quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A Verdade Monacal

Se tu me tratares com frieza;
Caso tu me trates com gelidez glacial;
E me esnobes, por fim, com aspereza,
Ainda assim, não levarei a mal.

Perguntas-me por que tanta calma;
Não sabes tu, então,
Que o bom aprende a perdoar,
E perdoa no aprender?

Que sua calma vem d'alma
De sua vida de ermitão
Virtuoso, a meditar,
Observando o entardecer?

Eis a vida, meu irmão,
De um monge sacristão.

Não bebe, não fuma,
Não ostenta, é frugal.
A mente guia, a alma ruma,
Vida iôgue, lar natural.

Os olhos a atravessar
O mundo, tal navalha;
Por ele a enxergar,
Fosse este fina, crivada malha.

Eis a vida salutar,
Consagrada a meditar:
Seu ser a transcender
Do homem, chão parecer.

Tamanha é sua meta:
A mente segue arquitetando,
No imo santo do asceta,
Novos horizontes divisando.
Quiçá encontre estrada reta,
Ou prosseguirá meditando...

Parece pacata essa vida,
Mas, de lado, deixou família,
Dinheiro, o resto do mundo;
Mulheres, o podre e imundo.

Para assumir, então, nova lida:
Espadelar o íntimo, fazer partilha,
A imergir no âmago, a fundo,
Encontrará o Inconsciente Raimundo.

Orando, próximo a Deus,
A dorida genuflexão diária.
Não é vida extraordinária,
Mas são passos dignos seus...

Alcança a paz, monge.
(diz ele:)
"Ainda estou longe..."

Um comentário:

laura sobenes disse...

ahahhahaahah! finalmente idem! (nem vi que você havia comentado quando comentei aqui. gostei da tua produção. vou linkar lá no meu.)

grande beijo! =)