domingo, 23 de maio de 2010

Comboio bichado

Soca gente no metrô
Pilão na carne moída
Premida, prensada, cozida
Aperta mais, seu doutô

Segunda à sexta me esfrego
Corpos distantes, colados
O sábio olho faz-se cego
Não vê o vizinho calado

Não o vê, não se vê
De cima a tevê
Ciente emudece

Cresce o silêncio oneroso
No túnel infernal
No forno coletivo
O barulho me faz mal

O ruído ensurdecedor
Da mudez cativa
Da nudez coletiva
Ajuntados seres alheios

Metidos em devaneios
O que farão, onde estarão
Olhos no teto, pés no chão
Presos aos próprios anseios

Diário gosto da angústia
Na boca selada
Nos olhos vendados
Ouvidos tapados

Estão todos tapeados
No túnel-túmulo
Sozinhos em seu mundinho
Do fechado cadeado

4 comentários:

Jefferson disse...

"Diário gosto da angústia"

Como adoçar o fel, Fê? =)

Fernando disse...

Com uma colherinha de mel logo ao chegar em casa. E eu não tô brincando...

GrrreenCartoon disse...

Beleza, Fernando>
Um retrato poético da cruzada diária da gente.
abs. Biratan

Fernando disse...

Fazemos de tudo para não enlouquecer. De tudo. E espero que dê certo!