressa oprime<br />Meu pensar já apoucado<br /><br />Pernoito em profundidades<br />Intransponíveis metades<br />Prestes a perder as penas -<br />Plumas e pôr-me pelado<br /><br />Aplainado, pobre, apático<br />Procuro em mim o viático<br />A pleno voo, pasmado<br />Aprendo a premir o vácuo<br /><br />Em meus poros, palpitando<br />O vazio que me espicaça<br />Ameaça e me aprisiona<br />A morte à sorte é mia dona<br /><br />O ápice, o nada<br />O nado sem água<br />O pico, a praia<br />Aprazem-me não mais.<br /><br />Sequestraram minha paz<br />O rapto o roubo a pilha<br />Meus pertences eu jamais<br />Reaverei, não sou rei.<br /><br />Não mais, já mais, sem mais paz<br />Sem mais pontes aprumadas<br />A pender no horizonte<br /><br />Fontes dos meus principescos<br />Sonhos, hoje pesadelos<br />Apenas perdi eu tudo.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-50730264225840335632011-03-13T17:34:00.003-03:002011-03-13T18:04:28.524-03:00Incêndios (Incendies, Denis Villeneuve, 2010)<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp9Cqcx7l5vpBRHSygl28d6ErJ1sgrBLHnWfzGd_7mGVGETfRFndd-PoJC8kXZZvbxHSf3wQX92z306ORBQ-cz2CY94yZ0wSTalVD_d9nrT8kAs0e_a2a5TlrHoYC7DXyx2UhhyphenhyphenMPMxNg/s1600/INCENDIES.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 278px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp9Cqcx7l5vpBRHSygl28d6ErJ1sgrBLHnWfzGd_7mGVGETfRFndd-PoJC8kXZZvbxHSf3wQX92z306ORBQ-cz2CY94yZ0wSTalVD_d9nrT8kAs0e_a2a5TlrHoYC7DXyx2UhhyphenhyphenMPMxNg/s400/INCENDIES.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5583668671636035170" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">(clique na imagem para ampliá-la)</span><br /><br /></div>Começar um filme ao som de Radiohead não é nada mal, vamos lá. Cenas que provocam, desde o início, indagações, ainda mais com uma trilha sonora empolgante até para quem não é fã de carteirinha da banda. Já faz do limão a limonada. Amarga, por sinal.<br /><br />Filmes que surpreendem, livros que surpreendem, mulheres que surpreendem... (a lista é infinita quanto a que ou quem nos pode surpreender)... apreciamos um bocado todas essas coisas. E eu não sou uma pedra, tampouco uma ilha, como diz a letra da famosa música de Paul Simon & Garfunkel. Completamente entediante, e então profundamente devastador. O filme faz uma transição inacreditável do fastio ao ápice. Um terremoto (isto eu escrevi antes do recente <a href="http://video.l3.fbcdn.net/cfs-l3-snc6/81489/34/1605260179420_2624.mp4?oh=ac31b4d8738221641ba490396dc19636&oe=4D7F9F00&l3s=20110313100648&l3e=20110315101648&lh=0a6cfa5eeaecd6dc12abf">terremoto no Japão</a>, tristes coincidências...) cinematográfico que nos deixa sem chão, eira e beira.<br /><br />Genial retratar um drama humano, genial em sua abordagem no início pouco ambiciosa, subindo uma espiral até o clímax. Lembrou-me vagamente do pouco conhecido filme romeno, <span style="font-weight: bold;">O Entardecer de um Torturador</span> (<span style="font-style: italic;">Dupa-amiaza unui tortionar</span>, Lucian Pintilie, 2001), do qual lembro-me infelizmente o insuficiente. Mas este romeno é um tanto mais modesto em sua amplitude, embora igualmente bombástico em suas dimensões, visto que tange à lástima de ser humano em condições ultimamente desumanas. Quão fortes somos? A que ponto aguentamos pontos e mais pontos de interrogação, os quais, uma vez resolvidos, trazem as mais indesejáveis respostas do mundo - dum desmundo. A canção que rebenta de nosso peito convulsionado e encanta como um mantra o pesadelo sem fim que nos rodeia e apodera, amurados e sós.