Pai, que foi que tu dissestes?
Taciturno, saturnino
Quando despi tuas vestes
Roupas tuas de menino
Pai, tu trabalhaste tanto
Extraíste o teu gozo
Teu feitiço, teu encanto
Teu trabalho laboroso
Tutear-te agora é bom
Reavivado recordo
Tua voz e o teu som
Quando estávamos a bordo
Desferindo a mesma terra
Esplainada pelo sol
E ninguém, pois, exagera
O poder do arrebol
No sertão caía a noite
O negrume estelar
Só eu sei o quanto dói-te
Separar-te do teu lar
A dicotomia urbana
Esta nunca nos fez bem
Já cortar com força a cana
Eis a paz que nos contém
Eis a luz que não reduz
A bravura e o vigor
Nosso angu e o cuscuz
Para o suor repor
Acordar co'a corda toda
Pôr a bota, a calça jeans
Nossa mão desperta doida
Lavourar é bom assim
A camisa cobre os braços
O chapéu sobre a cabeça
Para trás o torpor lasso
Cuida co'a vaca travessa!
Leite e aveia, pança cheia
Café, água, pão, manteiga
Borbulha o sange na veia
Quão belo café, mia nega
Pôr o berrante a berrar
No topo do cupinzeiro
Seu ruído rasga o ar
Meu sorriso sai matreiro
Os pés nus entre as formigas
Em defesa de seu lar
As picadas mais amigas
Que se pode esperar
Mirando o arcano horizonte
Vastidão extraterrena
Animo a quem quer qu'eu conte
Ser o sertão mia Viena
A terra é pequena, plena
Nada vale a quem mente
Cravejar na alma esta cena
E retê-la eternamente
Faz dum ateu homem crente
Vislumbrar este luar
Gente que vive entre a gente
O anacoreta tornar
Dizer demais diminui
Enfraquece o imaginar
E passa uma impressão ruim
A rei, sultão e czar
Calar-se então é melhor
Já dizia isso o Pai
E sempre saber de cor
Aonde é que alma vai
Se te escapa ou te acompanha
Isso faz-te cego ou sábio
Se é brio ou mera manha
O Verbo a sair-te ao lábio.
Taciturno, saturnino
Quando despi tuas vestes
Roupas tuas de menino
Pai, tu trabalhaste tanto
Extraíste o teu gozo
Teu feitiço, teu encanto
Teu trabalho laboroso
Tutear-te agora é bom
Reavivado recordo
Tua voz e o teu som
Quando estávamos a bordo
Desferindo a mesma terra
Esplainada pelo sol
E ninguém, pois, exagera
O poder do arrebol
No sertão caía a noite
O negrume estelar
Só eu sei o quanto dói-te
Separar-te do teu lar
A dicotomia urbana
Esta nunca nos fez bem
Já cortar com força a cana
Eis a paz que nos contém
Eis a luz que não reduz
A bravura e o vigor
Nosso angu e o cuscuz
Para o suor repor
Acordar co'a corda toda
Pôr a bota, a calça jeans
Nossa mão desperta doida
Lavourar é bom assim
A camisa cobre os braços
O chapéu sobre a cabeça
Para trás o torpor lasso
Cuida co'a vaca travessa!
Leite e aveia, pança cheia
Café, água, pão, manteiga
Borbulha o sange na veia
Quão belo café, mia nega
Pôr o berrante a berrar
No topo do cupinzeiro
Seu ruído rasga o ar
Meu sorriso sai matreiro
Os pés nus entre as formigas
Em defesa de seu lar
As picadas mais amigas
Que se pode esperar
Mirando o arcano horizonte
Vastidão extraterrena
Animo a quem quer qu'eu conte
Ser o sertão mia Viena
A terra é pequena, plena
Nada vale a quem mente
Cravejar na alma esta cena
E retê-la eternamente
Faz dum ateu homem crente
Vislumbrar este luar
Gente que vive entre a gente
O anacoreta tornar
Dizer demais diminui
Enfraquece o imaginar
E passa uma impressão ruim
A rei, sultão e czar
Calar-se então é melhor
Já dizia isso o Pai
E sempre saber de cor
Aonde é que alma vai
Se te escapa ou te acompanha
Isso faz-te cego ou sábio
Se é brio ou mera manha
O Verbo a sair-te ao lábio.
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