quarta-feira, 23 de julho de 2008

"Sonhar!"

(texto com o qual obtive a 9ª colocação no Concurso Interno do Colégio Objetivo, 2005, quando estava na 8ª série. O tema era "sonhos/sonhar".)

"Para mim, sim, é preciso sonhar. Os sonhos são molas propulsoras para nos aperfeiçoarmos. Simbolizam as perspectivas, as metas de cada um.

Com o intuito de deixarmos de ser pequenos homens e tornarmo-nos grandes homens (como já dizia Chaplin), realizaremos o que a alma tanto anseia, e isto é metanóia (como Jesus disse).

Com os sonhos a serem idealizados, viveremos no presente e tornar-nos-emos os homens de amanhã.

Os sonhos nos impedem de abdicar a jornada e de virarmos as costas ao futuro, regressando ao passado.

Os sonhos vão além do tempo, do espaço, das barreiras e dos bloqueios físicos ou mentais.

Os sonhos são a pura energia. Aquilo que nos manterá no presente, tornar-nos-á humildes e singelos por dentro, e com mais disposição a aprender, avançar, não estagnar.

Fará de nossos corpos veículos, ou seja, o mensageiro, e de nossas almas a mola, o impulso consciente e confiável, isto é, a mensagem sacra, divina.

Aqueles que buscarem a Deus serão como São Francisco, vê-lo-ão em todas as coisas e alcançarão a verdade. Enxergarão a unidade na diversidade, aprenderão a amar a tudo e a todos, pois tudo o que há são faces de Deus.

Mas o que conecta os sonhos a Deus?

A resposta é serem os sonhos os que farão com que continuemos no caminho puro e contínuo, o qual nos leva a Deus, a compreender a vida, a tudo, a todos."


Comentário: quando digo Deus, não me refiro à entidade reverenciada por religiões afins, que abundam por aí. Não sou, por outro lado, materialista. Algo que chega bem perto da minha concepção de uma força maior pode ser trazido à tona com alguns versos (in: Poemas Inconjuntos) de um dos heterônimos de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro:

(...)
"Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade."

(...)
"Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm."


"Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te qurereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.

Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!"

Ou, como diz outro heterônimo de Fernando Pessoa, Ricardo Reis (in: Odes):

"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias."

Ou Alberto Caeiro, na parte V d'O Guardador de Rebanhos:

"Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos."

Um passante certa vez quis dogmatizar Caeiro. Quis depreender algo inexistente do vento. A resposta direta do bosquímano deve tê-lo enraivecido (in: O Guardador de Rebanhos, parte X):

"Olá, Guardador de Rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"

"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que diz?"

"Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram."

"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."

Se vez ou outra encontro-me infeliz, basta-me recordar do que disse Alberto Caeiro (in: O Guardador de Rebanhos, parte XXI):

(...)
"[...]eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade como felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva (...)"

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