<br /><br />Ciclos e ciclos de violência intermináveis - ou será que se os pode afinal terminar? De que modo subtrair as perdas de modo que a soma resulte ainda positiva? A bem da verdade, é preciso estar presente, ainda que a alma almeje ausentar-se. É necessário ser o que nascemos para ser, mesmo que a esmo o venhamos a saber. Senão, o que seríamos de nós? Detritos em meio ao mar de areia da vida? Não. Ou antes, sim. Alçamo-nos à altura do que nos nega, para só assim nos afirmarmos integralmente, sem chance de retroceder.<br /><br />E ainda que a canção, nossa mais íntima e única canção, soe absurdamente ridícula e sem sentido aos surdos ouvidos alheios, nem mesmo esse parecer fatalista parará nossa voz, embargada em soluços, mas ainda e sempre nossa, nada mais nada menos. Será possível? Ah, bem mais que possível, bem mais que impossível. Tudo o que é essencialmente nosso - e o que não é? - é tão-somente definido por quem somos e quem queremos ser. Não para as próximas gerações, que muito possivelmente não quererão ou poderão nos compreender, ou que jamais ouvirão nossos nomes, mergulhadas em suas próprias ilusões. Mas para nós mesmos. Em situações limite reportamo-nos a nós mesmos e a ninguém mais. Caso esperemos um ressurgido herói ou Cristo interceder por nossa graça, não veremos herói nem Cristo algum. E nem os viveremos jamais em nossa própria pele, e eis ante nós a mais sólida desgraça.<br /><br />Ter um livre-arbítrio que ninguém nem nada pode nos tirar, conquanto infringido, pisoteado, amordaçado, destroçado. Olhar-se no espelho d'água sujo e abjeto formado no chão pútrido diante de nossos olhos e dizer com firmeza: tentaram, sem o conseguir, tentam, em vão e tentarão com os mesmos resultados anteriores! Minha canção reverberará mais alto que quaisquer alto-falantes que a tentem reprimir e ador de muitos ou ao menos a muita dor que eu sinto esta canção a irá dirimir. Esta anônima canção sem título e sem nação, e sem notas de rodapé anexas, é autossuficiente em sua infinita dimensão. Escopos apertados a verão como tolice de uma mente insana, mas eis que nela se resguarda justamente o poderoso germe de uma sanidade que a tudo resistiu, impassível de dissolver-se na insânia e maldade reinantes. Impassível de ser anulada a pó, à sombra, a pretérito perfeito, pois que é imperfeito este pretérito e ressoa harmonioso e verídico a quem o quer ouvir.<br /><br />Mas quem quererá auscultar os terríveis batimentos cardíacos coletivos daqueles tenebrosos tempos? Poucos, certamente. Mas são sempre poucos os corajosos, os que não se descoroçoam, e poucos e fiéis são seus seguidores. E a coragem, subjetiva e impessoal como só ela sói-o ser, inexplicavelmente persiste em bravos corações, sem que o tempo a consiga adulterar.<br /><br />Um hino - porque há de ser musical - a todos que resistem morrer por dentro. Aos sempre poucos eles e elas, um hino harmônico, eufônico e eterno.Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-27010229503348052612011-03-12T13:24:00.003-03:002011-03-12T15:01:39.876-03:00Além da Vida (Hereafter, Clint Eastwood, 2010)<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0ljJjK2n0WB-vs9ZOaYI70D9pM6SzcCaBYHbBB4PG8UhaJ-81GXLolSPaI75rs9ipYt8RYaGjg8WsoYmw3J9Nh0ECmz2DWJNgYpUSE4FpnZoSZsMKZepn5MQZ05Wk8faDhtHJA7f4V2M/s1600/hereafter_2010_02.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0ljJjK2n0WB-vs9ZOaYI70D9pM6SzcCaBYHbBB4PG8UhaJ-81GXLolSPaI75rs9ipYt8RYaGjg8WsoYmw3J9Nh0ECmz2DWJNgYpUSE4FpnZoSZsMKZepn5MQZ05Wk8faDhtHJA7f4V2M/s400/hereafter_2010_02.