quinta-feira, 28 de abril de 2011

Raptada Empatia

Austera sombra silvana
Ambivalente suástica
O meu espírito emana
Da insana Via Láctea

Percorrida madrugada
Só querendo um sinal Vosso
Minha cama arrumada
E sequer dormir eu posso

Quereria eu afirmar
Hoje o dia não me agrada
Sinto falta de um mar
Mas... desculpa esfarrapada

Quentes pés na areia fria
Solidão e completude
A luzidia abadia
No campo inóspito e rude

A penitência era a lei
E por nós era seguida
Mas já pouco agora eu sei
Da sagrada e ida ermida

Pelos vícios volteei
Rebuscando uma virtude
Ser meu vitalício rei
Tão embora a vida mude

Aos céus alcei os meus sonhos
Mal meus pés roçando o chão
Os outros, tão enfadonhos
Eu gigante, o mundo anão

De antemão não saberia
Todos próximos pesares
A catástrofe do dia
Ares nada salutares

O enforcamento da alma
No patético patíbulo
A morte cruel e calma
Deste índio desgarrido

Ó, Sol, teus raios não bastam
Para alumiar-me a face
Por ter crido n'algo casto
Antes o algo me matasse

Mas morrer sem direções
Pasmo, inerte, vegetal
Dado à boca dos leões
Eis o mais supremo mal

Ter crido no colorido
Avesso ao vão preto e branco
Para achar-me aqui tolhido
Cego, surdo, mudo e manco

Estupraram meu orgulho
Restou-me este roto corpo
Na raiva e no ódio eu mergulho
Em meu panorama morto

A perspectiva infértil
Ladra uivosa do meu âmago
Já alojou-se o projétil
Tornando o vivaz em lânguido

Foram-se as minhas proezas
Exaltadas, aclamadas
Minha voz, refém e presa
Corre interminável escada

Fraqueja o brilho celeste
Minha alma gela e inverna
Não foste tu quem disseste...
Ser a vida chama eterna?

Pois a luz ensombreou-se
Mutilou-se a mão da tocha
E verteu-se amaro o doce
Do coração feito em rocha.

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