Hoje, eu, colegas e professoras do meu técnico de Museu fizemos um tourzinho pelo Parque da Juventude e nossa escola. Descobrimos várias coisas: que é frio no sábado de manhã no Parque, que nós temos que obter autorização para tirar fotos lá dentro (o que felizmente tínhamos em mãos) e, principalmente, que ao se retirar placas de lã de vidro é obrigatório o uso de óculos de proteção, máscara e luvas.
Após verificarmos o que se encontrava sobre as placas de lã de vidro de várias salas, com a devida autorização da diretoria, deve-se dizer, e acompanhados das nossas professoras para o procedimento, terminamos com três pinturas (realizadas por presos?) encontradas. Uma era a bandeira dos Estados Unidos, a outra da Inglaterra, e, por final, na sala dos professores, encontramos um belo pássaro azul retratado. A bandeira dos Estados Unidos tinha uma característica peculiar, entretanto: ao invés das usuais 51 estrelas, a que encontramos possuía incríveis 96! Apesar do erro quanto ao número de estados, ela estava bem simétrica para seu tamanho e a (baixa) qualidade da tinta utilizada.
Eis as fotos da nossa investigação:
Fora isso, o que me interessou mais foi ter a sensação direta de encontrar-me dentro de uma cela, com a porta fechada. Além da cela ser escura, possui também um quê fantasmagórico, sombrio, quando você está dentro dela, sozinho, entre quatro paredes e uma grade e uma porta, diametricamente opostas. Muitos dizem que a solitária acaba por deixar o indivíduo louco. Não duvido mais.
E quando eu olho a foto acima, não imagino como se poderia dormir sobre o cimento, duro, frio, sem o mínimo comforto que eu julgo necessário para se conseguir dormir. Certamente, não defendo ninguém que se encontre preso, porque infringiu alguma lei - descontando os realmente inocentes -, variando desde roubar um queijo ou um pãozinho - que se for para matar a fome, não vejo porque a pessoa deveria ficar presa durante anos esperando julgamento - até os crimes hediondos, que realmente devem ser punidos com a detenção do indivíduo, e seu isolamento da sociedade. Se os crimes hediondos não fossem punidos, acho que a sociedade viveria miseravelmente, tendo em vista a gravidade desses crimes. Na wikipédia tem um apanhado bem resumido sobre o que são os crimes hediondos. Genericamente falando, são crimes moralmente condenados pela sociedade, desprovidos de ética, e ofensivos à qualquer pessoa que se encontre plenamente sã. Tortura, homicídio, latrocínio (roubo seguido de morte), entre outros. E é óbvio que eu considero o estupro o mais horrendo de todos os crimes.
Algumas fotos das celas e de nossa equipe:
Enfim, é por isso que quando nós olhamos para as pinturas que encontramos, não sentimos piedade dos presos. Eu, por exemplo, nunca fiz nada para ir preso. Mas há pessoas que o fazem. E a sociedade estaria em uma situação muito pior caso tais pessoas não fossem separadas de quem nada cometeu contra a moral vigente. O Genocídio dos Armênios, que ocorreu entre 1915 e 1917, sob a ótica de vários países que poderiam tê-lo impedido ou mesmo parado, ficou notório por causa de um detalhe muito assustador: foram libertados 12.000 presidiários turcos, que cumpriam as penas mais diversas, para dar cabo da matança, do morticínio, da hecatombe de 1 a 1,5 milhão de inocentes civis armênios: idosos, crianças, mulheres grávidas, ninguém foi poupado. Mas como o tema é forte, quem quiser saber mais, acesse o link acima, que dá para a wikipédia, inclusive citando a libertação dos 12 mil detentos para levarem a cabo o primeiro genocído do século XX.
