sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Depressão

Como uma leitora apontou, faz tempo que não proso. Há quase um mês minhas postagens têm sido poemas e, por fortuitas vezes, poesias. Qual é a diferença entre um poema e uma poesia? Não te fornecerei a diferença lexical, mas a que reside na essência. Um poema tem, sobretudo, a forma. Uma poesia, por sua vez, revela-se não só na estrutura, porém transcende esta para revelar as facetas de algo mais interno, requerindo uma leitura aprofundada, compenetrada.

Por que não escrevo textos há tanto tempo é uma questão interessante. Remete, primordialmente, ao fato de que as poesias me vieram naturalmente. Poeta não bate carteira, e eu sigo à risca tal afirmação. Entretanto, vou seguir o que propõe o título, sem mais delongas.

Depressão. No minidicionário Caldas Aulete (2004), o verbete vem assim definido: 1. Ação ou resultado de deprimir(-se). 2. Psiq. Estado patológico, de natureza orgânica e psicológica, que envolve abatimento, desânimo, inércia, às vezes ansiedade. 3. Redução, diminuição. 4. Concavidade pouco profunda. 5. Econ. Período de baixa atividade econômica com desemprego generalizado. 6. Geog. Terreno ou região emersa situados abaixo do nível do mar.

A acepção de depressão que este artigo concerne é a enumerada em 1 e 2. Posso discorrer sobre o assunto porque desde que entrei no CEFET-SP passei por umas boas fases depressivas. A primeira sensação que se tem é um forte desamparo. É um sentir-se nu perante o mundo todo, que te vê com maus olhos. Tudo isto, claro, pode ter um fundo de verdade, mas consiste em uma ilusão difícil de se quebrar. E há o problema de, quebrando-a muito rapidamente, partir-se junto. Sim, dividir-se em várias polaridades que, retesando cada uma a corda do seu ser para o seus respectivos lados, podem acabar por fragmentar-lhe indefinidamente.

Por sorte ou outra intervenção divina, não fui subjugado a tal ponto. No entanto, apesar de, na parcela majoritária das vezes, não haver seqüelas, as diversas fases depressivas que assolam a pessoa tendem a habitar os recônditos da mente, aquela porção inconsciente deslumbrada por Sigmund Freud, Josef Breuer, Carl Gustav Jung e tantos outros precursores da Psicologia Moderna. Aquilo que você não trata, um dia bater-lhe-á à porta. E tu acabarás por abri-la ao "desconhecido". Não te julgues forte quando isto ocorrer.

Se, por um lado, a depressão degenera e desconstrói o castelo construído por ti a árduos esforços, a superação desse estado proporciona um aprendizado indescritível. O estados pós-depressivos que se deram em mim foram marcados por sucesso na vida social - discurso em japonês em outubro de 2006, certificado de proficiência na língua inglesa em dezembro de 2007, e por aí vão. E, porque não, um refortalecimento interno, digno de um guerreiro que se reergue em pleno campo de batalha, em meio a flechas e ataques iminentes.

Assim, a pessoa que se recompõe internamente após períodos depressivos sente-se capaz de fazer frente aos mais diversos desafios que a vida certamente lhe proporcionará. Por isso, não encaro a depressão como uma doença, no sentido estrito da palavra. Nós, os depressivos, não somos doentes, físicos ou mentais. Não somos homogêneos, não partilhamos dos mesmos sintomas, das mesmas características. De forma alguma há um tratamento externo. A verdadeira cura depende do próprio depressivo - e isso não é auto-ajuda, meu bem.

Naquele dia em que parece instrasponível o obstáculo de levantar-se do leito em que jaz, o depressivo não terá a mão amiga para lhe ajudar. Pois, mesmo que haja, de fato, alguém próximo a si que o sustente naquele momento, nada exterior a si o impedirá de recair sobre a cama e pôr-se a chorar suas internas mágoas. A mesma mão amiga prova-se inimiga, porque pode infligir dependência. Não falo de dependência de drogas, anfetaminas e toda sorte que se produz atualmente. Digo da dependência daquele alguém que estendeu o braço para levantá-lo e, posteriormente, o ombro para os prantos que eventualmente se seguem.

Eu, como depressivo, não recorri, nem, reitero, recorrerei a drogas, farmacêuticas ou não, de qualquer tipo. Até porque estas produzirão o mesmo fenômeno de dependência. E isso é evitável. Direi como se restabelece em um período depressivo: por mais doloroso e sem sentido que seja a princípio, o depressivo deve, enfatizo, tomar muito sol. Por quê? Simples: porque nossos estados emocionais condizem com a bioquímica que se desenrola nos nossos corpos. Mente e corpo são inseparáveis. O sol dissolve pouco a pouco a desolação profunda que toma conta do depressivo.

