terça-feira, 30 de setembro de 2008

I see life, or Do I?

The birds are singing
The times are changing
The leaves are clinging
The boughs are hanging


There is a tree
Right above me
The times are changing
oh, I can see...



The dust is lifting
My soul is resting
The rain is pouring
The sun is setting...


And everything, oh...
Everything
Runs smoothly downhill...


Come and shine
Oh, emerald of mine
Come, porcupine
Animals, swine...


Li-fe!


Come life, show your face
In happines or in disgrace
Of hope there's no trace
Only figments in the space


Li-fe!


You know your place
Just show it to me
Present me with grace
I wanna know'n see...

domingo, 28 de setembro de 2008

O Doutor Jivago

Que livro! Exclamei por dentro ao terminar de ler as poesias finais. Que obra-prima da literatura russa e, por que não, universal! Bóris Pasternák é lírico, poético, fluido. É um autor genial.

A começar pelo enredo. Como já diz a palavra, a estória te envolve, te prende, te enreda e enlaça. E tudo que passa em frente aos seus olhos é tão verídico como a vida que se desenrola no seu dia-a-dia.

No entanto, uma sublime diferença: tempos revolucionários, abordados de forma ao mesmo tempo histórica e romanceada - e isto não vem em detrimento do todo, de forma alguma. O romance em nenhuma parte prejudica a estória. Não transfigura criminalidades e viltezas em virtudes e coisas belas, ou mesmo admiráveis.

É um livro libertador e ampliador de horizontes em principal conseqüencia de não se deixar o autor pregar o que é "certo" ou "errado" ao ledor. Não se diz serem os mencheviques ou os bolcheviques os direitos. Não se proclama, também, serem, ora os Vermelhos ou os Brancos, os corretos nesta história toda. O fato é que ambos se embateram ferozmente, sempre, é claro, para a infelicidade de todos que viviam nesses tempos convolutos.

A miséria, a fome, o frio, tudo é abarcado, de forma comovente, emocionante. É de - sem exageros - se derramar em prantos, em determinados momentos. Comigo foi ao final do livro, nas vinte últimas páginas.

Por que, pergunta-se como se por instinto, há tanta violência dirigida de humanos a humanos? Por que a incompreensão é elevada como um mote, e a destruição como a meta ulterior? Pra quê, exatamente, tudo isto? A nível local, regional, global, o que há de errado nisto tudo? Por que as ditas faculdades intelectuais humanas não nos impedem, todavia, de matarmo-nos uns aos outros de maneira tão atroz e horripilante?

Enfim, não sei se é possível, sinceramente, ler-se tudo o que se almeja ler em uma vida. Nâo serei determinista: talvez sim, quiçá não. Pois bem: este eu li. Arrepender-me de alguma leitura passada? Não me arrependo, pois tudo faz parte da formação do leitor. Mas esta deve ser colocada em seu devido altiplano - sua auréola não deverá ser perdida.

O Doutor Jivago é uma história humana de períodos caóticos na Rússia, a começar por volta de 1905 e findar por meados de 1943. Por mais que seja um extenso decurso de tempo, a aura de perfeição emotiva não larga um momento sequer a trama da história que nos é contada. Cada personagem nos é gravado, tal como o cinzel faz sulcos na madeira, como o cimento que é a base do tijolo. No fim, o leitor se descobre virando as páginas, sem, no entanto, se esquecer da história.

O que se dá no interior dos personagens em tempos de crises econômicas, sublevações sociais e lideranças bestiais? Como são influenciados, até que ponto podem repudiar tal sistema criminoso, ceifador de milhões de vidas, muitas das quais nunca contabilizadas?

São incontáveis as reflexões que o livro suscita, seja em seus profundos e marcantes diálogos, seja no descrever a cenografia, completamente cinematográfica. É tudo, ao mesmo tempo e modo, tão óbvio e - num aparente paradoxo - tão enevoado. As matizes e as tonalidades conferem ao romance um ar de pintura neo-expressionista, ou mesmo realista.

Puxa, que livro.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Reacender a Velha Chama

Reverdecer:
Reaprender.
Vale tudo,
Até sofrer.

Quem não aprende,
É ser morto.
É sonho, duende,
Um viver torto.

Mas o aprendizado é imparável.
Não cessa jamais.
É da terra o sal:
O Bem e o Mal.

No início, o aprender
É um ilegível catatau:
Guerra e Paz em russo...

E o artista, no atelier,
Pinta não de todo mau
Mas de repente eu tusso!

Estava a me instruir
Com o quadro recém-pintado,
Quando a tinta e o tingir
Me deixaram intoxicado!

Malgrado seja o intento meu
Ter me esquecido de tudo!
Ante Deus, sou senão um pigmeu,
Quedo mudo... e calado.

As cores da vida, matizes.
Brilhantinas a colorear
Estes ódios, infelizes...
[E como não:] O tênue amar.

Oh! O reverdejar [da vida]!
Ah! o degelo e a bem-florida
Primavera, insistente, a piscar
Seus etéreos olhos de nácar...

Mar
MAr
MAR

Deixa-me, uma última vez,
Nadar.
Deixa-me, uma única vez,
Amar.

...

Asar
Alar
Amar
Azar
O Lar
O Mar

Asar
A(o)lar
A(o)mar
Azar:
O(A)lar,
O(A)mar...

Voa, Fênix humana!
Renasça da vã poeira
Soa forte o sino e irmana
Esta raça vil e sorrateira.

Guiai, pois, que o tarde é cedo,
Estes numerosos companheiros teus,
Covardes símiles de Prometeus,
Infundidos de aterrador medo
A temer outro divino degredo

Roubaram o fogo dos céus
Apenas para queimarem
Uns aos outros
...
E chutarem dia-a-dia o pau da barraca.

Coisas russas

Luziluzindo no horizonte,
Sinais de um renovar.
Transpassa-se o monte,
E, a ferver, o samovar.

Pois, agora, me conte
Sobre o teu despertar.
"É simples", me disse.
E, ainda que insistisse,
Nada me contou.
Como se por dentro risse...

Vi bem forte o brilho:
Nos seus olhos,
Algo chamuscou.
O estribilho d'algum poema,
Em si, o iluminou.

Que figura fascinante!
No silêncio a sibilar:
Quem (eu) sou?
Quem sou
... ...
eu
.

"Poderei saber um dia?"
Me indagou.
Só tu poderás dizer...

"E a chama que ardia?",
Provocou.
A tua, é dada a ti conhecer...
Esqueci!

Dentro de mim também havia brasa.
Havia luz.

A escuridão terá sido mais forte?
Espero que não.
Não quero tal sorte.

"Por que pensas tanto?"
...
O pensar, em mim,
É esconderijo e manto...
...
"Não há de ser assim..."

Tem de ser como, então?
"Queres respostas a todas tuas perguntas?"
"Pois és ambicioso e impaciente:"
"Não poderás compreender tudo de uma vez..."

"Fecha os olhos, conta até três"
Um, dois... três.

As luzes haviam se apagado.
Ao acendê-las, o inominável sábio
Não mais estava lá:
No recôndito do meu ser.

Fora mais um golpe de mágica.
("At the Samovar", 1926 - Kuzma Petrov-Vodkin, 1878-1939)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Homem? Até que se prove...

Parecem ser os momentos mais difíceis os que acabam por deixar-nos (ou não) mais humanos...

E talvez não sejam apenas aparências.

É provável ser isso mesmo.

Já constatei.

E você.(?)


Ainda não?

Talvez venha,

Então, feliz oportunidade,

Para enxergar esse momento indescritível

E com seus próprios olhos desvendará o que se cria inacreditável.
...

(que a questão não é nascer, mas tornar-se... ser humano)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Paz

A paz esteja contigo, nos momentos de alegria ou tristeza, júbilo e aspereza. Maneja os momentos difíceis com sabedoria, com destreza. Cada ato teu tornar-se-á uma proeza. Não rebaixarás às baixezas, não providenciarás inutilidades para um futuro de incertezas.

A paz se faça presente, no momento árduo, premente. Seja maduro, obtenha o conhecimento que te fortalecerás. Manda ao inferno as influências midiáticas que distraem, não abra mão de livros, seminários, palestras, música erudita, música popular. Não renega a vida enquanto vive em ti o fogo ermo, porque ainda queima. Se a verdade vem e não te apetece, não teima. Quem teima no aprender, em breve atoleima. E para desatolar de vil fossa, não é nem um pouco aprazível.

Se tens um corpo belo, não se atenha ao que é efêmero. Se é homem ou mulher, não te preocupes à toa com gênero. És humano, e basta isso. És vivo, e basta a vida. Esta ou outra, não importa. Faça o que for possível, e isto, descobrirás, é muito maior e mais dinâmico do que sequer imaginavas. É grandioso, é portentoso, o futuro é promissor. Não, tu não és perdedor. Nem te julgues vencedor. És, com certeza, alguém, e isto é suficiente.

Ninguém é ninguém. Tu és alguém. Tens, no entanto, de descobri-lo. O fogo fátuo da vida é evanescente. Viva o presente, mas não te esqueças do passado que erigiu o edifício do teu ser. Não te olvides do futuro, que são as sementes que irá colher. Não definas o indefinível, não conceitualize o incocebível. És vivo, e o que não sabes, um dia saberás.

Com muito esforço, com ferrenha luta, por mais que não percebas, algo em ti perseverará. Apesar de tudo. Apesar do nada que te envolve, desde que nasceste. Se tudo passa, tudo volta, e o caminho que trilhas, poderá, também, modificar. Fica livre: é tua vida. Constrói a tua ermida, pois nela habitarás. Será de areia, para cair? Será em frouxas bases, enfim ruir? Saibas escolher, portanto, os materiais. Serão teus fundamentos substanciais.