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5583254637889119826" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">(clique na imagem para vê-la no tamanho original)</span><br /><br /></div>Eastwood teve a brilhante ideia de reproduzir a catástrofe ocorrida na Indonésia em 2004: o tétrico tsunami, cujas imagens percorreram os ávidos olhos televisivos e internautas do mundo inteiro. Abrir um filme dessa maneira, convenhamos, prende sem esforço a atenção do espectador.<br /><br />Não bastasse isso, temos o excelente ator Matt Damon em um dos papéis principais, protagonista de filmes da qualidade de <span style="font-weight: bold;">Gênio Indomável</span> (<span style="font-style: italic;">Good Will Hunting</span>, dir. Gus Van Sant, 1997) e <span style="font-weight: bold;">O Talentoso Mr. Ripley</span> (<span style="font-style: italic;">The Talented Mr. Ripley</span>, dir. Anthony Minghella, 1999), numa das performances mais convincentes de sua carreira. Se na maior parte dos filmes nos quais Damon atuou ele se se mostra infalivelmente sorridente e sedutor, aqui ele pouco sorri e se apresenta consternado com um dilema: usar o seu dom (ou seria maldição?) da clarividência, ou tentar levar o que a sociedade denomina uma vida normal.<br /><br />À semelhança de filmes como <span style="font-weight: bold;">Amores Brutos</span> (<span style="font-style: italic;">Amores Perros</span>, Alejandro González Iñárritu, 2000), <span style="font-weight: bold;">Crash - No Limite</span> (<span style="font-style: italic;">Crash</span>, Paul Haggis, 2004) e <span style="font-weight: bold;">Babel</span> (Alejandro González Iñárritu, 2006) , neste último filme dirigido por Eastwood as vidas de distintos personagens se cruzam e nos deixam a indagar: a que ponto nossas vidas inevitavelmente se entrelaçam às de outras pessoas, impactadas da mesma maneira que nós? Aproximamo-nos daqueles que nos podem ajudar de maneira absolutamente acidental? Ou haveria algo místico e mágico tramando invisíveis fios de ouro ao nosso redor?<br /><br />Como o audacioso e às vezes injustiçado filme <span style="font-style: italic;">Babel</span>, <span style="font-style: italic;">Além da Vida</span> propõe uma improvável ("forçada", como já tanto ouvir dizer de Babel?) união entre os protagonistas, uma "globalização", assim por dizer, da relação entre as pessoas, mas desta vez pondo em maior evidência a oposição entre experiências limítrofes à morte e a derradeira opção por seguir vivendo, apesar de tudo, que esses personagens tomam.<br /><br />O amadurecimento desses heróis e heroínas do dia a dia aqui representados se dá de modo doloroso, envolvendo rupturas de laços familiares, afetivos e uma retomada da autoconfiança no curso de suas vidas, após terem sido vítimas da profunda descrença e incompreensão alheias. Aonde quer que vão deparam-se com barreiras, simplesmente por expressarem uma maneira de enxergar o mundo (ou, antes, o além-mundo) alternativo ao estrito escopo de uma sociedade materialista, no pior sentido que esse adjetivo pode abarcar: vive-se uma vida espiritualmente vã, cerceada de necessidades imediatas, e mesmo após desgraças de proporções enormes nos atingirem, poucos são aqueles que se permitem uma reflexão mais adensada sobre quem são e o que, afinal, querem com a presente vida.