segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Foi-É-Será assim-assim

(And So it is)

Talvez tudo que você disse
Não surtiu efeito
Pois em tudo que foi dito
Eu enxerguei defeito

Por negras veredas incursionei
Fiz-me magoado, hoje o sei
Prolonguei minha dor
Desertei o amor

Aquela intuição iluminada
Que tive, ao teu lado
Há tempos foi largada
E hoje eu canto o Fado

Que meus avós troavam
E a boina, quem diria,
Atavizou-se em minha cabeça,
Como em mais ninguém

Meu avô o saberia
Se consciência, pois, tivesse
Que o meu dia a dia
É por ele uma prece

Se os anos diluem a beleza
Isto não pode co'a virtude
Ponho as cartas sobre a mesa:
Mentir seduz; a verdade é rude

Este corpo, belo e jovem
Em pouco, há de envelhecer
E as pedras, que os anos movem
O hão de enrijecer

A memória cristalina
Falhar-me-á nas longevas
E a hiante, cava mina
Me engolirá nas trevas

Tudo paira sobre o mundo
Tudo passa sobre a terra
Eu vivo em paz, e vivo em guerra
O meu nome é Raimundo

Quis cultivar a alma
Quis cuidar da mente
Mas nada neste mundo me acalma
Nada neste mundo além da alma

Perjuro minhas crenças
Perdôo desavenças
Almejo a reflexão
Porém a mente, inquieta
Viaja em turbilhão

Caminhos tortuosos
Trilhas infactíveis
Por que tantas sendas possíveis,
E nuas ruas sinuosas?

Por que somos tão tolos?
Não sabemos muito sobre a vida
Não sabemos quase nada
Logo ela é esquecida
Viramos títeres, a Boiada
Guiada - e seduzida...
Ao matadouro.
Ensangüentada... e morta.
É.
Morremos com a boca torta,
De tantas maledições...

Pervagar por conhecer é a saída.
Pervagar para saber -
É A Vida.

(Le Grande Famille [A Grande Família], 1963, Magritte)

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