Já meus joelhos gelados
Rejeitam o teu calor
Jazem juntos lado a lado
Enrijecidos, sem cor
Descoroçoado, eu
Inicio a noite só
Acabrunhado no breu
Assimilado ao pó
Sento e sinto o som silente
Da chuva ciscando o solo
É a paz do sono à mente
E a cruz da calma em meu colo
Me belisco a ver se é sonho
O obelisco mais medonho
Sóbrio ergueu-se sobre a prece
Sua sombra sempre cresce
E se prostra à minha face
Nem se eu lhe suplicasse
Pararia a travessia
Do ermo gélido ao dia
Assombrosa transição
Do amplo universo à terra
E os homens, que farão?
Ao destino que os desterra
Rompe o mar, o chão, a serra
Inaudita explosão
O humano jamais erra
E os homens, chorarão?
Mas a paz desfaz o pranto
Faz do sórdido, homem santo
Tudo quanto havia antes
Esmigalha-se em instantes
Ondas, anacondas, bichos
Fogem, ferem-se, fatais
O efêmero luxo é lixo
Matam-se nos matagais
Palavras trôpegas, tépidas
Ah! Aquecem-nos não mais
Das relíquias restam réplicas
Vis, inválidas, banais
Outro beliscão: desperto
A destruição tão perto
Fora sonho ou vaticínio?
Malsão sabor assassino
Dobram os sinos solenes
Qual moça ou moço não teme
Pesadelos iguais, tais
Quais os meus sonhos mortais
Tão povoados de gritos
Infernais e incisivos
Mito do mal dos aflitos
Todos morrem e eu vivo
De que vale essa vivência
Solitária e seca e crespa
Nessa ignorância imensa
Onde o homem é asno e besta
Bateria de andróides
Mecânico, maquinal
Suas ações debilóides
Dignas dum animal
Bem ou mal, pois tanto faz
Tudo o homem é capaz
Mas nada novo o inova
Néscio renasce à cova
Sábios e sabiás não sabem
Tampouco sabemos nós
Ocultos na cruz do frade
Cobertos no albornoz
Escusos perdões, os mesmos
Milhões de línguas, as mesmas
Mentiras reverberadas
Em petas, contos de fadas
Acerba usura o condena
A tirar do outro à marra
O que nunca será seu
Sobre o Sol um Deus ateu
Amarga ambição o atrela
À covardia mais falsa
Deixa o vizinho sem calça
Inda o põe no cadafalso
O patíbulo é justo
O juiz sequer tem custo
Em pôr-lhe as amarras, garras
Férreas, e sobr'ele escarra
As leis de sua nação
Seu Deus Uno, e por que não?
Noções de pátria e traição
Civilizado está. Bênção!
Ó, pesadelo macabro
Azedume do curtume
Sobe-me e cala-me a boca
Geme mia goela rouca
Ruge e ri já arrastada
Mia parca voz amurada
Em corpos, detritos. Caos
O Nada. Minha morada.
Rejeitam o teu calor
Jazem juntos lado a lado
Enrijecidos, sem cor
Descoroçoado, eu
Inicio a noite só
Acabrunhado no breu
Assimilado ao pó
Sento e sinto o som silente
Da chuva ciscando o solo
É a paz do sono à mente
E a cruz da calma em meu colo
Me belisco a ver se é sonho
O obelisco mais medonho
Sóbrio ergueu-se sobre a prece
Sua sombra sempre cresce
E se prostra à minha face
Nem se eu lhe suplicasse
Pararia a travessia
Do ermo gélido ao dia
Assombrosa transição
Do amplo universo à terra
E os homens, que farão?
Ao destino que os desterra
Rompe o mar, o chão, a serra
Inaudita explosão
O humano jamais erra
E os homens, chorarão?
Mas a paz desfaz o pranto
Faz do sórdido, homem santo
Tudo quanto havia antes
Esmigalha-se em instantes
Ondas, anacondas, bichos
Fogem, ferem-se, fatais
O efêmero luxo é lixo
Matam-se nos matagais
Palavras trôpegas, tépidas
Ah! Aquecem-nos não mais
Das relíquias restam réplicas
Vis, inválidas, banais
Outro beliscão: desperto
A destruição tão perto
Fora sonho ou vaticínio?
Malsão sabor assassino
Dobram os sinos solenes
Qual moça ou moço não teme
Pesadelos iguais, tais
Quais os meus sonhos mortais
Tão povoados de gritos
Infernais e incisivos
Mito do mal dos aflitos
Todos morrem e eu vivo
De que vale essa vivência
Solitária e seca e crespa
Nessa ignorância imensa
Onde o homem é asno e besta
Bateria de andróides
Mecânico, maquinal
Suas ações debilóides
Dignas dum animal
Bem ou mal, pois tanto faz
Tudo o homem é capaz
Mas nada novo o inova
Néscio renasce à cova
Sábios e sabiás não sabem
Tampouco sabemos nós
Ocultos na cruz do frade
Cobertos no albornoz
Escusos perdões, os mesmos
Milhões de línguas, as mesmas
Mentiras reverberadas
Em petas, contos de fadas
Acerba usura o condena
A tirar do outro à marra
O que nunca será seu
Sobre o Sol um Deus ateu
Amarga ambição o atrela
À covardia mais falsa
Deixa o vizinho sem calça
Inda o põe no cadafalso
O patíbulo é justo
O juiz sequer tem custo
Em pôr-lhe as amarras, garras
Férreas, e sobr'ele escarra
As leis de sua nação
Seu Deus Uno, e por que não?
Noções de pátria e traição
Civilizado está. Bênção!
Ó, pesadelo macabro
Azedume do curtume
Sobe-me e cala-me a boca
Geme mia goela rouca
Ruge e ri já arrastada
Mia parca voz amurada
Em corpos, detritos. Caos
O Nada. Minha morada.
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