Não te alheies: todo conhecimento é válido. Tudo poderá em breve ser-te útil. E não somente em possibilidades e cogitações filosóficas, mas num recente provável de se suceder.

A grande escola está em tudo, permeia o todo, trate-a sempre com denodo. Desdenhar é atolar, num brejo infindável. Aprender é crescer, por dentro, um processo ampliador estável. Cresce-se, vive-se, nenhuma vida será em vão.

O amor ao aprender é o amor ao compartilhar. E isto nunca irá terminar. O aprendizado é infinito, todo o resto é mito. Uma vez dito, ficarás gravado: o destino palmilhado.

Há carma, há lutas, porque há vida. A jihad dá-se verdadeiramente no imo.

A luta externa será sempre reflexão das convulsões cá dentro.

As pelejas dá vida tem em nós o seu centro.

Vivo, luto, tento.

É meu intento.

É este viver... que acalento!

sábado, 20 de setembro de 2008

China

Sino Brasileiro

Sino-brasileiro (?)

....

É.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Falando em Sociedade Moderna...


(originalmente um comentário sobre o artigo "Sociedade Moderna", por Camila Mickers. Clique no link e leia por você mesmo esse ensaio ampliador de horizontes.)

"A centralidade da televisão contribuiu para acelerar a construção de um imaginário social povoado por sonhos consumistas e por valores calcados mais no sucesso individual- a lógica passada pelos filmes norte-americanos que dividem as pessoas em vitoriosas e derrotadas- e menos nas antigas utopias políticas voltada para a solidariedade equidade social."

De fato! É fácil constatar isso nas próprias salas de aula: os que conseguem se adaptar adequadamente ao sistema escolar são vistos como exemplos a serem seguidos. Esta homogeneidade - do estereótipo do "aluno perfeito" - destrói a diversidade do aprendizado, a bagagem cultural de cada estudante, e tudo isso para benefício de quem? Certamente que não o nosso...

O sucesso individual também é uma das maiores ilusões concebidas. É óbvio que devemos muito a nós mesmos, isto é, aos nossos esforços em relação ao aprender, ao aplicar os conhecimentos, até mesmo ao nosso auto-didatismo adquirido (todos nós o desenvolvemos, não obstante o "grau de evolução" deste)... mas... e o quanto devemos à nossa família? aos nossos verdadeiros amigos, que tanto nos ajudam nestes meandros da vida?

Não é porque o Brad Pitt é forte, bonito e bem-sucedido que ele irá desbravar este mundo sozinho. Não, de forma alguma! Devemos muito, a muitas pessoas, e isto deveria ser mais importante do que esse individualismo exacerbado - que tanto vemos atualmente (pode ser que esteja até mesmo mais acentuado do que em outros períodos históricos...).

Sim, nenhuma ideologia é superior à massificação. Talvez, somente cada um percebendo o estado em que se encontra, que algo irá mudar. Bem, eu tento contribuir com meu próprio blog. Por isso considero a internet um instrumento tão único: qualquer um pode expandir seus conhecimentos de maneira absurda com esse meio libertador. E os blogs, então!

É bom que haja pessoas atentas a isso tudo que vem ocorrendo, e que escrevam - e propaguem - as sementes de suas reflexões, daquilo por que estamos passando.

E jamais haverá um "tarde demais"... o conformismo nunca terá data marcada para terminar. Depende de cada um, e dos difusores desse conhecimento também, claro.

Parabéns, Camila! Que bom ler acerca disso algures.

(Obs. Nota-se que as pessoas andam cada vez mais ocupadas nos dias de hoje: tem-se de fazer não só o corriqueiro curso superior, mas, também, pós-graduações, doutorados e pós-doutorados, enfim... o tempo restante dessas pessoas envoltas por tanto trabalho e estudo é dificilmente dirigido à leitura de livros... os blogs e outros sítios virtuais parecem estar suprindo - de forma incrível - essa necessidade do refletir. De introspecção.)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Cervantes e a Lenda de Dom Quixote

Cervantes e a Lenda de Dom Quixote *

(foto: capa da edição lançada pela Círculo do Livro, s/ ano)

Dom Quixote de La Mancha, escrito por Miguel de Cervantes Saavedra, encontra-se, hoje, traduzido em todos os idiomas escritos. Ao longo dos seus quatro séculos de história, foi o livro mais publicado, perdendo apenas para a Bíblia.

Os livros mais publicados, cem anos após a invenção da máquina impressora, por Gutenberg, eram os de cavalaria. Esse ramo literário era difundido, principalmente, por meio da leitura em voz alta, que se fazia aos que não sabiam ler. Sua qualidade, no entanto, decaiu rapidamente, atraindo, para si, crescentes críticas, já em sua época. Pode-se fazer uma analogia, no tempo presente, à condenação do conteúdo televisivo. Veiculado de forma massificada e muitas vezes desprovido de conteúdo, mostra-se, claramente, de nula finalidade artística. A mesma crítica que se fazia aos romances à la Távola Redonda, quatro séculos atrás.

Cervantes inovou na literatura de então, ao realizar uma paródia, escancarada e pungente, aos livros de cavalaria, no decorrer das façanhas, diálogos e fatos quixotescos. Em suma, este estro literário em grande parte explica o porquê de, mesmo após os livros de cavalaria terem caído em pleno olvido, no século XVII, Dom Quixote ter perseverado imbatível em suas reedições.

Quanto à sua vida, Cervantes nasceu no seio de uma família de classe média. Ainda muito jovem, feriu, para sua infelicidade, um membro da nobreza. Para fugir à sentença de ter um membro amputado, a pena então comumente imposta para este tipo de infração, Cervantes fugiu a Roma. As intrigas e a rotina hedonista da sua vida naquela cidade estavam, todavia, muito aquém das aventuras que idealzava.

Alistando-se na Marinha, combateu pela Santa Aliança à bordo da galera Marquesa, na batalha de Lepanto - travada contra os turcos. Cervantes escapou por um triz, gravemente ferido. Jamais recuperaria o movimento da mão esquerda.

Em 1575, decidiu voltar à Espanha, mas foi feito prisoneiro, por uma inacreditável ironia do destino, justamente por piratas turcos, sendo levado como escravo. Por razões de impossibilidade de pagamento de seu resgate, passou longo período em cativeiro, o que marcou definitivamete sua obra.

Volvendo, por uns instantes, à sucinta análise de sua obra: em primeiro lugar, o que é um fidalgo? Na sociedade da Idade Média, os fidalgos eram herdeiros da casta guerreira, pertencentes à baixa nobreza. Era um estamento social deslocado, desvalorizado.

Sancho Pança era seu escudeiro, o que então se denominava aio. Além de encorparem a corriqueira formação cavaleiresca – composta, essencialmente, pelo cavaleiro e seu escudeiro -, o desventurado fidalgo e seu companheiro não deixam de ser, também, uma autêntica dupla de sucesso, repetida inumeráveis vezes, tanto na literatura como no cinema. Sherlock Holmes e o Dr. Watson, Tom Sawyer e Hucleberry Finn. Um é o nobre cavaleiro folhetinesco, que primeiro se atraca aos embates para depois refletir. O outro, construído à sua contraposição, é o que pensa antes de entravar qualquer combate. Um é o amo, o outro, o criado. São unidos, sobretudo, pelo respeito mútuo, pela relação de amizade, pela mútua compreensão. Quixote preocupa-se com Sancho como se este fosse seu próprio filho. E Sancho, como se seu amo fosse um pai ou avô - isto é, algo ensandecido.

O mundo quixotesco é ambivalente. Contrapõe, fundamentalmente, o ideal ao real. Revelando a cisão entre ambos, acaba por desvendar, também, as próprias paixões humanas. Sancho e Quixote são personagens complementares, porque antagônicos.

Entre os pontos cruciais presentes na estória, figura, sem dúvida, o da comicidade: Episódios que salientam a composição cautelosa, por parte do escritor, das imagens reproduzidas nos diálogos. O leitor consegue ver diante dos olhos a tragicomicidade das cenas. São tão vivas que chegam a trazer reminescências dos filmes satíricos de Charles Chaplin. Ao invés de nos sentirmos compelidos à compaixão, somos movidos à gargalhada, ao riso. Cervantes chega ao ponto de satirizar, de forma mordaz, certa passagem de Orlando Furioso, do italiano Ludovico Ariosto, em que o protagonista encontra-se, desnudo, a clamar, chorando, por seu amor.

Retornando à prisão do autor: Cervantes estava trancafiado em Argel havia mais de 5 anos, quando sua família finalmente pôde amealhar a quantia requerida para libertá-lo.

Voltou para casa com o intento de dedicar-se à carreira de escritor, produzindo obras teatrais de boa qualidade. Sua ambição, em vida, manifestou-se de duas maneiras: em uma primeira fase, como militar combatente. Na segunda, pela produção literária.

Tornou-se, eventualmente, uma espécie de coletor, confiscando cereais e azeite. As paisagens por que viandou foram, considerando-se sua heterogeneidade, inestimáveis para a descrição dos lugares retratados em Dom Quixote.

Mal havia Cervantes se consolidado em seu trabalho, quando foi encarcerado, por razão de atraso nos pagamentos. Já constava com mais de cinqüenta anos, e o desencanto e a desilusão, prementes, por que passara, acabaram por firmar-se em sua obra toda.

