As águas passavam correndo
Mas cada fio d'água cristalino
Turvou-se no meio do caminho:
Reflexo de inocentes morrendo.
Torpes assassinos desembainhavam
As armas do poder inquestionável
Nossas perdidas crianças miravam
O princípio d'um genocídio infindável
Sobre a pedra embaciada, à luz solar
Sentamos, pois, chorando até o luar
Percebemos que o retorno não seria breve
E nenhuma de nossas almas voltaria leve
De todas as paisagens naquele dia avistadas
Discernimos nossas ermas e futuras jornadas
Haveríamos de bater o pé naquela penedia
E nada neste mundo nossa vida mudaria
Protestos em vão fizeram, e foram ignorados
Nossos assassinos seguirão impunemente calados
E nossas vidas ninguém, por elas ninguém clamará
Uma morte à estilingada... ignóbil Sabiá.
Cantamos e louvamos nossas tradições
No coração carregamos tais canções
Que afastam este mal diário: o medo
O povo árabe guiado ao degredo.
Do degredo ao olvido
[E d'olvido ao degredo]
Este tem sido o nosso carma
Nosso filhos mal têm dormido
Já não portamos qualquer arma
[Que vos faça frente, polícia do Karma]
Ninguém sai de casa aterrado co'a iminente bala
Que escola ensinará a renúncia ao trauma?
Eletricidade, escolas, hospitais, alunos na sala...
Perde-se tudo e só nos resta a alma...
Que fardo é este que arrastamos?
Serão nossos infantes ensacados
No tácito envoltório negro...
Negro com'a noite...
[Sacrificados sob o açoite]
Pernoitou o soldado tartamudo, a dizer:
"Nós usamos teus netos como escudo, prazer!"
Suas gargalhadas ribombando as reentrâncias da Terra
Seu hálito asqueroso fedendo a trucidamento, não guerra...
O rifle apontado ao peito do manifestante
Uma absurda indiferença à vida, gritante
Pensar, meu amigo, que viver ou morrer decide-se no instante
Quando vis e débeis mentes calculam se é civil ou militante
Nada mais faz sentido, o mundo está virado
[caralho a quatro]
"Eu mato, espanco, piso nas leis e as conspurco"
"Ao invadir a Palestina, eu ponho o mundo a torto"
"Já 'quele árabe tenta defender suas terras, assim é morto..."
Faltava somente ser esquartejado... se não foi!
Não, algo neste mundo está errado... quando mata-se um humano como mata-se um boi.
Se houve esplendor em anos dourados de outrora, todo o brilho já há muito se foi.
O Rei está pelado, grotesco, à tua frente
E mesmo ao vê-lo, tu segues descrente.
É tu virares o rosto
Que o rei toma gosto
Hora do caos imposto
O Rei ri com extrema vontade
É assim que violará a Liberdade
Agora ele rolará, gargalhando aos montes
Violentando e anuviando nossos horizontes
O futuro da humanidade.
Sem conhecimento, liberdade é palavra vã.
Não aplicar o que se sabe, ilusão...
Não passa de uma vida coberta de picumã.
Dois pássaros escapando, por entre os dedos da mão.
Magritte - Le mal du pays (1940)
Mas cada fio d'água cristalino
Turvou-se no meio do caminho:
Reflexo de inocentes morrendo.
Torpes assassinos desembainhavam
As armas do poder inquestionável
Nossas perdidas crianças miravam
O princípio d'um genocídio infindável
Sobre a pedra embaciada, à luz solar
Sentamos, pois, chorando até o luar
Percebemos que o retorno não seria breve
E nenhuma de nossas almas voltaria leve
De todas as paisagens naquele dia avistadas
Discernimos nossas ermas e futuras jornadas
Haveríamos de bater o pé naquela penedia
E nada neste mundo nossa vida mudaria
Protestos em vão fizeram, e foram ignorados
Nossos assassinos seguirão impunemente calados
E nossas vidas ninguém, por elas ninguém clamará
Uma morte à estilingada... ignóbil Sabiá.
Cantamos e louvamos nossas tradições
No coração carregamos tais canções
Que afastam este mal diário: o medo
O povo árabe guiado ao degredo.
Do degredo ao olvido
[E d'olvido ao degredo]
Este tem sido o nosso carma
Nosso filhos mal têm dormido
Já não portamos qualquer arma
[Que vos faça frente, polícia do Karma]
Ninguém sai de casa aterrado co'a iminente bala
Que escola ensinará a renúncia ao trauma?
Eletricidade, escolas, hospitais, alunos na sala...
Perde-se tudo e só nos resta a alma...
Que fardo é este que arrastamos?
Serão nossos infantes ensacados
No tácito envoltório negro...
Negro com'a noite...
[Sacrificados sob o açoite]
Pernoitou o soldado tartamudo, a dizer:
"Nós usamos teus netos como escudo, prazer!"
Suas gargalhadas ribombando as reentrâncias da Terra
Seu hálito asqueroso fedendo a trucidamento, não guerra...
O rifle apontado ao peito do manifestante
Uma absurda indiferença à vida, gritante
Pensar, meu amigo, que viver ou morrer decide-se no instante
Quando vis e débeis mentes calculam se é civil ou militante
Nada mais faz sentido, o mundo está virado
[caralho a quatro]
"Eu mato, espanco, piso nas leis e as conspurco"
"Ao invadir a Palestina, eu ponho o mundo a torto"
"Já 'quele árabe tenta defender suas terras, assim é morto..."
Faltava somente ser esquartejado... se não foi!
Não, algo neste mundo está errado... quando mata-se um humano como mata-se um boi.
Se houve esplendor em anos dourados de outrora, todo o brilho já há muito se foi.
O Rei está pelado, grotesco, à tua frente
E mesmo ao vê-lo, tu segues descrente.
É tu virares o rosto
Que o rei toma gosto
Hora do caos imposto
O Rei ri com extrema vontade
É assim que violará a Liberdade
Agora ele rolará, gargalhando aos montes
Violentando e anuviando nossos horizontes
O futuro da humanidade.
Sem conhecimento, liberdade é palavra vã.
Não aplicar o que se sabe, ilusão...
Não passa de uma vida coberta de picumã.
Dois pássaros escapando, por entre os dedos da mão.
Magritte - Le mal du pays (1940)
Um comentário:
Que fardo é este que arrastamos?
Serão nossos infantes ensacados
No tácito envoltório negro...
Negro com'a noite...
[Sacrificados sob o açoite]
Digna de Castro Alves, irmão Campos!
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