<br /><br />O filme não faz senão mostrar que os vigaristas e os falsos profetas e gurus roubam a cena desse mundo "esotérico" (tomou uma desproporcional e incrédula conotação pejorativa esta palavra), os primeiros sapientes de sua má fé, estes últimos em autoengano quanto aquilo em que creeem. Turvam esses mágicos ilusionistas as águas de um rio já suficientemente turvo devido aos nossos próprios preconceitos, inculcados desde cedo pela abjeta efemeridade de valores do oco mundinho ocidental no qual vivemos, e que o mundo inteiro já contaminou: há questões deixadas para trás quando dessa nossa busca irrefreável pela satisfação ordinariamente mundana, extraída às pressas de nossas vidas mais que corridas. Há indagações que deixamos de fazer com sinceridade - e com igual sinceridade buscar suas talvez pouco agradáveis respostas -, pelo inescrutável medo de "perdermos nossa credibilidade" e sermos humilhantemente ridicularizados e menoscabados até mesmo pelos mais próximos de nós. Não foi isso que quis Jesus dizer, em <span style="font-weight: bold;">Marcos 6:4</span>, Novo Testamento: <span style="font-style: italic;">Nenhum profeta é tido em pouco senão em sua pátria e entre seus parentes e em sua casa</span>.¹<br /><br />Poucos não serão os espectadores que sairão da sala de cinema com a impressão de ser um filme "meia boca". Imagino-me por quê. Meia boca não seria nossas vidas a nos empurrar ao inevitável fim, escravizados pelo trabalho e acabrestados por uma questionável superficialidade de valores diariamente postulada pela grande mídia? Vivemos cada vez mais, mas paradoxalmente cada vez menos, cada vez pior, à medida que poucos são aqueles entre nós que, rodeados por esse inferno de bestialidades e besteiróis que nos sufocam, conseguem divisar um horizonte mais amplo às suas vidas, que não o mecanicamente financeiro, corriqueiro e ulteriormente ba-nal. Verdadeiramente entrever e atribuir um sentido à própria vida, esquivando-se desse contagioso individualismo ultranarcísico que nos assola, eis o desafio proposto aos poucos (ou seriam muitos?) que o queiram por fim enfrentá-lo. Ora, se a vida nesta abençoada terra é irremediavelmente finita, o que esperamos nós?<br /><br />Transparece no filme esse embate aparentemente tênue, mas em essência visceral, ao que eu agradeço tê-lo visto. Muitos de nós estamos cansados de vermos a velha e gasta fórmula de heróis e vilões holywoodianos, não importa de qual maneira seja readaptada, pois cujo fim já sabemos de cor e salteado. Não me surpreende, portanto, que o mesmo diretor de <span style="font-weight: bold;">Menina de Ouro</span> (<span style="font-style: italic;">Million Dollar Baby</span>, 2004) tenha proposto uma reflexão inquietante e que nos define como seres humanos. Agimos como dignos representantes dessa nossa espécie em desconstrução e decadência frente a uma cultura <span style="font-style: italic;">pop</span> que nada nos responde no que mais nos diz respeito e é mais unicamente nosso? Agimos?<br /><br />Assistam e me contestem.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">***</span><br /></div><br /><span style="font-size:85%;">¹tradução do texto original grego pelo P. Dr. Frei Mateus Hoepers, O.F.M. 9ª edição, editora Vozes Limitada (Petrópolis, RJ, 1973).</span>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-48508100617634856342011-02-08T11:42:00.006-02:002011-03-06T10:16:06.223-03:00Bão dia, São Ão<div style="text-align: center;">Minha peregrinação<br />No deserto do sertão<br />Onde eu conheci São Ão<br />De chinela e tamancão<br /><br />Ele ria e dizia<br />Faz um sol de meio-dia<br />Essa minha travessia<br />É um banho de água fria<br /><br />No meu corpo quase nu<br />Esfolado pelo sol<br />Trago a vaca que fez mu<br />Entoado em si bemol<br /><br />E por pouco a chifrada<br />Nesta pele depenada<br />Não fez um rombão enorme<br />Onde o intestino dorme<br /><br />Eu fiquei foi mais esperto<br />Nunca