"Massacre" - Jansem Hovhannes Semerdjian (nascido em 1920)
E o que mais me assustou, após eu ter lido um chocante livro sobre o assunto, foi a brutalidade dos crimes. A cada preso libertado era fornecido um sabre, para economizar balas. Agora imagine, se você puder, o que é dar-se de cara com um exército fardado, mas cujos homens não merecem o respeito que uma farda impõe. São pessoas que acabaram de sair do presídio, sem cumprir suas penas, e na posse de armas - e, o pior, em grande número. Muitos falam da crueldade do Holocausto, e eu confirmo: foi cruel. Morreram cerca de 6 milhões de judeus. Agora não ouço na escola sequer a menção do Genocídio Armênio, no qual foram trucidadas 1,5 milhão de vidas inocentes. É 1/4 do Holocausto. E o pior do Genocídio Armênio é a falta de ponto de referência. Morreram 1,5 milhão de armênios, mas a resistência armênia era virtualmente impotente contra o numeroso e bem-armado exército turco, e as baixas turcas devem ser irrisórias, não alcançando nem uma centena. O Holocausto, por outro lado, envolveu a morte de 6 milhões de judeus, mas inscreve-se num período histórico em que morreram +66 milhões de pessoas, das quais 6 eram judeus. É um número alto? Com certeza. Mas há pelo menos uma perspectiva de que a 2ª Guerra e todos os conflitos por ela desencadeados nesse período histórico ceifaram +60 milhões de vidas, o que faz do Holocausto um evento terrível, mas que não deveria ser o foco do historiador.
Aperta-me a garganta falar desse Genocídio, mas quem não aprende com os erros passados (da História humana, por exemplo), tende a repeti-los no futuro, até que se aprenda a não cometê-los mais. Só que tal teoria tem um pequeno probleminha, ao menos no que se refere a esse caso particular: o Genocídio Armênio não foi um erro. Ele foi friamente calculado, assim como a libertação desses presos, e o fornecimento de fardas para esses indivíduos, e de sabres devidamente afiados, ou fuzis, em menor número. Os líderes turcos que decidiram, em uma reunião formal - à qual compareceram personalidades ditas eminentes, ditas respeitáveis, e de fato influentes - a morte de tantas almas, o fizeram como quem joga xadrez. Toda a sanguinolenta estratégia foi decidida dentro de uma salinha, e nada de sentir-se mal pelo extermínio no qual tiveram participação total, tendo sido eles os desencadeadores do massacre.
Muitos judeus não sofreram metade do que os armênios sofreram. Eu realmente acho que é hora desse Genocídio ser exposto por professores de História, uma vez que até a França, recentemente, condenou a Turquia pelas atrocidades cometidas. A França tomou a honrável decisão de tornar a negação do Genocídio Armênio punível por lei. Sim, eles criaram uma Lei para quem ousa negar um fato relatado por correspondentes de diversos países, ingleses, americanos e alemães que deixaram o mundo perplexo com o relato da desumanidade cometida contra a população armênia. É claro que o presidente francês de então era Jacques Chirac, que também se recusou a mandar reforços franceses para uma guerra ilícita e mentirosa, também conhecida como Guerra do Iraque. Não sonhemos que Nicolas Sarkozy faça o mesmo. Ele já mostrou o desprezo pessoal que tem pelos direitos humanos. Como dissse um jornalista, ele põe o dinheiro à frente de considerações morais. Em visita à Tunísia, o país mais rico do norte da África, e cujo governo é conhecido por oprimir manifestações e opiniões contrárias, ostentando um regime equiparável a uma semi-ditadura, Sarkozy assinou um contrato para venda de 19 aviões para a companhia de aviação Tunis Air, sendo o valor da venda superior a 1 bilhão de euros. Sobre direitos humanos, não respirou uma palavra.
Faz tempo que li uma frase, que cada dia faz mais e mais sentido quando vejo o que ocorre na política, na economia, enfim, em praticamente qualquer área de atuação: "não é o poder que corrompe os homens; são os homens corrompidos que se tornam ainda mais corruptos com o poder."