domingo, 15 de março de 2009

The Kautokeino Rebellion (A Rebelião de Kautokeino, 2008)


Senti-me tentado a escrever um pouco sobre este maravilhoso filme. Isso porque ao escrever a resenha de Far North (2007), rememorei ter assistido a outro também brilhante filme norueguês. Por retratar um evento histórico de expressiva repercussão na Noruega, increve-se, pois, no círculo de filmes baseados em histórias reais. Porém põe-se um pouco acima da maioria, visto que não é meramente um relato de dimensões individuais, mas uma insubordinação de todo um povo, habitante do município de Kautokeino, no território norueguês.

Kautokeino é a pronúncia norueguesa do termo sâmi Guovdageaidnu. Sâmi é a língua oficial de dois condados (divisões administrativas) e seis municípios da Noruega. O filme, portanto, é todo falado em Sâmi, o que oferece uma oportunidade de adentrar uma realidade fonética bastante singular. Apenas pela particularidade do idioma falado, não poderia dizer que é um grande filme, pois o é. Tenhamos, daí, uma melhor idéia do que consistiu a Rebelião de Kautokeino.

A comunidade sâmi do município de Kautokeino era praticamente coagida a adquirir todos seus produtos alimentícios de uma única mercearia; monopolizadores e sacanas, seus donos forneciam também bebidas alcoólicas, fazendo com que vários homens e suas respectivas famílias se endividassem e tivessem parte de seus rebanhos de renas (seu meio de subsistência) ceifados, em um quitamento de dívidas extremamente desigual.

Um morador, que tinha contato com o mercado distribuidor mais próximo, inteligentemente buscou a solução: contatar o padre da cidade para que solucionasse o problema do alcoolismo entre os homens da comunidade, que viraram presas fáceis e perdiam dezenas de renas periodicamente; e comprar diretamente do mercado, redistribuindo a preço de custo os produtos para a pequena comunidade, num projeto pragmaticamente socialista, por mais que seu feitor o ignorasse. E deu certo. Funcionou como ele imaginava.

Entretanto, os donos da mercearia levaram aquilo como um ataque pessoal, e fizeram de tudo, incluindo de prisões de moradores da comunidade a sérias ameaças a seu modo de vida, para obrigá-los a largarem sua religião (para que os homens voltassem a beber e se endividar e conseqüentemente perder seus valiosos rebanhos de renas), e para voltar ao velho e lucrativo monopólio. Foi um embargo criminoso, um embargo de ordem econômica, religiosa e social (aos seus modos tradicionais de vida).

Os moradores bravamente ergueram os braços, uniram-se e mataram os responsáveis por tamanho sofrimento. Com as próprias mãos, eles se livraram do mal, e disseram amém.

Mas as consequências haveriam de vir...

Um lindo filme, um justo tema, e uma belíssima atriz protagonizando a luta de um povo, e d'uma geração. Amaldiçoada pela inação e subsequente conivência do Estado.

Um Estado que obviamente não é para todos, mas, sim, para uma minoria rica, exploradora e pouco se importando com a desigualdade que promove por meio de sua ânsia injustificável por riquezas e mais riquezas.

Logo, um filme que incita a reflexão sobre o que é justiça, e o que nós podemos fazer.

Curse us, If we don't
Curse us, If we won't
We'll destroy iniquity
Affirming our community

We'll see what we can do
And will act upon what we daily see
The seeds of injustice and inequality

We'll pay in advance
And nothing will stop us
Not your supercillious glance
They can kill us
But they'll go first.

Informações a mais sobre a Rebelião de Kautokeino (em inglês): clique aqui.

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