quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Billy Elliot (2000)

Assistindo a esse filme, dei-me conta de quão inculcados são os mais fortes preconceitos em nós. Até não os percebemos no cotidiano, mas quando eles teimam em subir à tona, torna-se impossível negar sua existência. Por que não nos damos conta deles? Talvez porque se encontram em lugares de nossa mente que evitamos a todo custo tocar. Fere-nos observar imparcialmente nossa estrondosa ignorância. Machuca-nos lidar com ela, sendo bem mais fácil empurrá-las cada vez mais para baixo do tapete. Pouco importa, pois um dia varreremos todo o pó que se ajuntou ali debaixo - e, nesse ocasião, ficaremos espantados.

É um filme que leva à refletir sobre o papel da família na formação de uma criança. No caso de Billy, crescer num círculo familiar restritivo e inibitivo não o impede de seguir seu coração. Seu pai o quer ver no boxe, esporte tido como típico e representativo de um homem. Se é que se denomina esporte distribuir socos e murros no teu próximo. Se é que é próprio do homem cumprir uma funcionalidade heterossexual instigada pela sociedade.

O pai de Elliot poderia ser um psicopata e jamais se arrepender do tratamento dado ao filho ao descobrir seu talento e interesse pela dança. Mas o filme mostra que o pai irá até o inferno, se for preciso, para dar ao filho a oportunidade de optar por um futuro mais promissor do que aquele vivido sob a terra, cavando minas e passando horas em condições insalubres. Reconhecendo que errou, o pai de Billy emociona a platéia ao pôr-se contra seu filho mais velho, para conceder a Billy as oportunidades que nunca teve em sua ida tenra juventude.

Se Alvin Straight (post abaixo) simboliza e encarna o amor fraternal, o pai de Billy demonstra tudo o que pode o amor filial - e o amor paternal. Porque ao aperceber-se de suas concepções errôneas, fomentadas por uma sociedade masculina de mineiros, o pai desse menino irá voltar a trabalhar - quando todos seus amigos ainda se encontram em greve e protestos (devido às precárias condições do trabalho), para dar vazão aos sonhos de seu filho.

Que escolha arduosa e acerba tem de fazer esse homem, que se vê premido entre seus intentos de lutar por melhores condições no trabalho e os anseios de tornar-se bailarino do filho! E é por mostrar tais facetas que o filme evoca o que há de melhor e mais caro no Homem: o poder de mudança que advém após a resignação de velhos dogmas. Ele é forçado a tomar uma decisão que dará contornos à vida de seu filho: quer que Billy seja feliz (não importante sua escolha) ou que seja semelhante a si mesmo?

Filho de peixe, peixinho é. Mas nem sempre. Ou melhor, quase nunca. É necessário deixar de lado todo o orgulho dessa asserção para se parar de paternalizar as relações familiares. O pai quer o melhor para o filho, mas quem sabe o caminho a trilhar - ou quem está para descobri-lo - é somente o próprio filho. É com suas próprias pernas que escolherá os atalhos e as curvas da estrada por que irá passar - e que singrará no restante de sua vida.

Por sendas e emendas, chega-se lá.

O pai de Billy enfim chegou - lutando contra si mesmo, e aprendendo com essa eterna luta.

Pelejou contra os próprios preconceitos, e só assim pôde dar ao filho o que este mais desejava no mundo.

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