mais cheguei tão perto<br />Doutros bois de cara preta<br />De espingarda de espoleta<br /><br />Ai, mamãe, que é qu'eu fiz<br />Nesta vida de aprendiz<br />Pra nascer tão infeliz<br />Co'esse rosto bonachão<br /><br />Se fui salvo por um triz<br />Foi porque o fado quis<br />Co'essa linda flor-de-lis<br />Recheada de emoção<br /><br />Respirar o ar do mar<br />Por aqui não consegui<br />Só o belo bem-te-vi<br />Pude ver no céu silvar<br /><br />O pedreiro desta terra<br />Faz do alto sua mansão<br />O joão-de-barro é fera<br />Jamais erra uma mão<br /><br />Pelejei com a enxada<br />Chapéu coco na mia cuca<br />Esse cabo que machuca<br />Grita, berra, urra e brada<br /><br />Capinei, rocei, suei<br />E gritei: E-í E-í e Ei<br />Ô-í ô-í ou, eu vou<br />Procurar em mim o ouro<br /><br />Ouro fino, ouro preto, ouro<br />Branco de joias reais<br />Elas em mim valem mais<br />Que um simples, fixo agouro<br /><br />Predestinado da vida<br />Tão precoce e resumida<br />Por rezas e esconjuros<br />Prisioneiros de seus muros<br /><br />Onde eu conheci São Ão<br />Rima de libertação<br />Forte como a explosão<br />De um vivo e rico Não<br /><br />Não à mão que esmurra e bate<br />Nas bochechas escarlates<br />Dessa moça nova e bela<br />Pra mantê-la sob a sela<br /><br />Não a todas bagatelas<br />Ditas por um Zé Ruela<br />Cuja vida é mentir<br />Com astúcias seduzir<br /><br />Se eu amo a aventura<br />Foi devido à vida dura<br />Adoçada à rapadura<br />Quando a noite vinha escura<br /><br />Foi devido aos meus amigos<br />Os meus cães qu'eu sempre sigo<br />Me livrando do perigo<br />De focar meu próprio umbigo<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-59745040819411536692011-02-04T08:15:00.002-02:002011-02-04T08:24:04.426-02:00Não quer...<div style="text-align: center;">Minha mão na contramão<br />Torto escreve, reto apaga<br />Não é mão de homem são<br />Nem herói de uma saga<br /><br />Quer carícia, mas afaga<br />O papel de cor pastel<br />E a moça de anágua<br />Tão longínqua como o céu<br /><br />Quer as curvas da mulher<br />Mas só acha o caderno<br />Despe, dobra, toca o terno<br />A frieza da colher<br /><br />Quer cabelos anelados<br />Para enrodilhar os dedos<br /> E com toques saciados<br />Relembrar de manhã cedo...<br /><br />Quer o talhe de Iracema<br />Romanesca e rebuscada<br />Sua voz doce e amena<br />Convocando ao tudo ou nada...<br /><br />Quer... apalpar superfícies<br />Planas e heterogêneas<br />Bruscas, lisas e difíceis<br />Como as montanhas do Quênia<br /><br />Quer, bem-me-quer, malmequer<br />Se são flores ou quereres<br />Se são cores ou mulheres<br />Escrever a mão não quer.<br /></div>Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-134705260811005262.post-72017583524820033272011-02-03T10:27:00.001-02:002011-02-03T10:29:51.433-02:00Ato de CidadaniaUm grande amigo meu pediu, a todos que pudessem, ajudá-lo lendo o pequeno post no blogue do grupo dele: <a href="http://www.citizenact.com/en/blogs/terrasavingsaccount/the-power-of-many-to-help-one-thing-our-world#comment-top"><span style="font-size:78%;">LINK</span></a><br /><br />Parece que para o projeto dele ser viabilizado será levada em conta a quantidade de votos (clicando no coraçãozinho abaixo do artigo) e de comentários, preferencialmente comentários que gerem feedback dos autores (fazer uma pergunta é um jeito de gerar feedback...). Já li, votei e comentei.<br /><br />Eu agradeço por ele, já que ele é um grande camarada meu.<br /><br />Muito obrigado!<br />\O/Fernandohttp://www.blogger.com/profile/00061116274330916175noreply@blogger.com0