sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button (2008)


Bem, suponho eu que muito já tenha sido dito sobre essa última produção de David Fincher, com direito a Brad Pitt no papel de Benjamin Button e Cate Blanchett como Daisy. Entretanto, o que pretendo abordar, nesta postagem, são as questões da morte e do envelhecimento - levantadas em todo o decurso do filme.

Daisy revela em várias ocasiões seu particular temor quanto a estar envelhecendo, e, assim, aproximando-se da morte. Processo esse realçado por estar vivendo justamente ao lado de Button, que segue um curso de vida contrário - nascendo velho e doente, para morrer com poucos meses de vida, na figura de um bebê de colo. Seria incorrer em um erro, talvez, denominar o curso normal da vida de Daisy de 'processo', ao passo que a de Button fosse chamada de 'retrocesso', porque ambos têm, no final das contas, uma vida linear - no que tange ao aprendizado, isto é. Da curiosidade infantil à senilidade longeva, ambos perpassam as mesmas fases da vida - se é que se pode nomeá-las destarte -, sendo invertida apenas a seqüência em que elas ocorrem.

Voltando à personagem Daisy: ela tem um certo pavor em encarar o envelhecimento como processo natural da vida do ser humano* . E por que deveríamos, nós, passar anos, ou até mesmo boa parte da vida, amedrontados com algo perfeitamente natural e cabível a uma existência finita? Por que deveríamos, mesmo na maturidade, persistir nutrindo um receio pueril concernente à futura velhice? É provável que tal medo advenha do fato que, na juventude, raramente sentimos a morte - incognoscível eterealidade! - roçando-nos os pêlos eriçados do braço. E, claro, devido à nossa vivente ignorância do além-mundo, tememos a morte. Porquanto, por temermos a morte, tememos - daí - o envelhecimento.

Mas a pergunta essencial, derivada desse questionamento, é: por que ter medo da morte? Se a morte fecha o ciclo onde o nascimento o engendrou, estamos a falar da mesma coisa, pois não? Vejamos bem: se desenharmos um simples círculo:

Podemos ver que é uma figura hermética. Não há começo, bem como não há fim. Escolhamos qualquer ponto dessa linha que o delimita, para alocar a palavra "morte".

Agora escolhamos qualquer outro possível ponto para alocarmos a palavra "nascimento".

Pronto. Este é o ciclo da vida, na forma mais simples de caracterizá-lo. A parte curiosa de figurar a vida como um ciclo é que, ao fazermos isto, deduz-se automaticamente que: sem a morte, não há nascimento, e sem o nascimento, não há morte - e, para chegar de um ponto ao outro, perfaz-se todo o ciclo. Se um não existe sem o outro, depreende-se que um leva ao outro - e se eles são sine qua nons mútuos, eles são, essencialmente, a mesma coisa. É o velho sofisma de perguntar quem veio antes: a galinha, ou o ovo? Nem um, nem outro. Pois o ovo vem da galinha, e a galinha provém do ovo. Logo, um não existiria sem o outro o preceder. Um dá vida ao outro.

Assim, da mesma forma com não temos medo de nascer, a mesma atitude deveria se aplicar logicamente à morte. Quão ilusório denominar a morte o fim, e o nascimento o começo! Benjamin Button vem mostrar a inveridicidade dessa asserção: o nascimento pode - por que não? - ser o fim, e a morte, o princípio.

O elemento abstrato "morte" pode, sim, ser utilizado como um incentivo para buscarmos alcançar todos os nossos mais caros objetivos enquanto nos vemos vivos. Para muitos, essa é a suprema razão de viver, indagando-se: se este fosse meu último momento, o que eu daria por ele? Quão caro eu pagaria neste momento para realizar minhas metas?

Quão encorajador!

Se apenas soubéssemos dar tudo de nós...

P.S.: Outro filme recente que trata do regresso à juventude, porém em circunstâncias diferentes, é o Uma Segunda Juventude ("Youth Without Youth"), produção de 2007 do diretor Francis Ford Coppola. É uma obra cinematográfica magistral. Por seu aspecto duplamente místico e fantástico, não atingiu as bilheterias nem o esplendor da crítica da mesma forma que O Curioso Caso de Benjamin Button. Sua densidade psicológica e seu caráter multicultural deixaram-me de fato boquiaberto. Recomendo-o amplamente, inclusive para quem não apreciou Benjamin Button. Para quem gostou, então, será um prato cheio - certeza de um cinéfilo (cartaz e trailer abaixo).





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E, virtualmente, de toda a vida sobre a Terra, com uma leve exceção...

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