quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Aos Vivos, A Morte

Estavam ensacando o corpo,
Quando cheguei à Estação.
Eram os restos de um morto.
Suicídio: Fim: Terminação.

Esse, ou essa, que morreu,
Transformou-se em história.
Que agora vou lhes contar.

Os tormentos de uma vida,
As aflições vividas,
Converteram em mártir:
Mais um cidadão.

O que se passa neste Mundo,
As alegrias que se vivem.
O que são, senão poeira,
O pólen que se espalha?

O saber e o conhecer,
São virtudes do Crescer.
Quando não mais os atinge.
É-se passível morrer.

Porém, mais fácil é pensar,
O cogitar em suicídio,
Do que realizá-lo.
Em via pública...

Súplica... De uma vida.
Rogou por viver.
Mas, não agüentando,
Decidiu-se por morrer...

O fenecer desta Memória
O contar desta História
Que transfigura-se em Estória,
Jamais tida como glória...

A dor de perder a vida,
Do ensacar restos mortais,
Estampados nos rostos
Dos guardas que recuperaram
Suas partes vitais...

Pergunto a um
O que sucedeu:
"É uma pessoa...
Que morreu..."

Palavras lhe faltam:
E também me fugiriam!
S'eu estivesse ali, decerto,
Meus sensos desmaiariam.

Perdi a fome, perdi.
Até a vontade d'urinar
Só de ver a tribulação,
Nos rostos a guardar
Pedaços de um viver...

Por quê? Questiono,
E atino, a juntar,
As razões que fariam
Alguém acabar,
Com a própria vida...

Pouco me importo
Com o Atraso;
Com adiar minha chegada,
Em casa, em meu lar.

Alguém se matou!
E isto é mais importante,
Que minhas preocupações
Temporárias...

Poderia esperar quanto fosse!
Sou humano.
Sim, esta vida que se foi,
É mais importante
Que estresse,
Vil pontualidade...

Que a futilidade,
De se chegar no horário...
Aos Diabos, aos que reclamam.
Não sabem, pois, que alguém se matou?

Poderiam ser vocês mesmos,
Egoístas resmungadores.
Ali, nos trilhos,
Recolhidos, restos maltrapilhos...

Ensangüentados,
A causarem-me enjôo.
Náusea de ver Algo ensacado.
Um corpo ensopado,
De sangue e sofrer...

Pouco me ferro,
Ao que pensarão:
Religiosos que pregam
A Derradeira salvação...

Ignoram que a morte
Epreita-lhes a vida,
Enquanto sibilam Ilusão...

Com palavras: aconselham,
A caminhada: não seguem,
Vãs palavras que proclamam...

Pouco, ou mesmo nada,
Sabem do que é suicidar-se
Ao destino dizer: "acabou!"
E seu corpo entregarem...

Crê na vida?
O que há para se crer?
Se você nem liga
Pra quem acabou de morrer.

Não se chame ser humano.
Não!
Se a morte não te causa
Enjôo e náusea.

Não denomine o morto:
Ateu, ou herege.
Profano és tu,
Que se dá
A julgar
Mal.

Pois,
Antes veja,
Que ele ou ela,
Também não sofreu?
Como ti, não viveu e amou?
E, há pouco, justamente faleceu.

...

A sociedade se choca.
Mas somente assim,
Não é mesmo?
Que tiramos os olhos,
Do nosso próprio umbigo.

E vemos àquilo, a que
A vida vem nos preparado,
Desde que a bolsa materna
Se rompeu.

A vida nos cuida
Para este fenômeno,
Este vivente prolegômeno:
Existencial
Porque mortal.

Não será em vão,
Meu caro,
Minha cara,
Sua crise existencial.

Em minha depressão,
Vejo-o como igual.
A Deus
Adeus.

Prossiga.

(A ti,

Uma próspera, próxima vida.)

Nenhum comentário: