segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Proseando com o Universo

Sinto falta de um texto em prosa. Faz tempo que não escrevo em linhas corridas o que vivencio, e talvez seja esta a razão saudosista que me traz aqui a estas horas.

Como todo ser humano, trago em mente algumas palavras cujas definições abstratas muitas vezes nada dizem, a começar por: amor. A ciência responde ser o resultado da secreção de vários hormônios, concomitantemente, que acabam nos extasiando e nos colocando num estado de euforia similar ao adquirido por meio de drogas. Ah, e conclui por dizer que a privação do amor daquele ou daquela pessoa a quem nos declaramos e com quem estamos a compartilhar experiências íntimas, acaba por deixar-nos com os mesmos sintomas da abstenção de um drogado [das substâncias que utiliza].

Pensando bem - e não é preciso pensar muito, cá entre nós - todos que passaram por um pé, um fora, enfim, uma negação à realização de um desejo que mentalizamos, já passaram por efeitos de "abstenção" dramáticos. Alguns já se suicidaram, outros se feriram emocionalmente, psicologicamente e/ou, não raro, fisicamente. Outros ainda só "pensaram", naquele estado de desolação e profunda angústia - quando não o estágio inicial de uma depressão, que pode se agravar - em provocar algo contra o próprio corpo, num vivo manifesto do que sentem, apesar disso nem ser cogitado. O auto-ferir-se não é de forma alguma encarado - em pleno tumulto de nossas emoções - como uma manifestação corpórea, com o explícito desejo de mostrar aos outros o que se passa em nosso interior, convoluto. De luto. O paradoxo vivente, o "mundo do absurdo" camusiano, que toma as rédeas por revoltantes momentos de nossa vida, de nosso coração, de nossa cabeça, de nossos gestos e afetos, mesmo os não-manifestos, mesmo os recantos mais tímidos, mesmo... nada é excluído numa crise emocional, é fato.

Para mim o mais importante foi ter sentido isso. Foi ter sentido o desprazer, o afastamento, o "saber-lidar" com aquilo que não é nada bem-vindo, com o que nos contraria, com o que detestamos. Odiamos um "não", um "nunca", um "jamais". Podemos usar para contradizer alguém, mas a partir do momento que são dirigidos a nós, são detestáveis. Queremos evitar, de primeira mão, qualquer possível rejeição, qualquer obstáculo às pulsões, aos impulsos, a tudo que nos move. O ser humano deseja liberdade, diz-se. Mas não se compreende, muitas vezes, que o "libertar-nos" que buscamos incute-se em tudo: livre-escolha, livre-arbítrio, são os termos fundamentais dessa "independência" que procuramos, no imo, no fora. Não há como conquistar um sem a vitória do outro. Uma concomitância de impressionar.

Embasbacado. Um fora deixa qualquer um - por mais que momentaneamente - embasbacado. É a antecipação que atrapalha tudo, também se fala a torto e à direita. Estão corretos, como sempre - aliás, os outros sempre detêm a razão, malgrado nosso -, mas não se segue tão facilmente a risca prescrita por outrem. Nem mesmo sóbrios, somos capazes de nos concentrar - completamente - num riscado branco traçado no chão aos nossos pés. A mente cogita e trabalha tantos conceitos a um só tempo e em múltiplos espaços, que se torna difícil ao homem ficar calado dentro de si mesmo. A meditação é o silêncio da mente. Nada tem a ver com a boca... apesar de dizerem ser este o modo mais fácil de se começar a prática... sim, eu sigo tal princípio.

O quê é o amor? A ciência, como sempre, tende à objetividade materialista do objeto analisado. Pessoas apaixonadas são entrevistadas, descrevem o que pensam e o que sentem ao ver a foto da pessoa amada, são feitos exames dos níveis de diferentes hormônios e demais substâncias do corpo. E num período posterior, quando algumas tiveram suas decepções amorosas, o que passa por dentro de seu aparato corpóreo é analisado, buscando-se dados.