O Iluminismo foi a derrocada de Dom Quixote: novos modelos esconjuravam o louco da alteridade aceitável. Foi, portanto, somente com o irromper do Romantismo que o louco transfigurou-se em herói admirável, abrindo espaço para uma releitura muito mais acurada de Dom Quixote.

O trágico e o cômico, magistralmente justapostos no livro, não eram, para sua época, de todo originais. O que confere originalidade à obra é o fato de Dom Quixote ser classificado, no âmbito acadêmico contemporâneo, como a primeira novela moderna. Cervantes não é, decerto, o primeiro narrador moderno, mas sua novela o é. O início da narrativa remonta ao contar que se faz diretamente à audiência, a uma narrativa oral.

No decurso da leitura, é possível dar-se conta que o jogo narrativo entrelaça ficção à realidade. Na segunda parte, Pança e seu amo comentam, metalingüisticamente, acerca da própria obra.

Outro aspecto que urde a obra é a ingenuidade: Quixote cria na palavra de honra. Ele encarna uma visão decente e generosa do ser humano, uma visão estável da condição humana. O problema, entretanto, é que o mundo muda, e os personagens, no fim, não são como deveriam ser.

Um tema que Cervantes soube tão bem ilustrar é o do louco lúcido: Mostra-nos uma maneira diversa de se enxergar o mundo. Quixote avança contra os moinhos, em uma evidente expressão de inconformidade e rebeldia. Seu ato pode ser relido como um grito à rotina, à condição blasé de ver sempre as mesmas coisas, sempre do mesmo modo. Por sua vez, os moinhos a que se lança podem ser vistos sob o escopo moderno das máquinas e da robotização que nos envolvem. O lixo industrial, gradualmente a nos enterrar vivos, é o que Dom Quixote combateria nos dias de hoje. Já no mérito da psicologia, Quixote é a personificação do superego, a parte de nossa psique que idealiza, que busca ideais a alcançar.

Outra mensagem transmitida pela obra é a de que a liberdade humana encontra-se um patamar acima da Justiça. É a soberania da liberdade sobre todos outros valores, a oposição ferrenha ao aprisionamento do ser humano, em um sentido integralmente metafórico. Crê, Quixote, na justiça universal, sendo, por isso, condenado ao degredo, à anátema social. É a utopia viva.

Quixote renuncia a própria vida de maneira estóica, para a sobrevida de seus princípios. Brada, pois, ao cavaleiro, que o mate, que ele não é capaz de desdizer o que crê sobre Dulcinéia. Finaliza, afirmando ser o homem mais desgraçado deste mundo. Ora, não é o mais desgraçado dos homens aquele que desiste de seus ideais, sob a invariável pressão do mundo?

Quixote cumpre sua palavra de cavaleiro. Embora seu ulterior sonho não se concretize, o brilhante autor de Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago, expostula que quem morre, de fato, é senão Alonso Quijano, o fidalgo. Dom Quixote persiste. Dom Quixote - o escorreito modelo do melhor lado do ser humano – tem a nos ensinar que: a nossa vida, conquanto seja, individualmente, uma mera fração da condição humana, reside no poder contar uma história dignamente nossa.

Fonte: Documentário legendado, de língua espanhola, “Cervantes e a Lenda de Dom Quixote”, que pode ser visto clicando-se no próprio nome, acima (está hiperlincado).


*Realizado para fins escolares, dentro da matéria Língua Portuguesa e Redação(LPR).

(Obs: só me falta findar a leitura do livro, agora...)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Aos Vivos, A Morte

Estavam ensacando o corpo,
Quando cheguei à Estação.
Eram os restos de um morto.
Suicídio: Fim: Terminação.

Esse, ou essa, que morreu,
Transformou-se em história.
Que agora vou lhes contar.

Os tormentos de uma vida,
As aflições vividas,
Converteram em mártir:
Mais um cidadão.

O que se passa neste Mundo,
As alegrias que se vivem.
O que são, senão poeira,
O pólen que se espalha?

O saber e o conhecer,
São virtudes do Crescer.
Quando não mais os atinge.
É-se passível morrer.

Porém, mais fácil é pensar,
O cogitar em suicídio,
Do que realizá-lo.
Em via pública...

Súplica... De uma vida.
Rogou por viver.
Mas, não agüentando,
Decidiu-se por morrer...

O fenecer desta Memória
O contar desta História
Que transfigura-se em Estória,
Jamais tida como glória...

A dor de perder a vida,
Do ensacar restos mortais,
Estampados nos rostos
Dos guardas que recuperaram
Suas partes vitais...

Pergunto a um
O que sucedeu:
"É uma pessoa...
Que morreu..."

Palavras lhe faltam:
E também me fugiriam!
S'eu estivesse ali, decerto,
Meus sensos desmaiariam.

Perdi a fome, perdi.
Até a vontade d'urinar
Só de ver a tribulação,
Nos rostos a guardar
Pedaços de um viver...

Por quê? Questiono,
E atino, a juntar,
As razões que fariam
Alguém acabar,
Com a própria vida...

Pouco me importo
Com o Atraso;
Com adiar minha chegada,
Em casa, em meu lar.

Alguém se matou!
E isto é mais importante,
Que minhas preocupações
Temporárias...

Poderia esperar quanto fosse!
Sou humano.
Sim, esta vida que se foi,
É mais importante
Que estresse,
Vil pontualidade...

Que a futilidade,
De se chegar no horário...
Aos Diabos, aos que reclamam.
Não sabem, pois, que alguém se matou?

Poderiam ser vocês mesmos,
Egoístas resmungadores.
Ali, nos trilhos,
Recolhidos, restos maltrapilhos...

Ensangüentados,
A causarem-me enjôo.
Náusea de ver Algo ensacado.
Um corpo ensopado,
De sangue e sofrer...

Pouco me ferro,
Ao que pensarão:
Religiosos que pregam
A Derradeira salvação...

Ignoram que a morte
Epreita-lhes a vida,
Enquanto sibilam Ilusão...

Com palavras: aconselham,
A caminhada: não seguem,
Vãs palavras que proclamam...

Pouco, ou mesmo nada,
Sabem do que é suicidar-se
Ao destino dizer: "acabou!"
E seu corpo entregarem...

Crê na vida?
O que há para se crer?
Se você nem liga
Pra quem acabou de morrer.

Não se chame ser humano.
Não!
Se a morte não te causa
Enjôo e náusea.

Não denomine o morto:
Ateu, ou herege.
Profano és tu,
Que se dá
A julgar
Mal.

Pois,
Antes veja,
Que ele ou ela,
Também não sofreu?
Como ti, não viveu e amou?
E, há pouco, justamente faleceu.

...

A sociedade se choca.
Mas somente assim,
Não é mesmo?
Que tiramos os olhos,
Do nosso próprio umbigo.

E vemos àquilo, a que
A vida vem nos preparado,
Desde que a bolsa materna
Se rompeu.

A vida nos cuida
Para este fenômeno,
Este vivente prolegômeno:
Existencial
Porque mortal.

Não será em vão,
Meu caro,
Minha cara,
Sua crise existencial.

Em minha depressão,
Vejo-o como igual.
A Deus
Adeus.

Prossiga.

(A ti,

Uma próspera, próxima vida.)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Clarificando

"Ensaio Sobre a Cegueira" ("Blindness", 2008), dirigido por Fernando Meirelles, é um filme, em todo sentido da palavra, impactante.

Assisti a esse compenetrante longa-metragem neste último domingo, 14/08. Tem cenas fortes, tomadas chocantes, porque captam o animal que reside dentro de nós ou, mais eufemisticamente, como Machado de Assis colocou, o "verme roedor" que se encontra dentro de cada um. Os ingleses, concisos e precisos em seus provérbios, já diriam "We are our own worst enemies" (Nós somos nossos piores inimigos).

O que o filme retrata é, de fato, a cegueira humana, e essa acepção é ampla o suficiente para ter dado à luz este filme pungente, verídico. Afiado, desmistificando o homem: mostrando, dele, o bom e o ruim. O bem e o mal. E indo além disso. Teria mesmo orgulhado Nietzsche, por apresentar de forma tão comovente o transcender do Bem e do Mal, e isto não é paródia barata ao homônimo livro do filólogo germânico.

Quem leu "O Homem Que Calculava", escrito por nosso genial conterrâneo, Júlio César de Mello e Silva (vulgo Malba Tahan), deve se lembrar, na voz de um dos personagens, que "O exagero é uma forma disfarçada de mentir!". Pois, tendo aprendido um pouco a partir desse livro, de todo deslumbrador, não exagero. É um grande filme.

O prelúdio acima serve para explicar o porquê de duas postagens recentes aqui no blog, uma seguida à outra, que são, cronologicamente: "Ensaio Sobre a Cegueira (e sobr'a brava que os salvou)" e "Pedra Esmerada". O primeiro, escrito logo que cheguei em casa, ainda fortemente transtornado pela densidade psicológica da película (para não ficar reescrevendo filme, filme, filme...), é o que mais remete ao que apreendi(lembra de Kant?) de sua essência, do que ele intenta mostrar a quem o assiste. O segundo, por seu mérito, já é mais "racional", porque feito um dia após, com as emoções pouco mais mitigadas; mas, de forma alguma, neutro, no sentido emotivo.

Ambos, portanto, têm relação direta com o filme. Não são apenas reminescências. Sem o filme, nunca teriam sido concebidos tais pensamentos, não serei presunçoso. Se tais idéias moravam no meu Inconsciente, despercidas, flutuando no éter do meu ser, foram então brutalmente depertadas pelo caráter incisivo do filme. Se, por outro lado, não eram idéias incipientes, então consistem no que, de praxe, denominamos "inspiração".

