sexta-feira, 20 de março de 2009

Serpico (Sidney Lumet, 1973)


Belíssima atuação de Al Pacino, no papel de Serpico. Serpico, o policial que quer seguir o juramento, e manter-se honesto, sem auxílio de propinas... decisão difícil, pois todos seus companheiros aceitam-nas de bom grado, e ainda não haviam conhecido qualquer tira novo no pedação que não as aceitasse. Nem haviam topado com um tira barbudo, com brinco, estilo juventude contestadora, sempre usando roupas à paisana que o colocariam facilmente lado a lado a dançadores de Hip Hop.

Será que as roupas que Serpico veste revelam um pouco de quem ele é? Bem capaz, viu. Antes de ele ficar quase insano com as humilhações sofridas por ser um cara direito numa corporação corrupta até as entranhas, Serpico é a imagem do "bom homem". Suas namoradas (uma por vez, óbvio) o adoram, e torna-se amigo de todos os amigos delas também. É a encarnação do "sangue bom", "gente boa", "cara firmeza". Onde quer que esteja, dá seu máximo pra cumprir suas obrigações, sem jamais abusar do poder. Em uma cena, deixa a platéia inclusive estarrecida com o modo pelo qual consegue que um preso confesse: nada de sangue, algemas e gritos. Que tal um cafezinho quente, desalgemado e sendo tratado como um ser humano digno do nome? É. Percebi que o procedimento padrão não faz ninguém feliz na história.

E que é preciso chegar uns bons malucos no pedaço, com um pouco de princípio regrando sua conduta. Por isso, Serpico tem esse dom de mostrar como os "companheiros" de trabalho afastam-se gradualmente do estranho, tentando ajuntar provas e incriminações contra ele no processo. Porque um cara que faça tudo direito e "limpo" acaba arremessando os demais macacos sabujos literalmente na sombra. Filme que mostra que você é quem deseja ser, aspira ser e sonha ser. Nada de seguir com os outros, maria-vai-com-as-outras. Faça como bem entender, porque você é o único cuja confiança é merecida. Os outros? Quem são os outros? Os corruptos, os corruptíveis, os que amam um lucro fácil e por debaixo dos panos?

Nah. Ser diferente requer agir diferente. Agir diferente requer valentia. E quão caro pode lhe custar seguir o próprio coração? Bem, certas escolhas são incomensuráveis... e é preciso ter um objetivo muito bem firmado para seguir com elas adiante.

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