Sem dúvida, não se pode recusar uma análise objetiva e científica, que detalha aproximadamente o mesmo nível de hormônios na abstenção amorosa de um apaixonado e na privação de drogas de um usuário (politicamente correto, este, ein, ao contrário da utilização inicial: drogado). "Puxa", vem à tona a indagação, "será possível que eu estou somente sentindo o mesmo que um drogado?"..."somente isso?"..."um prazer efêmero, com a única diferença de que o estou compartilhando com outra pessoa, ao passo que um usuário tem o mesmo êxtase e sentimento de ligação sozinho?"

Qual seria a vantagem, então, de adentrar um relacionamento que pode vir a ferir as duas partes, quando desmanchado, se com as drogas se obtém o mesmo, porém sozinho? Bem, sozinho só mesmo se o usuário isolar-se de família e amigos e inventar alguma desculpa que mascare seus hábitos psicodélicos, para que ninguém se preocupe. O que é bem raro e deveras premeditado, diga-se de passagem. Improvável, numa linguagem mais técnica e cientificamente - idealmente? - abstrata. Se há alguma crítica a fazer contra quem usa drogas, é esta: a falta de discrição. Para que machucar os outros, se você bem o poderia esconder, dissimular, ou de qualquer outra forma, evitar? "Na maior parte dos casos é simplesmente impossível", naturalmente responderiam. Mas o fato é que não busco por este prosear "frases de efeito" ou as tão chamadas "frases-chavão".

Drogados, todos nós somos. Pela televisão, pelo PC, pelo videogame, pelos jogos virtuais, pelo Orkut, por doces e alimentos altamente adocicados (enfim, pelo açúcar, que supostamente deixaria nossa vida mais doce, um mecanismo inconsciente desde nosso nascimento, considerando que os bebês ADORAM doces; bem, ao menos a esmagante maioria), pelo sexo diário (faz bem, é claro, ótima desculpa para transformá-lo numa obsessão social e deixar os celibatários mal-vistos e verdadeiros anátemas dentre uma sociedade moralizadoramente "normal"). Sim, cada qual tem sua casa de vidro, e Jesus há dois milênios pronunciou, segundo o Livro que nos foi deixado, supostamente intacto: "Não julgues e não serás julgado". Sim, quem atirar a primeira a pedra certamente causará guerra e acabará morto, pelo menos num sentido espiritual e, sim, a pedra atirada rebate e cai na nossa cabeça, na nossa confortável casa - no melhor dos casos, sem nos ferir gravemente.

Mas, tratando-se do tão chamado "amor", chega-se cada vez mais à conclusão de que este pouco tem a ver com o ato sexual, cuja libido é instintiva e capaz de se manifestar nas mais diversas ocasiões, e por pessoas das mais diferentes, sexo oposto - OU não. Sem preconceitos ou moralizações escorreitas e inquestionáveis, por favor. Todavia, o ser humano, muitos passos ainda tem que dar para poder sequer encarar olho a olho o fato de que um amor pode concretizar-se sem o - também corriqueiramente denominado - "fazer amor". A verdade é que, tanto para fazer guerra para fazer amor, não se exige muito. E nunca sabemos pegar minúcia por minúcia e detalhe por detalhe do que realmente foi a causa de termos feito - guerra ou amor. Não colhemos dados para uma amostra científica do quê, espiritualmente, levou a pessoa àquilo. Até porque a espiritualidade ainda é considerada etérea e impalpável, apesar de já ser conhecido por cá e lá o processo "fotográfico" que registra, em cores, a aura da pessoa em questão. Enfim, nada sabemos sobre o sexo, não importante quão bons sejamos de cama, e nada sabemos da guerra, da qual somos senão peões postos à morte ignota e ingrata, sujeitos ao olvido e a homenagens póstumas e cenotáfios - insignes e insignificantes - que nada nos dizem, exatamente por não estarmos mais aqui para lamentar ou regozijar.

