Democracia? Não. Ainda se está muito longe de um governo eleito e direcionado pelo povo. Talvez uma plataforma de governo plenamente democrática seja somente mais uma utopia, perseguida e morta, tal qual os irmãos Caio e Tibério Graco. A rede BBC, por exemplo, não aceitou colocar no ar propagandas para doações à Gaza, encabeçada pelos 13 mais representativos centros de caridade da Grã-Bretanha, incluindo a Cruz Vermelha, Oxfam e Save The Children.
O mais espantoso é o fato de que essas mesmas instituições de caridade conseguiram pôr no ar, na BBC, chamadas para doações para a República Democrática do Congo e outros países afligidos por conflitos e miséria, em anos anteriores. Em 2006 essas mesmas instituições, por problemas técnicos referentes à dificuldade de entrega, julgaram uma possível ajuda ao Líbano - então sitiado por Israel - inatingível, devido às circunstâncias. Coincidência ou não, Líbano e Palestina foram atacados por Israel. É óbvia uma certa resistência por parte das grandes corporações midiáticas de colocar no ar propagandas que mostrem que se situam politicamente do lado dos palestinos.
O diretor-geral da mais influente rede televisiva britânica, Mark Thompson, alegou que a divulgação na BBC de pedidos de ajuda e doações seria um indicativo da posição política tomada pela emissora, o que afetaria uma perspectiva jornalística imparcial. Bom, isso é conversa pra boi dormir. Vários leitores protestaram no blog do diretor, onde ele postou essa baboseira melíflua e enganosa. Um deles emitiu sua opinião, com a qual sou forçado a concordar: "Desculpe-me, Mr Thompson, mas você não pode querer ter em mãos ambas as coisas. Se a decisão de acatar ao pedido do DEC (Comitê Emergencial de Desastres, formado pela cooperação das 13 instituições de caridade) é visto como [tomar uma posição] política, então a decisão de não aceitar o pedido é também política." Eu diria que esse comentário é no mínimo acurado: se passar propaganda para doações à Palestina é uma posição política, não passar também o é. Oras, não há imparcialidade, e não há como ficar sobre o muro - porque seria impossível aceitar e não aceitar um pedido desses ao mesmo tempo. Como sempre, as situações reais muitas vezes impedem esse papel imaginário do observador imparcial. Chega uma hora em que o muro cai e você cai junto se tentar se equilibrar em cima dele, ao invés de pular logo para um dos lados.
As notícias têm esse dom de chocar, especialmente esta última que li: soldados israelenses receberam a ordem de não se deixarem ser capturados como prisioneiros. "Não importa o que aconteça, nenhum de vocês vai ser seqüestrado," foi a ordem dada pelo comandante inidentificado de um pelotão, em discurso às suas tropas antes ao início da luta. "Nós não teremos um segundo Gilad Shalit".
Shalit foi o cabo israelense tomado como prisioneiro há três anos, e que ainda se encontra nas mãos do Hamas. O grupo militante exige - em troca da libertação do soldado israelita - que sejam soltos mais de 1.000 presos palestinos. Soldados foram inclusive instruídos a atirar e causar explosão em qualquer comboio transportando um possível soldado israelense seqüestrado, e a se auto-explodirem com suas próprias granadas junto com seus seqüestradores, não havendo outra saída.
As linhas finais do vídeo acima merecem repetição: "A Alemanha foi processada por Crimes Contra a Humanidade. Será Israel? Você decide. Tudo o que é necessário para o mal suceder é a inação dos homens de bem." O que nos traz uma reflexão: o primeiro passo para agir é conhecer. Para se conhecer o que está acontecendo, é necessário sobretudo buscar. Sem a busca, não há o saber. Sem a indagação, não há a ciência. A história é uma ciência, e ciência é parte fundamental da palavra cons-ciência. É exigido saber o por trás dos bastidores. Guerra é somente a inscrição presente nas cortinas dos palcos. Quem irá entreabri-las para ver o que jaz por detrás, senão cada um de nós? Porque a morte dos palestinos traz recordações do Holocausto, o Shoah judaico. As lições não aprendidas da História têm essa tendência inata de se repetirem no tempo presente - e o presente é o ponto de partida para o futuro. É este o futuro que almejamos? Um futuro batizado em sangue e fogo? Um futuro destroçado pelo sacrifício de um povo?
2 comentários:
Ótimo divulgação de tal texto e vídeo!
Gostei muito, gostaria de saber quem o fez, digo o vídeo, pois o texto sei que é tu e não desapontas...
Sobre crime de guerras eu gostaria de salientar que não só a Alemanha praticou tais atrocidades mas a antiga união soviética também! E muito! Inclusive cortando o seio de mulheres, narizes e olhos... Horrível! Me lembra muito 1984, tais desastras como o de Katyn! São horríveis! Ninguém julgou a união soviética de crimes contra a humanidade, POIS ELA VENCEU A GUERRA! Não importa, o time que está ganhando nunca será julgado por atrocidades! nunca!...
Horrível e até hoje, quem julgara isso a não ser os perdedores e arruinados sem voz nenhuma, como os Poloneses... quem? Após tanto tempo, quem jugar? Alguém jugou os romanos pelas atrocidades contra germanos e gauleses? contra os gregos? contra os cristãos? contra qualquer povo? ninguém... E sim, julgamos os Bárbaros pela invasão a Roma... Eles estavam errados, - Malditos Bárbaros!... Por que isso? A história sempre será tendenciosa... E contada por quem vence...
E estranho quem vence pode ter sido um derrotado um dia... Como os judeus... Ou vencedor, como os islâmicos que dominaram grande parte do mundo um dia! E hoje? São invadidos... Destroçados, após uma
época que já fizeram muito disso com cristãos... Engraçado como as coisas mudam de papéis?
E nunca NINGUÉM é inocente... Mas sempre haverão os criminosos... Os supressores... Que um dia foram os oprimidos... Acho que há um tendencia natural de inversão de papéis, inclusive psicológica... Onde aqueles que foram oprimidos tentam oprimir um dia... Algo curioso...
obrigado pela leitura.
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