quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Mutualismos

...os ismos do viver, os ismos do aprender... nada é duradoiro em um modo egoísta de ser... quando de praxe serve-se sobretudo a si mesmo, e vê-se a alteridade arrefecer... desintegra-se, rui-se... e só assim pode-se abrir espaço para um novo e diverso erigir... o reconstruir da memória, o reconstruir da História...

Fácil fosse o caminho percorrido
Esforço nenhum faria sentido
Lágrimas não haveria para os nossos
Chuva alguma nos molharia os ossos

O medo da perda nos fere
Antes mesmo da perda tornar-se possível
É o prelúdio da posse
E o fim de uma vida [a dois]

Inicia-se o ciúmes
E o amor se esvai por entre dedos
De uma mão que creu suster,
Fechada,
Toda a areia de uma infinita praia.

Um a um os grãos se vão
A mão, perdida, corrói-se
Na solidão
De ter sido egoísta
Contra todos os anseios
De uma alma previamente
Altruísta

Desbotam-nos as cores
Evadem-se os amores

A rija pedra aquecida pelas
Ígneas flamas do amor
É trespassada pela gélida
Correnteza
E desfaz-se em dor.

Esfarelam-se os planos
Vão-se os anos
E tudo aquilo por que
Tanto clamamos
Retorna, enfim,
À condição primordial
Da Não-existência.

Dilui-se a personalidade
Remanesce a essência.

***

Laços meus, teus
Entrelaços e abraços
Nós górgios
Nos recompomos em abraços

Apertados de carinho
Pássaros no ninho
A olhar a Criação
Todo o Universo
Num redemoinho
De Ação

Para que preocupação
Se a vida, em si, é uma lição?
Pois não nos preocupemos,
Vivamos e amemos

Com abraços
E amassos
Todos laços...
Joviais.

***

Um ano
Mudou sua vida
Ou um mês...
Toda ela se liquefez

A sáxea vontade que cria ter em si
Falhou...

Ao giro da moeda, sua outra face se mostrou
Desgosto tremendo...
Vivendo e aprendendo.

Pensava e cogitava ser assim e assado
O prato de baboseiras foi revirado
E revelou um futuro desconexo
D'um brilhante passado...
Que todo seu presente era um bife mal-
Passado.
E todo seu âmago era um ser mal-
Amado
E nada amante.

Foi enfim engolido por uma boca hiante
Mais medonha que o Averno de Dante
Pois na Geena ele penou, sem nenhum Virgílio como tutor,
Mas apenas aprendendo na força e na marra,
Na desilusão do desamor -
Que um futuro
Promissor
Eclodia de um presente
Estertor
Um brado rábico de desesperança,
Angústia
E
Dor.

Dos cavos infernos da memória
Viu surdir em si o
Amor
E d'uma vida pouco notória
Desabrochou o
Autor
Ainda mal-
Amado
Ainda nada amante

Mas ainda alguém a auscultar
Em toda desgraça passada
Sempre um esplendor.

A vitória na derrota
O apogeu na debacle
O zênite no nadir
Um Yin-Yang do aprender:
Perde-se, para poder ganhar
Ganha-se, para poder perder

Pois a vida é uma Luta,
A persistência da Lição.
Nada nos é dado,
Senão por competência,
Se a vida, então, é Dura,
Assim o é a existência.
[À toda personalidade,
Precede uma essência...]



(poesias escritas antes da passagem do ano novo, talvez antes mesmo do Natal, mas devido a problemas no computador, não puderam ser publicadas anteriormente.)

O formato em que elas se encontram, isto é, uma seguida a outra, não é por capricho de digitação ou para salvar três publicações separadas. Pelo contrário, foi assim que as concebi, uma seguida à outra, e nesssa ordem aqui presente. Quiçá tenham alguma relação, algum elo, enfim, algo que explique eu as ter pensado e trascrito uma após a outra, em questão de minutos. A epígrafe - em itálico -, que encabeça esta publicação, foi pensada após a conclusão do "tríptico poético". A meu ver, a carapuça não serviu mal. Talvez fosse meu próprio sofrimento pessoal do momento me inspirando e convertendo O Grito em Arte, como o fez o pintor norueguês Edvard Munch.

(O Grito [Skrik], Edvard Munch, óleo e pastel sobre cartão, 1893)

Não é mesmo? O desespero tem de fato um poder inacreditável.

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