Não se é preciso lê-las segundo qualquer ordem. Aliás, "Pedra Esmerada" sofreu abertamente outras influências que não o filme. O suor que me transpirou no decorrer do filme, tentei passá-lo todo para "Ensaio Sobre a Cegueira (e sobr'a brava que os salvou)". É uma poesia reflexiva. Não serei esnobe a ponto de dizer que escrevo, sempre, poesias dignas do nome. Mas essas duas, em particular, garanto que não servirão de adorno.

Teu tempo é precioso. Não o perca hesitando.

A Moeda da Vida

A vida é investimento:
Nosso suor derramado.
É este o pagamento:
O sangue perspirado.

Paga-se sempre bem caro,
Segue o valor adiantado.
Noites varadas, em claro,
E o dado foi lançado.

É este o benefício:
Não há roleta russa,
Ou simples artifício.

A vida é vetusta
É arguta, é leal
Nada é fictício
A vida é Real.

Não se corrompe a vida:
Engana-se, sim, a si próprio.
Versada e conhecida,
Não a logra circunlóquio.

Toma ópio, fuma maconha
Fuja, perdido, em vã loucura
Depois de feito, a vergonha
Não sanará adquirida agrura.

Perder-se é sempre fácil
É facílimo desencontrar
O mundo, bem, nu'é grácil
Só é vitória o conquistar...

Se irás perder ou morrer
É-lhe inútil, e indiferente
Pois o imutável fenecer
Vivo está, jamais ausente.

Viva enquanto vive
Dentr'em ti o renovar
"Eu que nunca tive..."
Não irá te remoçar...

Afirme, não negue:
Do universo,
As possibilidades.

A vida persegue
Tu, imerso,(em)
Tod'as infinidades.

Multilateral
Multiespacial
Helicoidal

A vida é real.

Mas... o que é Real?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Chove Cântaros

Chove,
Chove,
Chove.

Chove sem parar...

Chova!
Chova!
Chova!

Meu coração irá gostar,

Venha, chuva, caia!
Venha amainar:
Esta mágoa de tristeza,
A vontade de chorar.

Venha, chuva, jorra!
Estou cá a te esperar!

Pode mesmo ser garoa,
Só não pode ressecar
O límpido céu pós-chuva
Como os olhos ao chorar...

O rosto renovado,
Pela angústia derramada
O céu anil recriado
Após a chuva aplacada...

Venha, chuva, venha!

Estou cá a te esperar...

Pedra Esmerada

Lava bem na pedra
A mancha de sangue
Cuida que ali medra
O cão de face exangüe.

Passa dias nervosos a ranger
E ao mínimo som da morte
Vai ao intruso com ele ter
Se não tiveres muita sorte
De certo que irás morrer

Por que falar disso agora?
Estás a me perguntar
Para saber donde mora
O perigo, a te instar...

Tomai cuidado nesta hora
Porque ele bate ao teu lar
Portando em mão a tora
Que há d'um dia arrebentar
A tua calma domiciliar...

Que horrores são esses que me conta?
Estarás tu, sempre curioso, a me indagar.
São os terrores que a mente afronta
Nas horas que precedem o despertar.

"-Mas que sonhos bestiais o são!"
Você não viu nada, ficai atenta.
"-Pare de jogar vão maldição!"
Será eu, ou o Cão que te tenta?

"Não me apavores, que eu grito!"
Seu grito não passará de grunhido
"Tu, Sinistro, não passas de mito!"
Por que então choras em gemido?

Não sinta medo, a ninguém molesto
Vim da terra, ali na serra, vi a guerra
Peguei em armas, mas fui honesto
Sou o que, frente ao alvo humano, erra

Não sei por que me xingas, por que será?
"-Tu és pacifista, amador de flores!"
Está certa. Não vim cá pra matar.
"-Tu estás dentre covardes desertores!"
Valorizo, do ser humano, sobretud'o inventar.
"-Tu és o pior dos trabalhadores!"
Contra teu ódio de que me adianta argumentar?

"-És cachorro e vil, a morte te aguarda!"
Pois traga tu a tua criminosa sentença
"-Trar-te-ei o grosso cano da espingarda!"
És tu, mulher que ao diabo traz parecença...
"-Chamarei com orgulho o guarda!"
Pode gritar, de tão errada tu estás tensa...

"-São homens como ti que ferem a nação!"
A pátria guarda-se no peito, não na arma
"-É por homens como ti que há execução!"
Graças a ti, recebe-se boas novas com alarma...
"-A você não creio haver direita prisão!"

Não conseguirás me prender,
Não sou efêmero.
Sou a alma.
Do homem,
A calma;
Da humanidade,
O gênero.

Jamais conseguirás exaurir em mim o estro criativo
Pois cá dentro d'alma nasce seu imortal incentivo
Não há como negar os valores do nobre e do belo...
Compõem a pedra que lavro dia-a-dia com esmero...

Enquanto houver pessoas a teu modo
O mundo girará axialmente em desgosto
É por isso que diariamente eu rogo
Que de tuas uvas, faça-se um mosto
Azedume que aos porcos dará gosto...

A guerra, ferina, destrói,
Mata, fere, o imo dói.
A alma sempre sente
A humanidade ausente.

Por que vir a desconstruir
O que anos levou no erigir?
E atrozmente rir, a ruir,
As propriedades d'um vizir?

Somente porque é outro povo
Não se prova justificativa
Não é por cor que maldades movo
Sem qualquer prerrogativa.

Chega de hipocrisia,
E absolutismos.
De vilania,
Ditatorialismos.
De covardia,
Neohitlerismos.
De penedias,
Neonihilismos.
De dicotomias,
E Neofascismos!

Chega!

Ensaio Sobre a Cegueira (e sobr'a brava que os salvou)

Perder o olhar:
De repente,
Sem aviso.

O deseperar,
Que se sente,
Ir-se o juízo...

Sem explicação,
Todos confinados
Numa prisão...
Ali desamparados,
Desolação...

Porém um dia
Raiou o sol
E a luz fugidia
Da fuga em prol

Mostrou-lhes que a prisão
Desguarnecida estava
Ao relento da ilusão...
Sem guardas nem armas
Sem brutas mãos com clava,
Abria-se, livre, o portão...

O próprio ar mudou,
A atmosfera renovada,
A liberdade conquistou
A turba maltratada...

E assim seguiram juntos
Aos tropeços do aprender
A tramar novos assuntos
Sentindo a vida renascer...

Dentro de si o irradiar da luz
Não importa se sem visão
Essa fonte dentro d'alma reluz
Em si, ao alcance da mão.

E aquela salvadora
Destemida, brava, forte
Ó força avassaladora
A sequer temer a morte!

A paz interna consolidada
O rosto esbelto, impetuoso
Nesta mulher sempre testada:
Jamais prostrou-se ao Tinhoso.

É uma guerreira amazona
Não quer nada com a sorte
Como pôde manter-se à tona?
E assim escapar da morte?

Que lança é esta que empunhas
Ó céu, côncavo estrelado
Neste terror de corroer as unhas
Ela retém o brio indomado!

Que garra ao pelejar valente
Neste mundo do zombar
Nunca a vi descontente
Do destino a reclamar...

"Aceita o fado, companheiro",
Disse-me certa vez
"Não faleça traiçoeiro,
Tu és homem, não rês!"

Ó, mulher dos ares,
Por onde tu começaste?
Esta jornada, por onde?
Ó, esposa d'Áries
Nunca os braços cruzaste!

De ti nada se esconde...

sábado, 13 de setembro de 2008

Chuva Negra (Kuroi Ame)

Terminei de ler essa obra-prima da literatura nipônica hoje. O livro relata a luta diária dos sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima, lançada no dia 6 de agosto de 1945, por pura covardia e demonstração de poder, como a História (sim, História com H maiúsculo, a ciência) atesta. O Japão já estava derrotado por esgotamento financeiro, de pessoal e de alimentos, e não havia necessidade de uma bomba atômica. Aliás, cabe-nos ressaltar: quando há?

Descontente com o resultado já calculado da primeira bomba (isto é, com a hecatombe de mais de uma centena de milhares de vítimas), os EUA resolveram lançar a segunda bomba, carinhosamente apelidada de "Fat Man", em Nagasaki, no dia 9 de agosto. A cifra de mortos é horripilante. A de feridos e malferidos, de vítimas que viriam a morrer após longas e intermináveis tormentas patológicas, é, também, inimaginável.

Como é belamente expostulado no livro, na fala de uma das vítimas (a quem Masuji Ibuse soube dar voz com tamanha maestria):

Hiroshima é uma cidade queimada, uma cidade de cinzas, uma cidade de morte, uma cidade de destruição, as pilhas de cadáveres são um protesto mudo contra a desumanidade da guerra.

Ou, ainda de outra:

[...]compreendi[...]que a guerra é um assassino sádico dos seres humanos, sejam jovens ou velhos, sejam homens ou mulheres.

E, por fim:

...Sabe, dizem que o novo tipo de bomba que deixaram cair em Hiroshima pode conter a potência de vários milhares de bombas comuns de cinqüenta quilos no espaço de uma caixa de fósforos. Algum químico realmente repulsivo deve ter descoberto isso. Se eles vão sair por aí usando-a para matar pessoas, não sei como as coisas vão ficar.