Ou seja, pouco sabemos - ó meu deus, que revelação! - apesar de todo suposto "progresso científico" nunca antes visto ou alcançado em civilizações precedentes à nossa tão - err, que adjetivo enaltecedor podemos colocar, para efeito... ummmm.... - à nossa tão avançada civilização ocidental! Esqueçamos os 950 milhões que passam fome crônica diariamente no globo, os engolidos pela boca hiante da guerra e da morte belígera, os violados, os violentados, os acossados, esqueçamos nós mesmos, vai! Esqueçamos tudo, peguemos o nosso docinho, voltemos à euforia, ao gozo, ahhh... que delícia a doce ilusão de todos viverem FE LI ZES pra sempre! Que DE-LI-CI-O-SA a impressão tão confirmada pela extremamente confiável comunidade anti-UFOS, de que vivemos SOZINHOS no universo! Ai, eu quase desmaio só de pensar que o universo orbita ao redor da Terra para que comamos, forniquemos, bebamos, rezemos e morramos felizes! Ah, e para que discutamos se o capitalismo é me-lhor do que o comunismo (ai, desculpa, socialismo) ou vice-versa!

Haha, somos tão avançados que nenhum cometa pode colidir conosco e nos ruir em fragmentos, que temos certeza de que os extra-terrestres - se existirem, ein, gente, por favor, né hihi huhu...! - devem ser todos tão bonzinhos, tais quais cachorrinhos, domesticáveis - no máximo um tiquinho só mais inteligentes que nós. Mas, é claro, nós estamos NO TOPO da cadeia alimentar, DO UNIVERSO INTEIRO! Oh, meu Deus, quase que eu ejaculo com tanta pretensão, ops, desculpe-me, com tanta OBJETIVIDADE e é, claro, o que a ciência e a religião não nos negam nunca, não é mesmo, com tanta CERTEZA.

Mas, pessoal, o mundo tá girando como sempre girou, então despreocupa geral. Quando é o bailinho Funk? A baladinha? A sessãozinha de cinema de filmes americanizados enlatados estupidificantes? A rave? O que importa é ser feliz, não é mesmo? Ainda mais ser feliz com todas as ilusões possíveis, aí sim. Aí fica mais gos-to-so, hmmm, mais prazeroso ainda. Pra quem está no topo da cadeia alimentar, é claro, que SOMOS NÒS haha hihi huhu... tudo é perfeito, e tudo, óbvio, é como parece...

Mas pra quem não vai curtir a noite hoje: www.sott.net

Sem dogmas. Notícias e matérias que você NUNCA verá na televisão em sua forma original e inalterada. Nem no rádio. Sabe como é, né, as pessoas que vivem felizes têm uma tendência inata de entrarem em pânico com certas... coisas, então massificar notícias avassaladoras não seria muito benéfico para o poder do status quo. Ah, e também porque intercalar futebol com tragédia num misto-quente indigerível cumpre com super-eficácia a política de dominar mais simples e bem-bolada sobre a Terra: "Pão e Circo, romanos! Vejamos o gladiador/vilão telenovelesco!!!"

Ai, o que aconteceu no episódio de ontem, mesmo?

Hihi huhu... ai, é tão bom ser feliz! Me vê mais uma pílula de soma, façavor. Eu vivo neste admirável mundo novo hihi huhu...

4 comentários:

Renato disse...

o jantar desta noite incluiu algum prato em cuja receita há urânio ou algo que o valha, estou quase certo!
ou quem te persuadiu a consumir açúcar?! pupilas dilatadas, frenesi artificial e felicidade sob medida!
agora falando sério, o sério só é sério em oposição à piada...
não seria um privilégio ser capaz de suprimir toda a consciência politizada e humanitária em favor de uma rotina compassada e apaixonada pelo minimalismo inútil? talvez; entretanto nunca saberemos, conquanto sejamos nós, ainda e sempre!

Fernando disse...

conquanto sejamos nós...

a nostalgia.

monika jung disse...

cuidado com esse cetiscismo, hein...

existe ua razão para que eu me esforce muito para estimular a fanatsia no Lucas...

o texto está bem escrito... prolixo, mas bem escrito

Fernando disse...

Monika, você é a melhor mãe que eu conheço.

Você sempre deve motivar a imaginação do Lucas. Aliás, crianças com imaginação fértil são os futuros poetas.

Eu ainda tenho uma imaginação ubérrima!

=)

um ceticismo acerbo é - volta e meia - útil para fazermos novos planos, considerando essa nossa existência terrena de curtíssima duração.