domingo, 17 de janeiro de 2010

Mãos ao Alto!


Fizeram de mim
Um covarde
Desceram o porrete
Sem ruído e
Sem alarde

Minha face carmim
De sangue que arde
Diminuído, preso
Esvozeando a verdade

Sair ileso
Não saí
De golpe a golpe
Eu caí

O corpo resiste
Ante à violência gratuita
Mas a alma fica triste
E perde-se a luta

Minhas primas amadas!
Rodeando mi'a cabeça
Quero amar-vos muito ainda
Antes qu'eu faleça

Abraçar-vos sorrindo
Neste dia luminoso
Límpido e lindo

Mas eis-me jogado
Na suja sarjeta
Amaldiçoada seja
A ditadura seca!

Espreitando da esquina
Nos lança ao porão
Os fortes extermina
Pouco a pouco matarão
Na truculência mesquinha
A esperança dum mundo são

Os verdugos edazes
Sulcando a estrada
Depredando cartazes
E a liberdade cassada

Um sombrio futuro
Paira sobre nós
Cercados de muros
Cerceados e sós
Por isso eu juro
Erguer a minha voz
Contra o infame monturo
A acercar-se de nós.

**
crédito à imagem: Policiais da cidade de Selma, Alabama (EUA) detêm manifestantes pacíficos, na década de 1960.

2 comentários:

J.M. disse...

A liberdade contém todos os direitos.

Fernando disse...

Pois então gozamos apenas parcialmente dessa liberdade. O direito a protesto político está contido na Constituição, mas parece estar sujeito à livre interpretação dos governantes e seus subordinados.

Se estiver ferindo grandes interesses, é melhor ceifar esse "pequeno" direito de forma que apenas os próprios manifestantes fiquem sabendo, e sejam alvo de dúvidas de quem quer que seja que ouvir, posteriormente, sua história.