quinta-feira, 29 de maio de 2008

Como sempre, todo bastão tem duas pontas...

3º dia consecutivo sem comparecer à escola, mas o 1º em que fiquei mal mesmo. Fora um pequeno corte não muito preocupante na boca por incidente banal, após o banho matinal meu olho esquerdo ficou vermelho como fogo e lacrimejando sem parar. De mala pronta e trocado, não acreditei naquilo. O dia em que finalmente iria quebrar o jejum com a escola aparece-me um obstáculo desses! Pois bem, pensei, já passa - tenho tempo para lavá-lo até voltar ao normal. Ledo engano: depois do olho (que não desavermelhou e deixou de escorrer lágrimas senão após uma hora, deve-se dizer) foi a vez do nariz: meros minutos de banho tomado e ele resolve fazer uma greve com adesão de 100% dos componentes. Resultado: Obstrução nasal total, olho esquerdo lacrimejando e vermelho como ferro em brasa - não se preocupem, nada de hemp/cannabis/shilom (popular maconha) comigo. Fazer o quê, né?

Bem, eu não fiquei desesperado. Sei há algum tempo - e pratico sempre que preciso ou sinto-me inusitadamente com vontade - que a meditação ajuda a respirar nesses momentos em que suas narinas simplesmente se recusam a trabalhar como de costume. Na praia entrei numa fria uma noite, mas a meditação salvou o restante - portanto, por que não tentar, não é mesmo? Vamos lá: marco 22 minutos no relógio, sento-me e procuro me concentrar, calmamente, em um ponto entre meus dois olhos - um pouco acima - com ambos fechados. Impossível! Não consigo respirar e na meditação não se deve forçar ou controlar a respiração - razão por que não se recomenda praticá-la quando doente, li certa vez. Bem, resumindo: levantei-me, calmo, porque tentei fazer o que podia (e bebi muita água, claro), deitei-me no sofá e liguei o rádio na insubstituível rádio Cultura (FM:103,1/AM:1200kHz).

Estou deitado no sofá, com a Mel (cachorra) no chão, ao lado, me cutucando com o focinho para acariciar sua cabeça. E a rádio ligada, tocando cordas, violino, cordas, violoncelo, cordas, cordas, cordas. E eu simplesmente amo cordas! Que bom, o bastão está virando, agora relaxa. De repente *oiço*, em meio à programação musical: "Promoção para os dias 3 e 4 de junho, Teatro Cultura Artística, sorteio de cinco pares de ingressos para o Vilnius Festival Orchestra, regido por Krzysztof Penderecki, para os participantes premiados,... a ser realizado na Sala São Paulo... liguem para um dos números de telefone, ouvintes... XXXX-XXXX e o outro YYYY-YYYY". Corro para o aparelho, telefono para ora um ora outro - não perco a paciência (aliás, quero ver tirarem minha paciência após a meditação). De repente uma luz: "Por que você não tenta ligar para o segundo(número), ao invés de ficar que nem uma barata tonta ligando a torto e à direita, a esmo, sendo que ambas as linhas encontram-se sempre ocupadas com esse método nada eficaz?"... Não poderia recusar tal insight surgido do nada, né?

Alternando os números eu tinha tentado cerca de 10, 20 vezes (perdi a conta com a repetição monótona). Tentando somente o segundo número consegui, adivinhem... na 3ª vez! Pois bem, penso, que presságio bom esse que apareceu de súbito na cabeça.... a cachola está funcionando para algo, afinal! Dou meu nome completo, RG e número de contato para o simpático e bem-humorado sujeito do outro lado da linha, que inclusive fez-me rir com uma piadinha amigável sobre o meu sobrenome Januário. Caramba, livrei-me daquele blues que se apossara de mim quando vi meus esforços de acordar cedo para ir à escola irem água abaixo.

Bom, pensei (como eu penso, credo!), que tal estudar um pouco de Matemática? A sugestão não poderia ter sido mais benvinda... a questão se resumia a, matematicamente falando, calcular as coordenadas X eY do baricentro de um triângulo, dados os pontos A(X1, Y1), B(X2, Y2) e C(X3, Y3). Foi fornecida a forma geral da equação da reta, portanto precisava-se apenas fazer a operação X1+X2+X3/3 (encontrando a coordenada X que se devia substituir na incógnita X da equação da reta) e Y1+Y2+Y3/3 (substituindo esse valor encontrado na incógnita Y da equação da reta). A equação estava na seguinte forma 13X + 5Y + 8 = 0. Bom, a resposta era que os valores encontrados para X e Y não correspondiam à igualdade (=0) definida pela equação da reta.

Foi terminar o exercício acima e escutei a menção de um tal de "Fernando Pimenta" em uma voz de radialista. Estava absorvido já no próximo problema e só fui me dar conta que meu nome estava sendo dito pela segunda vez, dentre os sortudos participantes sorteados! Segundo a radialista, estariam entrando em contato conosco em breve, para maiores informações. Haha! E eu ganhei um par de ingressos para dois dias, 3 e 4 de junho! Não precisarei ficar duas horas em pé numa fila para conseguir, nos últimos dez minutos de espera, os suados ingressos por R$10,00, ainda com muita dificuldade (esperam dar 10 minutos para começar o concerto para começarem a vender para os estudantes, já que estudantes com menos de 30 anos pagam R$70/80,00 a menos por cada ingresso, e há sempre aqueles com *melhores condições econômicas* (nada como um eufemismo, ham, ham) que podem comprá-los no preço original). Enfim, políticas *capetalistas* antiéticas à parte, de três vezes que eu fui (este domingo, segunda e terça, respectivamente), só consegui ingresso no domingo, mesmo chegando à Sala São Paulo com antecedência. Duas idas e voltas com as mãos abanando, acabando com a minha exígua cota escolar no processo.

Julguem agora minha sorte: Economizarei R$40,00 - pois normalmente meu irmão não tem grana no dia e eu empresto pra ele - quando eu tenho, aliás -, terei o nobre($) privilégio de chegar cinco minutinhos antes do concerto, somente perdendo, em contrapartida, algum ou alguns pontos de química... De qualquer forma, ir ou não à escola não é exatamente uma escolha quando tu estás no meu lugar(e isso eu não desejo a ninguém)... Sorte ou azar à parte, o que vale mesmo é aquele antigo provérbio, tirado das ruínas soçobradas da Arca de Noé, ou mesmo d'antes disso: "Todo bastão tem duas pontas." O bom e velho Yin-Yang. Aliás, o universo tem tudo a ver com balanço... por mais que a vida pareça injusta enquanto pouco sabemos dos mecanismos desta impressionante infinitude.

Adieu, caros leitores. Agora à Matemática.

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