Eu havia tomado conhecimento deste ilustre escritor japonês, Masuji Ibuse(1898-1993) por meio de um livro com compilação de contos nipônicos, Maravilhas do Conto Japonês (ed.Cultrix, 1962), que tomara emprestado na Biblioteca Municipal Nuto Sant'Anna, primeiro em 2006 e, para releitura, no mês passado. No livro figura um conto seu, A Salamandra (Sanshô Uo), de 1929, portanto, bem anterior à obra que iria torná-lo um escritor consagrado: Chuva Negra foi publicado em 1965.

Poucos são os escritores que têm quase quarenta anos de espaço entre a publicação de uma obra e outra. E poucos, ainda, são capazes de abordar um massacre de forma tão literária e lírica, quase poética, em algumas passagens. A última estrofe é tão profunda, que virtualmente exorta o leitor a reler o livro.

Adiarei por ora esta releitura. É chocante, é marcante. Em partes, sufocante. Assemelha-se, em alguns pontos, a Germinal, de Émile Zola: como já disse minha professora Suely, "falta ar ao leitor". Por instantes, é possível adentrar no espaço-tempo atroz descrito em frente aos nossos olhos, para nunca mais voltarmos os mesmos.

Nesse sentido, Chuva Negra é uma obra grandiloqüente. Fala diretamente à alma.

Sem subterfúgios.

A Rosa do Povo

Começarei a escrever sobre os livros que leio. Aliás, ler não é um passatempo (abaixo o anglicanismo hobby! diriam os puristas), mas um "ganhatempo", e cada leitura nos acrescenta algo. Bem, sem circunlóquios.

Li a Rosa do Povo ontem. Já tinha participado, no primeiro semestre deste ano, de uma palestra de vestibular, no Centro Cultural da Juventude, sobre o livro. O magistral professor, com sua interpretação inequívoca da obra, praticamente nos instou a ler o livro por nós mesmos. É duro perder as anotações, mas devo dizer que foi muito inspiradora a explanação desse ilustre, inominado professor.

Li o livro para a escola e vestibular, o que seguramente não tira o mérito da leitura, de qualquer forma. Sempre que leio poesias, ponho-me de guarda para os trechos que despertam alguma correlação com o que penso, às vezes um ou dois versos, iniciais ou finais, ou mesmo concatenados ao longo do poema, que despertam alguma fagulha dentro de mim - a fagulha que revela alguma identificação que temos com o que foi exposto.

Treze desses pequenos excertos seguem abaixo, com o que ponderei sobre cada um deles. Ei-los:

1.[Carrego Comigo]
"Não estou vazio,
não estou sozinho,
pois anda comigo
algo indescritível."

O que é este "algo indescritível" que anda consigo? Será a alma? Certamente que sim. Imagine-se, você, a descrever a alma: terminaria por descrevê-la de forma cada vez mais abstrata, até não lhe sobrar mais palavras, porque, de fato, pouco sabemos do etéreo dentro de nós. Pouco ou mesmo nada, se decidirmos por largar, definitivamente, o eufemismo apaziguador de lado.

2.[Nosso Tempo, parte VIII]
"O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme."

Como o eloqüente professor nos expôs, na palestra mencionada no início, Drummond desejava colocar-se, como poeta, em algum lugar dentre a humanidade. Algum lugar que retivesse sua importância, não só para delatar ou explicitar as inconformidades socias - supostamente implícitas ou subjacentes -, mas, também, de alguma forma contribuir para o fim dessas "injustiças". O que é o poeta no mundo contemporâneo? É uma questão que habita cada poema do livro. O que tem ele a dizer, a expressar de seus sentimentos, frente à angústia de ter um Sentimento de Mundo? O sentimento, algo subjetivo. O mundo, em contradição, objetivo, visto de longe, como um todo composto por partes, mas, inevitavelmente, um todo. E ele busca compreender internamente o que é esta coisa externa que nos impele a gritar, a chorar, por vezes a rir e a dele debochar. Quem é o poeta ante aos Tempos Modernos? Eis a questão que o ledor deve ter em mente.

3.[Uma Hora e Mais Outra - dois versos finais]
"[...]pois a hora mais bela
surge da mais triste."

Quem nunca assistiu àquele filme que faz as lágrimas rolarem pela face, de tão comovente? Pode pertencer a virtualmente qualquer gênero, porque a experiência de chorar, assumindo que você não é uma carpideira contratada, é essencialmente individual. Mas o triste evoca o belo, e o belo nos faz, muitas vezes, cair aos prantos. Seja o chorar de alegria ou de tristeza, ou ambos juntos, como muitas vezes ocorre, mas o belo recorre ao artifício das lágrimas, com ou sem nossa vontade. Uma atrocidade nos faz chorar. Guerras, imagens consternadoras, crianças indefesas em um mundo de adultos à la Martim, de adultos armados. As injustiças contra a mulher, a interferência no livre-arbítrio desta, justificado em sistemas machistas, falocráticos, chauvinistas. Mas desses momentos pungentes nasce algo novo: nasce a Rosa do Povo, uma rosa feia, em meio ao asfalto, ao cinza da urbe estressada, virulenta. Mas, sem dúvidas, uma flor. É feia, mas traz ao mundo o belo. O belo que há dentro de si. É a flor que traz na mão o poeta.

4.[Anúncio da Rosa]
"[...]Já não vejo amadores de rosa[....]."

É
um mero verso, aparentemente sem valor, porque vem entremeado a um parágrafo. Porém, é este o verso que remete diretamente ao título: quem são os amadores de rosa? Já não os vê mais, o poeta, Drummond. Serão eles transeuntes a cheirar o perfume exalado pelas rosas nas calçadas da cidade? Podem até ser, mas, neste caso, Drummond está a se referir ao sentido conotativo da Rosa. Os amadores de rosa são os que buscam algo além do chavão, do lugar-comum, do clichê. Releia o título e preste atenção: "Anúncio da Rosa". Quem o anuncia, senão Drummond? E quem é Drummond, senão o poeta? E quem é o poeta, senão o que vê, ou melhor, busca, incasavelmente, ver o "por trás dos bastidores"? O por trás das cenas, o que é sub-reptício, as indiretas, as ilações, tudo o que não salta, de pronto, aos olhos do observador comum. Está, pois, Drummond a anunciar a Rosa e a dizer que os amadores de rosa são poucos. Com seu anúncio aumentarão em número, despertarão os dormentes, acordará a multidão? Quem sabe...

5.[Resíduo]
"[...]E de tudo fica um pouco
Oh abre os vidros da loção
e abafa
o insuportável cheiro da memória[....]."

Drummond está a discorrer sobre o incenso que queima, o inceso da memória, que não pára, não cessa de revelar-se a nós. A memória é invencível, ela está sempre a nos mostrar as facetas escondidas de quem somos, e sua fragrância é freqüentemente intolerável. Não queremos reler o passado, não queremos reencará-lo, peitá-lo mais uma vez. Já passou, já é passado. Por que enfrentá-lo novamente? Mas a memória não nos deixa em paz. "De tudo fica um pouco", e o odor de certo nos virá às narinas...

6.[Morte no Avião]
"[...]Fecho meu quarto. Fecho minha vida."

Mais uma vez, um pequeníssimo trecho, de simples seis palavras. Mas ao analisá-las, vê-se a labuta do poeta: Fecho meu quarto. Três palavras. Fecho minha vida. Novamente três palavras. Um ponto separa uma tríade da outra. Um ponto fecha as duas. O que é o fechar o quarto? Veja você mesmo como o poeta, "amador de rosas", é capaz de transcender uma ação tão vulgar de "fechar [a porta d]o quarto", para o ato de "fechar a vida". E fechar a vida desperta no leitor uma abstração delirante. Fecho [a porta d]a minha vida. Eis a morte, poética e trabalhada de uma forma que Drummond soube fazer tão magnificamente em Morte no Avião. Anos atrás, antes mesmo de 2006, meu irmão me mostrou este poema inesquecível, sibilando as palavras "Olha que foda esse poema!" Talvez nem ele se lembre. Mas quem o viu pela primeira vez, não o esquece jamais.

7.[Desfile]
"[...]Se eu morrer, morre comigo
um certo modo de ver[...]."

Cada poeta tem um certo modo de ver, isto é indubitável. Cada qual com seu aparato subjetivo, influenciado pelos arquétipos comuns a todos, genialmente expostos por Carl Gustav Jung, psicanalista que, ao contrário de Freud, merece ser lido na íntegra, sem medo de ficar paranóico ante à sexualidade. Desculpe-me, caso tu sejas um Freudiano inveterado, mas ao entrarmos no campo da psicologia, que está presente no trecho acima, torna-se necessário dar nome aos bois, e, aqui, Jung e Freud se entrelaçam, pois um revelou os arquétipos, comuns a todos nós, e o outro, o Inconsciente, o Id, o Ego, o subjetivo, o particular, o individual. Drummond afirma que, ele morrendo, com ele morrerá uma determinada forma de enxergar o mundo. O que não deixa de ser verdadeiro. O grande quebra-cabeça é formado por grandes pensadores, que enxergaram, cada um, certo aspecto que ficou obscuro para outro, e assim por diante. O que um viu, foi o que o outro deixou de ver, e vice-versa.

8.[Como Um Presente]
"[...]É talvez um erro amarmos assim nossos parentes.
A identidade do sangue age como cadeia,
fora melhor rompê-la.[...]"