Outro fator importante: jamais interromper leituras, caminhadas, exercícios físicos - de preferência intensos e conjugados, de forma a não "sentir-se feliz" unicamente por um deles. A meditação entra em cena: por dia, reservar 20 minutos de seu precioso tempo a observar a respiração. O exercício é o seguinte: de preferência, sente-se naquela famosa postura de asceta, com as pernas cruzadas. Não consegue manter-se por muito tempo na posição de lótus? Nem eu. Cruze, simplesmente as pernas, faça um círculo com o polegar e o indicador e estique os dedos restantes, apoiando as costas das mãos sobre os joelhos. Fique com a coluna ereta. No começo, bastam 10, 15 minutos. Depois, há veteranos que conseguem ficar longos períodos de tempo sentados desta maneira, sem cansaço físico. Tendo se sentado apropriadamente, o passo seguinte será dividir, mentalmente, sem qualquer interferência no processo físico de respirar (porque alterar deliberadamente a respiração pode ser danoso à saúde), o processo respiratório em três fases: a inspiração, a expiração e, o fundamental nesse tipo de meditação - o que funcionou comigo, condiz dizer -, o intervalo entre inspiração e expiração.

Em 2005 chegava periodicamente ao Objetivo Cantareira, meu colégio pré-Federal, um jornal gratuito de circulação mensal, chamado Magus. O primeiro exemplar explicou a importância da meditação de uma forma que comprovei logo após, nas dezenas de vezes que a empreendi: se você conseguir observar o intervalo compreendido entre inspirar e expirar, de forma total, um após o outro, conseguirá transcender corporealmente não só durante a meditação, mas após terminado o exercício. O efeito de relaxamento pode estender-se por minutos ou horas nas primeiras vezes. Consolidada a prática, entretanto, a meditação começa a fazer parte de sua vida, e o efeito persiste até no dormir. Meus sonhos de repente tornaram-se lúcidos e, ao acordar, passei a relembrá-los na íntegra, como se tivessem sido reais. E mais: cada sonho revelava o que se passava no meu interior, no porão do Inconsciente. Minha memória foi tornando-se impecável. Conseguia recapitular todos os eventos do dia, com sua particularidades e minúcias, com o significado que haviam tido para mim. Cada evento externo tornava-se decifrável com a prática diária da meditação. Passei a dormir plenas e restauradadoras 7 horas de sono. Sem tirar nem pôr. Há praticantes que dizem dormir meras 5h de sono, completamente restauradoras, sem um único bocejo ao longo do dia.

Passei a ler mais e assimilar mais do que lia. Minha disposição, física e mental, aumentou expressivamente. Muitas vezes acordei, após meditar antes de deitar, na mesmíssima posição em que me deitara na cama, sem qualquer alteração nos lençóis. E isto foi um baita sinal de que este salutar hábito diário estava desencadeando positivas mudanças em mim, uma vez que eu sempre havia me mexido em excesso durante o sono.

Bem, a meditação está sendo estudada cientificamente e já se comprovou que: as pessoas que meditam freqüentemente conseguem suportar dores insuportáveis para os não-praticantes; conseguem se concentrar em situações de barulho e ruídos que tirariam a concentração do mais compenetrado vestibulando pretendente à Medicina; dormem integralmente, alcançando todas as fases do sono mesmo repousando menos horas que o comumente recomendado pela medicina atual. Têm a liberação de hormônios causadores de estresse consideravelmente reduzida durante provas que envolvam números, perdendo o "medo à Matemática" e às ditas exatas. E, após longo período sem dormir as horas que lhes cabem, a simples prática da meditação consegue tirar grande parte dos sintomas - nervosismo, ansiedade, tiques nas pálpebras dos olhos, etc - das pessoas que a realizam - meros 10 minutos podem ser, de fato, milagrosos.

Tudo o que a ciência viria a comprovar após eu ter descoberto a prática meditativa em 2005, por meio do já citado jornal Magus, eu já havia sentido por mim mesmo através das minhas experiências.

