segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Liberdade Ultrapassada


Fui responder à pergunta
Levei uma cacetada no braço
E eu queria o quê?
Um abraço?
Certamente que não...

Me rendi, os braços pro alto
Mais uma cacetada
E o meu sobressalto:
O qu'eu havia feito,
Pra merecer tamanho desrespeito?

Fui protestar contr'o prefeito
E o aumento da tarifa
Do busão
E a cacetada no queixo
Pr'eu aprender na marra
A não falar na contramão

Dos grandes interesses do Estado
De deixar o povo bem quietinho,
Sossegado, sussurrando baixinho
E os corajosos na surdina
Espancados...
Desmoralizados.

Eu ali, encolhido no chão,
Como eu vim ao mundo
Em pequena proporção
Cercado de PM me
Descendo botinada
Minha face acobertada
Ante tanta humilhação

Eu e mais dois
Num camburão fechado
Quarenta minutos
Dum viver sufocado

Ansiando o momento
Em qu'eu seria libertado
E o mal-entendido
Fosse todo explicado

O suor escorrendo
Pelo vidro da viatura
Meu desespero me roendo
Me corrói, me perfura

E eu calado, cabisbaixo
Só fui ser liberado
Horas depois...
Eu e mais três
Mas quanta insensatez!

Só porque tomamos parte
Numa manifestação
Recebemos porradas e palavras
De baixo calão

Já não se pode mais lutar
Pelos próprios direitos
Temos todos de aguentar
Perjúrias e despeito.

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