segunda-feira, 18 de abril de 2011

Beirada

Todos dedos deformados
Num pé preto de sujeira
Pela dor, pelos calçados
Pela à vida à margem, à beira

Vida beirando a beira dos beirais
A existência suspeita
Só, suspensa, sussurrada
Psiu! E se for cilada...

Viadutos, minhocões
Pulsa em roda a vida alheia
Lendo em rostos bonachões
Sã saúde duma ceia

Qual foi a última vez...
Sobre a mesa a sobremesa
Um cumprimento cortês
Sem a sobrancelha tesa

Qual foi o dia benquisto
Amado, bem recordado
Sem ser pego para Cristo
Sem a exclusão ao lado

Quando foi a ida infância
Se sequer a possuiu
Pacífica vida mansa
Noites inteiras sem frio

O último olhar carinhoso
Apertado abraço humano
Última instância do gozo
O amor em primeiro plano

A insânia se aproxima
Consciência desintegra
O azul céu soberbo acima
E abaixo a alma em quebra

A mole mão esmoler
Tresandando forte cheiro
Não é homem nem mulher
Súplica ao ouro faceiro

Oiro, prata, cobre esnobe
Estendido ao pavimento
Prece ao firmamento sobe
Do chão sórdido, cruento

Pois eu passo e peço apenas
Ao longínquo Pai Noel
Galgue rápido as renas
Traga o prato mais pitéu.

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