Dediquei extenso espaço a descrever como se realiza a meditação e seus benefícios porque trato, especialmente neste artigo, da depressão. E quem medita, não entra em depressão. E quem entra em um estado depressivo, deve meditar. Sem esperar resultados, seguindo os passos de observação da respiração. A expectativa pode vir a estragar tudo. Não faça esta besteira. Não só com a meditação, mas nos demais aspectos de sua vida. Não há porque ficar antecipando isto e aquilo, sem ter bases concretas. Sem ter o feeling, o insight.

Outra questão biofisiológica da depressão: passe a comer saudavelmente. Sim, tire de seu cardápio tudo o que for industrializado. Peça à sua mãe ou faça você mesmo: compre frutas, verduras, mel, e capriche no bom arroz e feijão, refeições mais leves ao longo do dia e, se possível, descubra duas ou três posições básicas de Ioga. Pratico a Ioga, atualmente, de forma bem mais freqüente do que a meditação. A Ioga não deixa de ser uma forma de meditação, e a meditação não deixa de ser uma forma de Ioga. É uma pseudo-divisão criada por alguém que queria embolsar bastante grana com a abertura de "centros" - pagos, claro - separadamente destinados a essas práticas.

Você pode meditar em casa, fazer Ioga em casa e recuperar de sua depressão em casa. Tome sol, tire o açúcar de sua alimentação, não deixe de ler, de sair, de visitar lugares novos, de expandir sua mente.

Ao açúcar agora. Foi muito simples tirá-lo de minha alimentação. Eu tomava leite com Nescau/Toddy/Nesquik, enfim. Passei a tomar leite puro. Depois, descobri a coalhada. Compre leite do tipo C, ferva o litro, despeje-o numa vasilha de vidro (o plástico, quando em contato com líqüidos ou alimentos quentes, libera toxinas nocivas). Depois jogue um ou dois potinhos - daqueles de 200g - de iogurte natural (Batavo, Vigor, escolha qualquer um, porque todos dão certo) e dissolva. Deixe o recipiente parado de 16 a 24h fora da geladeira, e estará formada sua coalhada. Ponha mel e seja feliz. (Não esqueça de guardar o recipiente com o restante na geladeira).

Eu comia bastante bombons e doces de todo tipo. Substituí por banana, mamão papaia (bem mais doce que o formosa), e frutas afins. Sobremesa? Pra quê, seriamente? Coma frutas de sobremesa. Sucos: se você gosta de sucos, como eu, elimine, se já não o tiver feito, os artificiais de seu cardápio. Não têm valor nutritivo e podem ser facilmente substituídos por um suco naturalmente batido no liqüidificador com água e alguma fruta - goiaba, maçã, usufrua de sua imaginação. Quanto às vitaminas, leite com frutas mais pesadas, como banana, abacate, etc, são deliciosas sem açúcar, ou mesmo com adição de mel (colocando-o quando o liqüidificador estiver batendo, para não ficar no fundo). Eu me acostumei sem me lamentar.

Você não depende de nada industrializado. Nada. Barras de cereais? Leve duas maçãs e uma banana na mala e não se arrependerá.

Se você estiver depressivo e passar a seguir o pouco que consegui expressar aqui, verá que cuidar do corpo é cuidar da psique. E o contrário não deixa de ser verdadeiro.

P.S.: se você, caro leitor, estiver com a insanável dúvida em mente do porquê eu ter recomendado extrair o açúcar completamente da dieta, eu posso exlicá-lo bem sinteticamente: logo após comer um doce ou qualquer alimento adocicado com açúcar, você se sente feliz. Mas é um momento de felicidade que alcança o pico e decai rapidamente. Para um depressivo, o ápice da felicidade pode se dar durante o consumo de uma gigantesca barra de chocolate ou de uma lata de leite condensado (como eu já fiz incontáveis vezes). E depois, o que segue? Letargia. E o estado letárgico em um depressivo deve, e pode, ser evitado, com a adocicação por meio do mel. Adoçantes - com excessão do Stévia - são artificiais e não recomendados por um dos mais conhecidos médicos dos EUA, o dr. Mercola. Você deve estar incomodado com a questão: e quanto ao café? Bem, vou te dizer que nunca tentei com mel. E nem tentarei, pois o verdadeiro café revela seu forte e inigualável sabor, aroma e fragor quando puro. Encaro o café como o vinho: leia o rótulo do seu vinho e descobrirá que, ao contrário de muitas outras bebidas alcóolicas, ele não contém açúcar. E quem já bebericou a variedade Porto, deve estar ciente de como ele é doce. O café puro não é doce, mas só conhece o verdadeiro sabor do café quem o aprecia puro...

Boa sorte.

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