segunda-feira, 4 de maio de 2009

Recordo

Eu - que nada queria com o mundo
Eu - que nada sabia da vida
Eu vim à vida e vim ao mundo

Eu - que nada sabia de gostos
Eu vim e provei dos desgostos
Eu vim para ficar
(Mas estou a me mudar)
Em busca de meu lar

Egrégio sentimento de altitude
Eu provei - e a queda não senti
Sei que caí, estou aqui
Para nascer, eu morri

Não sou eterno - isto,
Uma parte de mim quer ser
Nem sempiterno, visto
Que uma vez nascido
Haverei de morrer

Este mistério eu busco
Na comissura dos Teus lábios
Silentes - onipresentes
Ó, Símile, Bálsamo dos
Sábios...

Sábios e mortais
Sábios, mas mortais
Sábios - nada mais.

Que pude eu ver nas alturas?
Esqueci, no lago Léthes
Lá sorvi das amarguras,
Respondi às Tuas enquetes

Retorqui nada saber
Ante ao rio que ali fluía
Redargui e vim ao mundo
Nu, só, silêncio...
Profundo

Cego, pequeno, mortal
Meus pais me saudaram:
Puro, abstêmio, livre do mal...
"A esperança!"
Alegres, clamaram

Mas eu vim à luta,
Gume em mãos,
Findar a disputa
De falsos irmãos

Vim cindir ao meio
Bem e Mal
Repudiar o centeio
Fecundo em lodaçal

A peleja me forja.
Obduro!
Procuro
A paz

Só ela me faz
Só a luta é minha paz
Só ela - nada mais.

Nenhum comentário: