quinta-feira, 29 de maio de 2008

Para os que não sabem: Estou vivo ainda!

Olá! Faz muito tempo que não posto... Pois é: esta semana passou como um relâmpago para mim. Depois da volta de Bertioga, tudo mudou. Minha percepção das coisas, minha força de vontade (seja lá o que isso for), tudo.

Não sei se é porque não estou indo muito à escola, mas passei a ficar mais tranqüilo, a olhar as coisas com perspectiva, calmo e atento. Ah! estou lendo Madame Bovary, de Gustave Flaubert, também.  

Em português, quando li o livro há um ano, aproximadamente, foi bastante suave a leitura, sem dificuldades quaisquer. A versão que eu estou lendo agora, em inglês, é o oposto da minha primeira incursão pelas personagens do mundo criado por Flaubert, no entanto... Não sei se é porque a tradução do francês para o inglês exigiu uma utilização absurda de adjetivos e substantivos nunca antes vistos por mim (ou então esquecidos) na língua anglófona...

É capaz mesmo que minha viagem à Bertioga tenha me mudado completamente. Completamente não, vai. Deixou-me um pouco mais realista quanto à minha realidade escolar. O que estou aprendendo? Por quê? Devo me preocupar com o vestibular (*não*!)?

Enfim, prefiro viver uma vida minha do que querer ser como muitas pessoas que acabem ficando insanas por causa de um vestibular. Passar no vestibular não quer dizer nada além do que: "você agora cursará um ensino superior (de qualidade)". Não quer dizer que você é inteligente, nem que você está acima da média (não me importa se tu queres Medicina, Direito, Jornalismo ou RI). Ser inteligente envolve muito, mas MUITO mais do que responder maquinalmente a questões manufaturadas tendo como base uma grade curricular falha, gasta, e extrapolada... Ser inteligente é saber, ao mesmo tempo, afiar uma faca e fazer matemática, montar um cavalo e ser poliglota na própria língua, falar línguas estrangeiras sem sotaque algum e não deixar de lado a Física e a Química, enfim, ser inteligente não é algo que possa ser comprovado pelo vestibular, muito menos por testes de QI.

Sabe por quê? Porque eu passei na Federal sem estudar- e não me orgulho disso, pois sei que muitos outros amigos e conhecidos meus passaram dessa mesma forma - e não sou nem um pouco inteligente. Aliás, quase repeti o primeiro ano (devendo 8,5 pontos em Física, 4,5 em Matemática e 3,0+ em Química - deve ser algum recorde dentro da Federal...), e o terceiro tem sido meu ano mais vagabundo - se for levar em conta minha freqüência escolar. Nos outros campos - técnico, leituras e concertos -, entretanto, você verá que minha vida não é delimitada pelo âmbito escolar. Minha vida é a antítese da escola: não gosto de prazos - porque aprender é algo duradouro, é para a vida toda, e não termina com a escola, ou com o último emprego antes da aposentadoria.

Ãh, ãh, meu amigo. Os padrões escolares não deveriam deixar nenhum aluno depressivo, como eu fiquei no primeiro. Eles são um lixo. Apesar d'eu quase ter repetido de ano em 2006, foi um ano de leituras mil (Macunaíma, Feynman, etc), um ano em que passei no FCE (First Certificate in English), além de ter participado de um concurso de oratória em japonês e ter passado igualmente na prova do técnico. Será que valeria a pena repetirem-me de ano? Creio que não. Sabe por quê? Por tudo em que obtive sucesso nesse conturbado período, enquanto me ferrava em Física, Química e Matemática...

Mais sábio é Jesus (não, eu não pertenço a qualquer religião, fiquem seguros todos ateus ou agnósticos ou espirituais leitores do meu blog - se há), que disse: "Não julgueis e não serás julgado". Se me dão licença, opto por viver segundo minhas próprias medidas. Chega de comparar-me com os outros. A comparação é a pior medida de felicidade possível. Se cada um olhasse um pouco mais para o seu umbigo, seria capaz de limpá-lo logo, ao invés de ficar procurando a sujeira nos buracos umbilicais da vida dos outros.

Não quero dizer com isso que ignoro o sofrimento diário dos palestinos, dos iraquianos, dos afegãos e de boa parte dos africanos. Ao contrário, já chorei muito por causa das mais de 850 milhões de pessoas que estão passando fome no mundo enquanto escrevo. Só não acho que minhas notas escolares serão de qualquer auxílio ao infortúnio de vidas alheias que me chocam. E ficar obcecado com a minha carreira profissional não me ajuda a ter empatia com quem sofre. Pôr-me no sapato dos outros é árduo, é doloroso. Mas isso não me impede de tentar fazê-lo.

Eu não irei ignorar, por escolha, o sofrimento de milhões de crianças famélicas ao redor do mundo. Parar de pensar no que os outros pensam de mim (quando falto à escola, por exemplo), por outro lado, tem o incrível potencial de fazer-me sentir menos egoísta... Talvez eu esteja sendo menos egoísta quando paro de pensar em mim mesmo, por brevíssimos, porém valorosos, intantes. São aqueles raros átimos em que a vida passa em frente aos nossos olhos como um filme. Momentos que, vivê-los, vale uma vida toda. Ver o que fizemos e o que deixamos de fazer, e as conseqüências que minhas ações (ou ausência de) surtiram na vida de familiares, amigos, próximos, e todos que já passaram ou ainda estão fazendo parte do meu círculo vital.

É por esses momentos que eu vivo. Momentos em que a Matrix falha, e eu posso pensar com claridade, como se os grilhões não estivessem lá, ou se seu peso tivesse sido mitigado por algum Hércules escondido nas entranhas da minha mente.  A leveza que toma conta do meu ser - por alguns segundos ou minutos - é incrivelmente capaz de alterar todo um dia. Poder estender esses momentos a princípio efêmeros é minha meta. Vivenciá-los todos os dias seria começar a viver, o renascer das cinzas que jazem no meu imo. Seria reencontrar a minha Fênix interna.

Que meu post seja um grito de liberdade aos que sofrem com as medidas equívocas de um sistema educacional fraudulento!


Um comentário:

Lucas Pascholatti Carapiá disse...

Queria gritar alto tudo que você disse neste poste!

Gritar alto, mil vezes, tudo que queria era viver de novo... viver... Abdquei-me de minha vida para seguir as minhas obrigações com a escola e acho que perdi a parte grande de minha vida, feliz...

"Não julgueis e não serás julgado".

"Ser inteligente é saber, ao mesmo tempo, afiar uma faca e fazer matemática, montar um cavalo e ser poliglota na própria língua, falar línguas estrangeiras sem sotaque algum e não deixar de lado a Física e a Química, enfim, ser inteligente não é algo que possa ser comprovado pelo vestibular, muito menos por testes de QI."

Meu amigo!
Admiro-te muito por pensar assim! Porém, saiba das consequencias que podem ocorrer se por acaso o sistema te esquartejar!
A escola está pronta para destruir aqueles que saem do seu sistema!
O sistema em geral!

Cuidado!

Obrigado pelo q vc escreveu...
Gostaria que todos lessem isso que vc escreveu!
Vejo completa emoção!
Sinto o que você sente!
Cada palavra uma inspiração!
Sensibilidade!

Maravilhoso!