domingo, 17 de abril de 2011

O Ódio

Ai, o ódio me rodeia
Grande roda a girar
Uma agulha em minha veia
Latrocínio em meu lar

Ai, o ódio me permeia
E range a serra da raiva
Arrendei minh'alma à meia
Sem que a outra parte o saiba

Grito surdo me esfaqueia
O tudo entorna-se em nada
Meu amor prendeu-se à teia
Da aranha alucinada

Ai, qual lado em mim odeia
Esvozeia e vocifera
Desfaz meu paço de areia
Prenhe e pútrida pantera

Ai, inveja, angústia e lágrimas
Resvalando-se mesquinhas
Vingam-se, anulam-se máximas
Quisera eu não serem minhas

Que posso eu fazer, dormir?
Esquecer, lutar, amar?
Ver do apogeu ao nadir
Ébrias vagas deste mar...

Potentes como o tsunami
Tudo arrastam insensatas
Deitaram-me no tatame
Seu peso sufoca e mata

Reerguer-me renovado
Talvez seja a solução
Sem virtudes, sem pecados
Sorridente e folgazão

Mas e quanto a meu passado
Violento e malquerido
Sigo sempre endividado
Meu remorso cá comigo

Atar-te eu quero à correia
Pôr-te o cabresto e o punhal
Ódio, que ao amor cerceia
Germe do azedo mal

Judas, na última ceia
Cínico, ri e sorri
Cospe, escarra e escarneia
Fez tamanho mal a Ti

Não sei se isso aconteceu
Vejo nisso a alegoria
Diferir o Tu do Eu
E a luz que a nós alumia.

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