Retorno de viagem. A esperança destroçada de um computador à espera, somada à dualidade avivada do fazer ou não-fazer. O que fazer, se a leitura de High History of The Holy Grail encontra-se impossibilitada, faltando apenas 50 páginas ou relativamente menos de seu término?
O que fazer é claro, até certa medida, óbvio. Resta-me aos olhos percorrer freneticamente as páginas e páginas de História e Geografia "devidamente didatizadas" para passar no vestibular. Não nego a certeza do passar na segunda fase. Mas o mérito da posição é acrescido com certa disponibilidade de tempo e alma para o estudo.
E as memórias... Ah, memórias e mementos de um Natal transcorrido em família, reencontrando meus bem-amados entes, malgrada uma má vontade inicial e incompreensível de fazê-lo. Fait accompli. Sem arrependimentos. Os tempos recentemente idos foram um regozijo para um espírito sem endereço nem lar, porque não o procurara com diligência suficiente e esforços compatíveis com semelhante busca.
Uma nostalgia mitigada é o maior presente natalino que alguém poderia cogitar. Imaterial, por isso persistente. Tio, tia, minhas cinco, ops, seis primas, meus avós maternos, agradeço-vos pela sua companhia onipresente nestes cinco dias que não me sairão - não digo da memória, mas - do coração. Como sou grato às brincadeiras, às piadas, às retomadas de tempos e momentos outrora vividos e relembrados, à comida, à bebida, ao carinho. Sim, este último é o componente essencial, dentre todos os possíveis outros, à uma existência digna de recordação, e fundamentada num olhar horizont(e)-al. Projetos futuros meus, que neste alegre instante são fomentados em uma mente que não pára de trabalhar à exaustão, só foram, e só são possíveis graças aos beijos e abraços, e sobretudo àqueles olhares dotados de compreensão mútua. Profunda. Inigualável.
Em pleno Solstício de Verão, nesta América do Sul, neste Brasil, neste cantão, o reecontro e a releitura de vidas que se cruzam e entrecruzam num relato intrafamiliar como muitos milhares outros. E por este mesmo solene motivo, único. Irrefreável a busca (pelo ser) que uma vez se instaura na vida de alguém. Pude enfim compreender a eternidade desses momentos aglutinados, a eternidade do presente.
Nenhum chavão explica quão adorável é brincar com minhas pequenas primas, fazer caretas, botar a língua pra fora (quão relaxante seria se todos conseguissem fazer um para o outro esse mesmo gesto no metrô lotado...), fazer cócegas, pegar no colo, e, claro, dar um bom amasso em meio a risadas e gargalhadas e excesso de bom-humor... como previamente os recebi de coração aberto, numa infância já d'outros tempos. Tenho hoje a compreensão matura de que farei tudo por quem amo, mesmo amando sobretudo a mim mesmo. A vida não deixa de ser paradoxal. O amor, hoje eu vejo, não necessita de palavras, mas de gestos. A afabilidade de um amor assim desinteressado é toda a razão de ser do amar, e toda a razão de viver de pessoas iluminadas cá e acolá.
Bem, a procura insaciável pelo conhecimento não admite paradas. E no amor convivido é-nos dada a oportunidade de vivenciá-la e colocá-la em constante prática, tudo de primeiríssima mão. O frescor da comunicabilidade é reavivado, inalando um viço todo seu. Reamoçam-se a esperança, a jihad interior, a vida vivida por si própria, pela exatidão de que merece ser vivida em sua completude.
Felicidade? Não precisa ser buscada. Esta joie de vivre bate às nossas portas enquanto resmungamos e nos enterramos em plangentes ilusões e utopias que pouco a pouco nos matam o melhor que trazemos em nós. Saber viver é viver-saber, e nada - nem ninguém - pode interromper a busca irremediável do ser humano de conhecer e se auto-conhecer, de investigar verdadeiramente por que vivemos, e como nossos próprios pontos de vista muitas vezes vêm a escurecer e anuviar um horizonte no mínimo digno de ser experienciado integralmente, sem pre-ceitos.
Um pé e outro na frente. O gelo é escorregadio, mas nada melhor que ele para testar o equilíbrio. Ah! Nada melhor.
(escrito em 28/12/2008)
Há 12 horas
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