Tal trecho, devo dizer, é de difícil interpretação, porque, nesta parte em especial, minha "bagagem cultural" bem possivelmente tenha sido um pouco diferente da tua. Em 2004 e 2005 eu andei bem entrosado com ascetas-escritores, se é que se pode denotá-los assim, entre os quais G.I.Gurdjieff e I.P.Ouspensky. Segundo seu relato, nas antigas tradições esotéricas do Oriente, os que desejavam a vida espiritual, comparável, grosseiramente, à vida monástica, deveriam largar família, parentes, amigos, o mundo. E ingressavam numa escola especial, onde treinavam movimentos, exercícios e danças, cujos objetivos eram a elevação da alma, o transcender do espírito. Eles ficavam sob os auspícios de mestres, que, por sua vez, já haviam sido lecionados por mestres anteriores, pertencentes a uma seleta linhagem, conhecedora das próprias origens da tradição esotérica (por favor não confundir com os supostos gurus da atualidade, a corruptela do esoterismo em sua forma mais grotesca). Entre as muitas danças por eles realizadas, a única divulgada é a dos dervixes rodopiantes(link para vídeo no youtube), que seguem a vertente sufista do maometismo. Releia, agora, os três versos, para fazer sentido o que escrevi. Era exatamente isso que os ingressantes tinham em mente, para poderem incursar em uma vida que os isolaria do restante do mundo. Os laços eram rompidos, sem peso na consciência. Caso tenhas interesse, há um filme que deveria figurar entre os 250 melhores do mundo da lista do imdb, chamado "Encontros Com Homens Notáveis" (original: Meetings With Remarkable Men). Ele está disponível para baixar pela web, e legendas em português são facilmente encontradas buscando-se no google: "Meetings With Remarkable Men em português".

9.[Idade Madura]
"[...]Antes de mim outros poetas,
depois de mim outros e outros
estão cantando a morte e a prisão.[...]"

O poeta é o dissidente, o que fala sobre a morte e a prisão enquanto as pessoas estão a falar da alegria e da felicidade. Que prisão é esta, a que Drummond se refere? Será a material, a de grades e ferro, superlotada em quadrículos de concreto? Não. É a prisão que jaz dentro do homem, a prender-lhe o pensar, a derrotá-lo antes do vôo, a dizer-lhe incessantemente: "Perdeste. És um fracassado". São as grades que o impedem a todo momento, o cão-guia que o conduz às paisagens dantescas, aproveitando-se de sua cegueira à la Mito da Caverna. O poeta des-venda o véu da morte. O poeta des-cobre o caixão denegrido pela sociedade. O poeta encontra a morte e diz a ouvidos surdos: "Ei-la como é!". Poucos lhe dão ouvido, daí Drummond dizer que antes dele vieram outros poetas, e depois dele virão outros e outros...

10.[América]
"[...]Sou apenas o sorriso
na face de um homem calado."

É um poema que merece ser relido. E, somente após atenta releitura, enfim comentado.

11.[Visão 1944, última estrofe]
"Meus olhos são pequenos para ver
o mundo que se esvai em sujo e sangue,
outro mundo que brota, qual nelumbo
-mas vêem, pasmam, baixam deslumbrados."

Foi o segundo poema que mais me marcou. Mostrou a guerra sob outros olhos. A compreensão dele se faz fundamental para quem anseia pela resposta à pergunta: o que é guerra?... leia-o, e saberás.

12.[Os Últimos Dias]
"E cada instante é diferente, e cada
homem é diferente, e somos todos iguais.
No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra
o silêncio global[...]."

Meus comentários estão ficando enxutos não porque estou cansado, mas, sobretudo, porque estes últimos merecem ser lidos na íntegra, e o meu comentário só serve de incentivo a quem não os leu, e de um empurrão para relê-los, a quem já se deu o prazer de desfolhá-los. Este é especialmente perfunctório. "Qual lâmina"(figura tirada de algum poema contido em A Rosa do Povo), ele alcança o cerne da questão: "cada homem é diferente, e somos todos iguais." Como sublinhado por minha professora de Literatura, Drummond é o "poeta cerebral". Cada verso é trabalhado, seja ele sem rimas ou métrica, mas desprovido da mensagem não será. Leia a segunda linha e note que ele usa "[cada] homem é diferente"..."e somos todos iguais." Perceba: primeiro ele constata, como de uma distante tomada cinematográfica, que "cada homem é diferente" - até aí, nada dignamente poético. Para, em seguida, afirmar "e somos todos iguais". Há dois fatores poéticos nesta derradeira afirmação. Em primeiro lugar, o "e". Drummond diz "e somos todos iguais", contrariando o já bastante comum "mas somos todos iguais". Para o poeta, não há antagonismo. Não está negando ou contrapondo a primeira afirmação. E, em segundo e último lugar, ele vai do longínquo e impessoal: "cada homem é diferente", para mergulhar de cabeça no "e somos todos iguais". A segunda frase não só deixa de expressar uma contradição, como expus, como também coloca-o dentro do coletivo denomindado humanidade, dentre os demais homens. É como se ele estivesse a bradar: "eu pertenço a esta homogeneidade heterogênea!" (e não o inverso).

13.[Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin, parte VI, duas últimas linhas]
"[...]ó carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode
[caminham numa estrada de pó e esperança."


Se tu já assististe a Charles Chaplin, reassista (como eu, não se arrependerá). Caso não o tenhas feito ainda, faça-o com urgência. Tempos Modernos (1936) não se sobrepõe aos, em parte, menos conhecidos: O Grande Ditador (The Great Dictator-1940) e Em Busca do Ouro/A Quimera do Ouro (The Gold Rush-1925). Essa "tróica" de filmes chaplianos merece ser assistida e, ao menos uma vez, reassistida. A exaltação com que Carlos Drummond canta Charles Chaplin não é, de modo alguma, falsa. Chaplin soube mostrar a esperança e a alegria nas mais duras cenas desses três filmes. Chaplin comendo a bota de couro; Chaplin dando bundadas no Globo Mapa Múndi e fazendo um discurso em prol da humanidade de, literalmente, arrepiar os pêlos; Chaplin comicamente preso entre as engrenagens... são cenas relembráveis... cenas que, desta vez, não exalam o "insuportável cheiro da memória"...

Fênix

"-Desculpe...
Não foi proposital.
Não fiz por mal."

O Sol nasce para todos,
Não sabia?

Ou, melhor, nasceria...
Não houvesse vilania.

O Sol nasce para todos.

Quem dera um dia...

Resplandescente surgiria
No céu o vislumbre, o clarão
Na reflexão luzidia
O calor da imensidão...

De um Sol que nascesse
Ao mal a contraposição
Quem dera não morresse
Sua tenaz reflexão...

Ao homem,
Um brinde.
O Sol morreu,
E com ele a Esperança
De um Sol que pudesse
Nascer

Para todos...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Depressão

Como uma leitora apontou, faz tempo que não proso. Há quase um mês minhas postagens têm sido poemas e, por fortuitas vezes, poesias. Qual é a diferença entre um poema e uma poesia? Não te fornecerei a diferença lexical, mas a que reside na essência. Um poema tem, sobretudo, a forma. Uma poesia, por sua vez, revela-se não só na estrutura, porém transcende esta para revelar as facetas de algo mais interno, requerindo uma leitura aprofundada, compenetrada.

Por que não escrevo textos há tanto tempo é uma questão interessante. Remete, primordialmente, ao fato de que as poesias me vieram naturalmente. Poeta não bate carteira, e eu sigo à risca tal afirmação. Entretanto, vou seguir o que propõe o título, sem mais delongas.

Depressão. No minidicionário Caldas Aulete (2004), o verbete vem assim definido: 1. Ação ou resultado de deprimir(-se). 2. Psiq. Estado patológico, de natureza orgânica e psicológica, que envolve abatimento, desânimo, inércia, às vezes ansiedade. 3. Redução, diminuição. 4. Concavidade pouco profunda. 5. Econ. Período de baixa atividade econômica com desemprego generalizado. 6. Geog. Terreno ou região emersa situados abaixo do nível do mar.

A acepção de depressão que este artigo concerne é a enumerada em 1 e 2. Posso discorrer sobre o assunto porque desde que entrei no CEFET-SP passei por umas boas fases depressivas. A primeira sensação que se tem é um forte desamparo. É um sentir-se nu perante o mundo todo, que te vê com maus olhos. Tudo isto, claro, pode ter um fundo de verdade, mas consiste em uma ilusão difícil de se quebrar. E há o problema de, quebrando-a muito rapidamente, partir-se junto. Sim, dividir-se em várias polaridades que, retesando cada uma a corda do seu ser para o seus respectivos lados, podem acabar por fragmentar-lhe indefinidamente.

Por sorte ou outra intervenção divina, não fui subjugado a tal ponto. No entanto, apesar de, na parcela majoritária das vezes, não haver seqüelas, as diversas fases depressivas que assolam a pessoa tendem a habitar os recônditos da mente, aquela porção inconsciente deslumbrada por Sigmund Freud, Josef Breuer, Carl Gustav Jung e tantos outros precursores da Psicologia Moderna. Aquilo que você não trata, um dia bater-lhe-á à porta. E tu acabarás por abri-la ao "desconhecido". Não te julgues forte quando isto ocorrer.

Se, por um lado, a depressão degenera e desconstrói o castelo construído por ti a árduos esforços, a superação desse estado proporciona um aprendizado indescritível. O estados pós-depressivos que se deram em mim foram marcados por sucesso na vida social - discurso em japonês em outubro de 2006, certificado de proficiência na língua inglesa em dezembro de 2007, e por aí vão. E, porque não, um refortalecimento interno, digno de um guerreiro que se reergue em pleno campo de batalha, em meio a flechas e ataques iminentes.

