terça-feira, 16 de setembro de 2008

Clarificando

"Ensaio Sobre a Cegueira" ("Blindness", 2008), dirigido por Fernando Meirelles, é um filme, em todo sentido da palavra, impactante.

Assisti a esse compenetrante longa-metragem neste último domingo, 14/08. Tem cenas fortes, tomadas chocantes, porque captam o animal que reside dentro de nós ou, mais eufemisticamente, como Machado de Assis colocou, o "verme roedor" que se encontra dentro de cada um. Os ingleses, concisos e precisos em seus provérbios, já diriam "We are our own worst enemies" (Nós somos nossos piores inimigos).

O que o filme retrata é, de fato, a cegueira humana, e essa acepção é ampla o suficiente para ter dado à luz este filme pungente, verídico. Afiado, desmistificando o homem: mostrando, dele, o bom e o ruim. O bem e o mal. E indo além disso. Teria mesmo orgulhado Nietzsche, por apresentar de forma tão comovente o transcender do Bem e do Mal, e isto não é paródia barata ao homônimo livro do filólogo germânico.

Quem leu "O Homem Que Calculava", escrito por nosso genial conterrâneo, Júlio César de Mello e Silva (vulgo Malba Tahan), deve se lembrar, na voz de um dos personagens, que "O exagero é uma forma disfarçada de mentir!". Pois, tendo aprendido um pouco a partir desse livro, de todo deslumbrador, não exagero. É um grande filme.

O prelúdio acima serve para explicar o porquê de duas postagens recentes aqui no blog, uma seguida à outra, que são, cronologicamente: "Ensaio Sobre a Cegueira (e sobr'a brava que os salvou)" e "Pedra Esmerada". O primeiro, escrito logo que cheguei em casa, ainda fortemente transtornado pela densidade psicológica da película (para não ficar reescrevendo filme, filme, filme...), é o que mais remete ao que apreendi(lembra de Kant?) de sua essência, do que ele intenta mostrar a quem o assiste. O segundo, por seu mérito, já é mais "racional", porque feito um dia após, com as emoções pouco mais mitigadas; mas, de forma alguma, neutro, no sentido emotivo.

Ambos, portanto, têm relação direta com o filme. Não são apenas reminescências. Sem o filme, nunca teriam sido concebidos tais pensamentos, não serei presunçoso. Se tais idéias moravam no meu Inconsciente, despercidas, flutuando no éter do meu ser, foram então brutalmente depertadas pelo caráter incisivo do filme. Se, por outro lado, não eram idéias incipientes, então consistem no que, de praxe, denominamos "inspiração".

Não se é preciso lê-las segundo qualquer ordem. Aliás, "Pedra Esmerada" sofreu abertamente outras influências que não o filme. O suor que me transpirou no decorrer do filme, tentei passá-lo todo para "Ensaio Sobre a Cegueira (e sobr'a brava que os salvou)". É uma poesia reflexiva. Não serei esnobe a ponto de dizer que escrevo, sempre, poesias dignas do nome. Mas essas duas, em particular, garanto que não servirão de adorno.

Teu tempo é precioso. Não o perca hesitando.

Um comentário:

Patricia São Miguel disse...

Lindo! vc me inspira! adoro ler seus textos e tenho os acompanhado quase que diariamente, muito para aprender com suas letras!
vou lhe indicar 2 blog´s, links diferentes mas de mesmo autor, Prof Julio Pimentel, amante da literatura e so cinema! foi meu professor de America Latina Independente, uma pessoa fantastica!!!

http://paisagensdacritica.wordpress.com/
http://paisagensdacritica.zip.net/

continue crescendo assim rapaz, vc chegará longe (rsrs) e espero poder acompanha-lo!!!!!!!!
um grande beijo