quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Estudando História

Hitler, após a avassaladora invasão da Polônia, pronuncia de seu temporário pedestal "...toda pessoa instruída é um futuro inimigo." Condena, assim, a população eslava ao trabalho pesado, análogo ao escravo. Esta frase dá o que pensar quanto ao que temem os totalitaristas, os repressores, os anti-intelectuais, e todos aqueles que tanto amam homens oprimidos em sua busca pela liberdade.

Na página 434 do livro ao qual me debrucei ontem e hoje, nomeadamente História Moderna e Contemporânea, de Antonio Pedro (editora Moderna, 1985), e que de idioticamente didático não tem nada (sim, a história "didatizada" é um erro), depara-se com a seguinte constatação do autor, até então isento de moralismos dissimulados: "Muitos pensadores e analistas disseram que tal arma [bomba atômica] não precisaria ser utilizada, mas a verdade é que mesmo assim o Japão continuou resistindo." (como se vê, o autor refere-se ao fim da 2ª Guerra Mundial; a ênfase em negrito e o colchete explicativo são meus)

Pus, portanto, a seguinte reflexão manuscrita na lateral do livro: o elemento 'mas'(vide acima) aqui empregado, não introduz uma contradição veemente, de importância histórica. "Quanto tempo mais poderia ter o Japão resistido, sem a derrubada das bombas atômicas?" Essa pergunta tem uma resposta que comprova a nulidade argumentativa a favor de uma arma desumanizante e devastadora."

Bem, meu comentário parece auto-evidente, auto-explicativo. Mas colocarei alguns pensamentos a mais. Por que razão o 'mas', ao introduzir a resistência nipônica que se seguiu 'mesmo após' a bomba atômica? Não tem relevância tal asserção, tal afirmação. Ok, eles persistiram em sua honra nacionalista, ou qualquer que seja o nome dado ao desespero humano frente à própria impotência bélica quanto a um inimigo aparentemente onipotente, onisciente e teratológico (monstruoso) em suas dimensões (EUA, fique claro). Porém a resistência não justifica bombas atômicas arremessadas sobre as cabeças de um povo. É incoerente, numa macro-escala e definitivamente incoeso, numa micro-escala. Ou seja, não há porquês, não há como se dissertar a favor, por exemplo, da exterminação a sangue frio dos armênios,(sobre isso, ver os últimos parágrafos do link à esquerda, em artigo escrito anteriormente neste blog) ou a hecatombe sem precedentes de judeus, ciganos, homossexuais e de outra forma opositores, pelas forças nazistas; ou, mesmo, todas as mortes causadas pelos prolíficos sistemas totalitários outrora existentes ou ainda em ação. Não há justificativas tangenciais. Simplesmente não há.

Ou você precisaria de uma recordação fotográfica para chegar à mesma conclusão? Imagens, já foi dito ad nauseam em todos os recantos deste mundo, expressam mil palavras - ou mais. Eu particularmente quase vomitei ao ver o que se sucedeu ao povo japonês que se encontrava fatidicamente no epicentro de onde caíram as bombas atômicas. Todavia, se as imagens te chocam em demasia, como a mim, talvez a literatura nipônica possa te interessar. Recomendo Chuva Negra (Kuroi Ame), do escritor Masuji Ibuse (link para as bibliotecas públicas municipais de São Paulo onde se pode pegá-lo emprestado). Com esta obra-prima, calcada num relato humanístico comovedor, Ibuse pôde elevar-se ao status dos grandes escritores pós-guerra, obtendo inclusive o prêmio mais célebre do Japão, o Noma. Falo sobre ele e o quanto a leitura deste livro absorveu minhas reflexões aqui, aliás, um adendo muito importante para tudo o que tratei neste breve digitar do teclado.

Vivamos.

2 comentários:

H. disse...

Nossa,realmente, procurar justificar o lançamento das bombas é...ridículo =p Ainda mais em um livro "didático".

E eu ainda vou ler Chuva Negra....hauhauahuau...\o/

Fernando disse...

Leia sim! É uma leitura que amplia os horizontes para a dimensão humana de uma guerra sem sentido (e qual guerra tem sentido?).