Assim, a pessoa que se recompõe internamente após períodos depressivos sente-se capaz de fazer frente aos mais diversos desafios que a vida certamente lhe proporcionará. Por isso, não encaro a depressão como uma doença, no sentido estrito da palavra. Nós, os depressivos, não somos doentes, físicos ou mentais. Não somos homogêneos, não partilhamos dos mesmos sintomas, das mesmas características. De forma alguma há um tratamento externo. A verdadeira cura depende do próprio depressivo - e isso não é auto-ajuda, meu bem.

Naquele dia em que parece instrasponível o obstáculo de levantar-se do leito em que jaz, o depressivo não terá a mão amiga para lhe ajudar. Pois, mesmo que haja, de fato, alguém próximo a si que o sustente naquele momento, nada exterior a si o impedirá de recair sobre a cama e pôr-se a chorar suas internas mágoas. A mesma mão amiga prova-se inimiga, porque pode infligir dependência. Não falo de dependência de drogas, anfetaminas e toda sorte que se produz atualmente. Digo da dependência daquele alguém que estendeu o braço para levantá-lo e, posteriormente, o ombro para os prantos que eventualmente se seguem.

Eu, como depressivo, não recorri, nem, reitero, recorrerei a drogas, farmacêuticas ou não, de qualquer tipo. Até porque estas produzirão o mesmo fenômeno de dependência. E isso é evitável. Direi como se restabelece em um período depressivo: por mais doloroso e sem sentido que seja a princípio, o depressivo deve, enfatizo, tomar muito sol. Por quê? Simples: porque nossos estados emocionais condizem com a bioquímica que se desenrola nos nossos corpos. Mente e corpo são inseparáveis. O sol dissolve pouco a pouco a desolação profunda que toma conta do depressivo.

Outro fator importante: jamais interromper leituras, caminhadas, exercícios físicos - de preferência intensos e conjugados, de forma a não "sentir-se feliz" unicamente por um deles. A meditação entra em cena: por dia, reservar 20 minutos de seu precioso tempo a observar a respiração. O exercício é o seguinte: de preferência, sente-se naquela famosa postura de asceta, com as pernas cruzadas. Não consegue manter-se por muito tempo na posição de lótus? Nem eu. Cruze, simplesmente as pernas, faça um círculo com o polegar e o indicador e estique os dedos restantes, apoiando as costas das mãos sobre os joelhos. Fique com a coluna ereta. No começo, bastam 10, 15 minutos. Depois, há veteranos que conseguem ficar longos períodos de tempo sentados desta maneira, sem cansaço físico. Tendo se sentado apropriadamente, o passo seguinte será dividir, mentalmente, sem qualquer interferência no processo físico de respirar (porque alterar deliberadamente a respiração pode ser danoso à saúde), o processo respiratório em três fases: a inspiração, a expiração e, o fundamental nesse tipo de meditação - o que funcionou comigo, condiz dizer -, o intervalo entre inspiração e expiração.

Em 2005 chegava periodicamente ao Objetivo Cantareira, meu colégio pré-Federal, um jornal gratuito de circulação mensal, chamado Magus. O primeiro exemplar explicou a importância da meditação de uma forma que comprovei logo após, nas dezenas de vezes que a empreendi: se você conseguir observar o intervalo compreendido entre inspirar e expirar, de forma total, um após o outro, conseguirá transcender corporealmente não só durante a meditação, mas após terminado o exercício. O efeito de relaxamento pode estender-se por minutos ou horas nas primeiras vezes. Consolidada a prática, entretanto, a meditação começa a fazer parte de sua vida, e o efeito persiste até no dormir. Meus sonhos de repente tornaram-se lúcidos e, ao acordar, passei a relembrá-los na íntegra, como se tivessem sido reais. E mais: cada sonho revelava o que se passava no meu interior, no porão do Inconsciente. Minha memória foi tornando-se impecável. Conseguia recapitular todos os eventos do dia, com sua particularidades e minúcias, com o significado que haviam tido para mim. Cada evento externo tornava-se decifrável com a prática diária da meditação. Passei a dormir plenas e restauradadoras 7 horas de sono. Sem tirar nem pôr. Há praticantes que dizem dormir meras 5h de sono, completamente restauradoras, sem um único bocejo ao longo do dia.

Passei a ler mais e assimilar mais do que lia. Minha disposição, física e mental, aumentou expressivamente. Muitas vezes acordei, após meditar antes de deitar, na mesmíssima posição em que me deitara na cama, sem qualquer alteração nos lençóis. E isto foi um baita sinal de que este salutar hábito diário estava desencadeando positivas mudanças em mim, uma vez que eu sempre havia me mexido em excesso durante o sono.

Bem, a meditação está sendo estudada cientificamente e já se comprovou que: as pessoas que meditam freqüentemente conseguem suportar dores insuportáveis para os não-praticantes; conseguem se concentrar em situações de barulho e ruídos que tirariam a concentração do mais compenetrado vestibulando pretendente à Medicina; dormem integralmente, alcançando todas as fases do sono mesmo repousando menos horas que o comumente recomendado pela medicina atual. Têm a liberação de hormônios causadores de estresse consideravelmente reduzida durante provas que envolvam números, perdendo o "medo à Matemática" e às ditas exatas. E, após longo período sem dormir as horas que lhes cabem, a simples prática da meditação consegue tirar grande parte dos sintomas - nervosismo, ansiedade, tiques nas pálpebras dos olhos, etc - das pessoas que a realizam - meros 10 minutos podem ser, de fato, milagrosos.

Tudo o que a ciência viria a comprovar após eu ter descoberto a prática meditativa em 2005, por meio do já citado jornal Magus, eu já havia sentido por mim mesmo através das minhas experiências.

Dediquei extenso espaço a descrever como se realiza a meditação e seus benefícios porque trato, especialmente neste artigo, da depressão. E quem medita, não entra em depressão. E quem entra em um estado depressivo, deve meditar. Sem esperar resultados, seguindo os passos de observação da respiração. A expectativa pode vir a estragar tudo. Não faça esta besteira. Não só com a meditação, mas nos demais aspectos de sua vida. Não há porque ficar antecipando isto e aquilo, sem ter bases concretas. Sem ter o feeling, o insight.

Outra questão biofisiológica da depressão: passe a comer saudavelmente. Sim, tire de seu cardápio tudo o que for industrializado. Peça à sua mãe ou faça você mesmo: compre frutas, verduras, mel, e capriche no bom arroz e feijão, refeições mais leves ao longo do dia e, se possível, descubra duas ou três posições básicas de Ioga. Pratico a Ioga, atualmente, de forma bem mais freqüente do que a meditação. A Ioga não deixa de ser uma forma de meditação, e a meditação não deixa de ser uma forma de Ioga. É uma pseudo-divisão criada por alguém que queria embolsar bastante grana com a abertura de "centros" - pagos, claro - separadamente destinados a essas práticas.

Você pode meditar em casa, fazer Ioga em casa e recuperar de sua depressão em casa. Tome sol, tire o açúcar de sua alimentação, não deixe de ler, de sair, de visitar lugares novos, de expandir sua mente.

Ao açúcar agora. Foi muito simples tirá-lo de minha alimentação. Eu tomava leite com Nescau/Toddy/Nesquik, enfim. Passei a tomar leite puro. Depois, descobri a coalhada. Compre leite do tipo C, ferva o litro, despeje-o numa vasilha de vidro (o plástico, quando em contato com líqüidos ou alimentos quentes, libera toxinas nocivas). Depois jogue um ou dois potinhos - daqueles de 200g - de iogurte natural (Batavo, Vigor, escolha qualquer um, porque todos dão certo) e dissolva. Deixe o recipiente parado de 16 a 24h fora da geladeira, e estará formada sua coalhada. Ponha mel e seja feliz. (Não esqueça de guardar o recipiente com o restante na geladeira).

Eu comia bastante bombons e doces de todo tipo. Substituí por banana, mamão papaia (bem mais doce que o formosa), e frutas afins. Sobremesa? Pra quê, seriamente? Coma frutas de sobremesa. Sucos: se você gosta de sucos, como eu, elimine, se já não o tiver feito, os artificiais de seu cardápio. Não têm valor nutritivo e podem ser facilmente substituídos por um suco naturalmente batido no liqüidificador com água e alguma fruta - goiaba, maçã, usufrua de sua imaginação. Quanto às vitaminas, leite com frutas mais pesadas, como banana, abacate, etc, são deliciosas sem açúcar, ou mesmo com adição de mel (colocando-o quando o liqüidificador estiver batendo, para não ficar no fundo). Eu me acostumei sem me lamentar.

Você não depende de nada industrializado. Nada. Barras de cereais? Leve duas maçãs e uma banana na mala e não se arrependerá.

Se você estiver depressivo e passar a seguir o pouco que consegui expressar aqui, verá que cuidar do corpo é cuidar da psique. E o contrário não deixa de ser verdadeiro.

