Muriçoca na Maloca e
Ovo Choco são o resultado de uma brincadeira à qual me lancei: exaurir o meu vocabulário de palavras findadas ou de alguma forma rimadas em 'oca' tanto quanto o contexto poético me permitisse. Cronologicamente, primeiro cumpri
Muriçoca na Maloca e então
Ovo Choco. Entretanto, não larguei o lápis entre um e o outro, visto que tão logo havia terminado Muriçoca na Maloca, apercebi-me num repente do desafio à minha frente: quantas palavras eu sei com 'oca' no fim, e que efeito terá o poema com tais palavras delineando sua textura sonora?
Há quem pinte, desenhe, esculpa, professe, invente, improvise, brinque, jogue, lute, viva. Mas pra mim não há nada mais prazeroso e recompensador que os meus próprios duelos poéticos. Exigem concentração, rigor, precisão, silêncio. Jamais são feitos de dia, mas na calada da noite, quando tudo e todos dormem, e a paz reina. Eu tenho apenas uma letra bonita, noites insones e pensamentos bem concatenados. Afora minhas leituras. O resto é estorinha da arca da velha.
Lendo os manuscritos originais em letras miúdas a lápis, acredito que a brincadeira se saiu bem. E é claro que havia muitos pernilongos me azucrinando, senão eu estaria dormindo, não garatujando noite adentro. Minha família mineira (NE MG) ainda usa só 'muriçoca' para designar esse incômodo e onipresente hematófogo, que nós paulistas conhecemos apenas por pernilongos. Fazem graça de mim sempre que digo esse cultismo latino 'pernilongo'. 'Muriçoca' está em nossa raiz tupiniquim, pois vem do tupi. E meus queridos parentes bem se orgulham de usar essa palavra que soa tão curiosa, mas jamais feia.
Tanto
Muriçoca na Maloca como
Ovo Choco são de uma sonoridade leve, encantadora, quase infantil. E era esse mesmo o objetivo. Queria repousar minha mente um pouco sobre a temática da infância, do amor desinteressado, da sutileza de espírito que caracteriza esse áureo período de nossas vidas.
Enfim, é bom ser criança, e sem dúvida que todas as manifestações artísticas das quais podemos nos apossar estão calcadas na infância. Viva Macunaíma!!