P.S.: se você, caro leitor, estiver com a insanável dúvida em mente do porquê eu ter recomendado extrair o açúcar completamente da dieta, eu posso exlicá-lo bem sinteticamente: logo após comer um doce ou qualquer alimento adocicado com açúcar, você se sente feliz. Mas é um momento de felicidade que alcança o pico e decai rapidamente. Para um depressivo, o ápice da felicidade pode se dar durante o consumo de uma gigantesca barra de chocolate ou de uma lata de leite condensado (como eu já fiz incontáveis vezes). E depois, o que segue? Letargia. E o estado letárgico em um depressivo deve, e pode, ser evitado, com a adocicação por meio do mel. Adoçantes - com excessão do Stévia - são artificiais e não recomendados por um dos mais conhecidos médicos dos EUA, o dr. Mercola. Você deve estar incomodado com a questão: e quanto ao café? Bem, vou te dizer que nunca tentei com mel. E nem tentarei, pois o verdadeiro café revela seu forte e inigualável sabor, aroma e fragor quando puro. Encaro o café como o vinho: leia o rótulo do seu vinho e descobrirá que, ao contrário de muitas outras bebidas alcóolicas, ele não contém açúcar. E quem já bebericou a variedade Porto, deve estar ciente de como ele é doce. O café puro não é doce, mas só conhece o verdadeiro sabor do café quem o aprecia puro...

Boa sorte.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Auto-Ajuda

Vida mal-resolvida

Não é vida.


Resolva e viva!

(a vida é tua)


[É Tua A Vida].

(...)

Esperei ansiosamente o momento


Mas ele nunca veio...

(por que não fui atrás?)


[Por Que Não Vou À Frente].

A Verdade Monacal

Se tu me tratares com frieza;
Caso tu me trates com gelidez glacial;
E me esnobes, por fim, com aspereza,
Ainda assim, não levarei a mal.

Perguntas-me por que tanta calma;
Não sabes tu, então,
Que o bom aprende a perdoar,
E perdoa no aprender?

Que sua calma vem d'alma
De sua vida de ermitão
Virtuoso, a meditar,
Observando o entardecer?

Eis a vida, meu irmão,
De um monge sacristão.

Não bebe, não fuma,
Não ostenta, é frugal.
A mente guia, a alma ruma,
Vida iôgue, lar natural.

Os olhos a atravessar
O mundo, tal navalha;
Por ele a enxergar,
Fosse este fina, crivada malha.

Eis a vida salutar,
Consagrada a meditar:
Seu ser a transcender
Do homem, chão parecer.

Tamanha é sua meta:
A mente segue arquitetando,
No imo santo do asceta,
Novos horizontes divisando.
Quiçá encontre estrada reta,
Ou prosseguirá meditando...

Parece pacata essa vida,
Mas, de lado, deixou família,
Dinheiro, o resto do mundo;
Mulheres, o podre e imundo.

Para assumir, então, nova lida:
Espadelar o íntimo, fazer partilha,
A imergir no âmago, a fundo,
Encontrará o Inconsciente Raimundo.

Orando, próximo a Deus,
A dorida genuflexão diária.
Não é vida extraordinária,
Mas são passos dignos seus...

Alcança a paz, monge.
(diz ele:)
"Ainda estou longe..."

terça-feira, 9 de setembro de 2008

(Clarice disse sobre:) As Entrelinhas Não-Esmagadas

Fiz por merecer!


...


(será que fui só eu...)

Recôndito da Vida

Habito uma ermida
Discreta, recatada
Belamente empedernida
Por fora os outros,
Por dentro a vida.

A vivência esculpida
Na temática florida
O vivente florilégio:
Cá não há sacrilégio!

Pois no meu lar
O paredão ganha vida
E o monótono ressoar
Adquire uma tonalidade vivida

A fusão das cores
De todas as flores
Que compõem esta vida
É suficiente para deslumbrar
O homem mais egrégio,
A vida mais sofrida!

Meu recôndito habitado
É o sonho estruturado
Sem medo, desbravado
Este horizonte deslindado
Está apenas começado...

O inconsciente mostra seu negro lado
O consciente, então, admite ter dormitado
Hã!
Enquanto isso, o ser seguiu indomado
Pendendo ora pra lá
Ora preste lado...

Não há problemas
O áporo será em breve sanado
Quão breve?
Eu não sei...
Nostradamus não sou!
O futuro se abre aos meus olhos
O passado será finalmente desvendado...

O sonho está somente iniciado!
Abram alas!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Autobiografando

Meu irmão puxou minha vó,
Benonina.
Mente branda,
Perna fina.

Eu puxei meu vô,
Armando.
Ímpeto vivo,
Coração pulsando.

A vó levou vida dura,
Campesina.
Ambos pelejaram longamente,
Laborando.

Não sou um nem outro,
Mas um pouco dos dois...

Meu nome é Fernando.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Zaratustra Renasce Poeta

Se Deus escreve reto,
Quiçá por linhas tortas,
Não sou eu Seu neto,
Para julgar palavras mortas...

Diz-se, de passagem,
Que o homem é filho
Mas - Olhai a paisagem!
Que ser vivo não é Seu filho?

Por que incluir a espécie humana
Qu'enquanto viva tudo profana?

Por quê? Por quê?
Vá, Narciso, plantar banana!

Se mudares, um dia, de idéia,
Serás, então, sem trégua perseguido,
Por vil turba multa, tal feroz alcatéia
Que te chamará de Anticristo renascido!

Ô, Zaratustra! Donde estás?
Dizei ao homem
Que não existe Satanás!

As nuvens que lhe fogem,
Sombras que o cobrem,
Ó, vil homem!

Que o tomem por vilão!
Mais vale a íntegra alma
Que dois pássaros a escapar da mão...

Labora, humanidade!
Assim jamais será em vão
Que pios membros da sociedade
Em breve te sepultarão...

Irás com a multidão desenfreada,
Perder-se, a esmo, no caminho?
Valerás mais, deixando lá a manada,
Percorrendo-o, quieto, a segui-lo sozinho...

Separai, pois, em vida, o trigo do joio:
Procurai entre os homens e mulheres
Aquele que será mútuo apoio
Em meio à guerras vis, porque reles

Vazias de significância ou razão
Carnificinas onde a alma
Do homem, mesmo estando calma,
Esvai-se-lhe pouco a pouco, em vão!

Ó, sacristão, dizei à multidão:
Não é a quantidade que define
Se tu és verdadeiro cristão!
Largar a boiada não é crime,
Mas a chave à tua salvação!

Ao menos salvarás tua consciência,
Largando a impensante aglomeração
De pessoas, sem a mínima sapiência
Do que o é se ter religião...

A apaziguada moradia desta
Jaz cá, no interior do coração
Não venha com a ignorante, dita jesta
De que a fé nada tem c'oa razão...

Vá bradar desatinos em tua sesta
Onde ouvir-te-ão sem acreditar
Pois dormindo, a murmurar,
Julgar-te-ão bêbedo da festa:

Dionísica, digna de Baco!
Regada a vinho e pêlos de sovaco...
De homens crentes -
Em um Deus bebericão!
Que caem embebidos e inconscientes,
Após mal conseguir(em) pronunciar
As palavras do que um dia constituiu
De fato uma oração...

Inspiradas pelas palavras de um Homem
Que mostrou à Humanidade o que é Amar
Somente para esta logo corromper a verdade
Transformando-a em utilidade, praticidade
Inverdade,
Futilidades...

De homens hereges
Que dão suas próprias matizes
Ao que falsamente designam: Religião.
Cospem asquerosas sobras à pedinte multidão
Que em vão procurará: vestígios de razão...

Verdade, coesão...

Foi-se tudo com a infeliz libada,
De uma corja canalha, safada!
Que engana os sedentos por religião,
Desconhecedores de que esta habita cada coração...

Mas, neste mundo, felizmente nada é em vão
Poucos, muitos, sabe-se lá?
Hão de acordar ante às bofetadas, sim, despertarão!

Talvez, assim, descobrirão
Não ter sido de toda má...
A ida desilusão...

Redação do ENEM 2008

(Prova 4 - Rosa, proposta nº3: "suponha que, para manter essa "máquina de chuva"(floresta amazônica) funcionando, tenham sido sugeridas as ações a seguir: .... 3. aumentar a fiscalização e aplicar pesadas multas àqueles que provmoverem desmatamentos não-autorizados.")

A fiscalização deficitária da colossal floresta amazônica é, senão a principal, uma dentre as principais razões porque o desmate segue virtualmente indetectado.

Aponta-se, portanto, a premente necessidade de, lado a lado a uma fiscalização extensiva* e coordenada sob os auspícios do que há de mais moderno em padrões de tecnologia, implantar uma rigorosa aplicação de multas aos que insistam em desmatar a floresta outrora erroneamente concebida como o pulmão do planeta Terra.

Necessitar-se-ia, por conseguinte, de massiva veiculação, pelos meios midiáticos e, sobretudo, pelo âmbito televisivo, da firme e irrevogável medida para a salvaguarda deste patrimônio nacional e, em maior escala, global, até então aparentemente ignorado.

Cabe finalizar ressaltando as inumeráveis dificuldades e todos os obstáculos prestes a serem transpostos, seja no campo jurídico, ou no de policiamento. É chegado o momento em que o embate travado beirará o patriótico ou, sob outro ponto de vista nada antagônico, o verdadeiramente revolucionário.

*o termo correto, que me esqueceu na hora H era não extensiva, mas OSTENSIVA...

Elos & Anelos

À boca vem-me o amargar.
Porque me contemplas com esgar?
Não sou mais que (as) ondas deste imenso mar...

Perturbas-te, então, o fenecer,
Inevitável, sucedendo o crescer?
Saiba, pois, que o que viça, há d'um dia perecer...

Quiçá desconheça o porvir,
Por mais garboso seu porte, ó vizir,
A inescapável morte... em teu ouvido irá zunir...

Majestoso seja ver o sol se pôr:
Da vida as labaredas hercúleas libertam seu fragor.
Estão - as emoções - contidas no inexprimível amor...