sábado, 7 de agosto de 2010

Liberto

"Todos temos os nossos momentos de fraqueza, ainda
o que nos vale é poder chorar, o choro muitas vezes é
uma salvação, há ocasiões em que morreríamos se
não chorássemos."
(Ensaio Sobre A Cegueira, do benquisto, finado José Saramago)


***

Ah, não! Veja só quem veio
De seu campo de centeio
O jovem apanhador
Preso às rédeas do amor

Ah, sim! Olha quem chegou
Lutou e se libertou
Piruetas, traquinagens
E um punhado de coragem

Índio de instinto selvagem
Boca larga, riso sempre
Peito cheio de contente
Mente livre de bobagem

De ser maior ou menor
De ser melhor ou pior
De ser quem nunca será
De ser aquele acolá

Não se pode ser que é
Aspirando a ser igual
Não se pode nem ter fé
Se a fé é desigual

Cultivada no amplo templo
Onde Deus não somos nós
Presos soltos neste Tempo
No Universo de almas sós

Onde o amor é findo e morto
E o saber padece roto
Nossas lágrimas enxutas
Seco o sangue desta luta

Onde o fim não recomeça
Numa parva finitude
Onde a vida corre às pressas
Nada vale qu'eu me mude

E por mais qu'eu me emudeça
Não tirarei da cabeça
Antes morro a me esquivar
Deste rarefeito ar

O trabalho não liberta
A verdade nunca é certa
Valho mais que esta oferta
De uma vida após a morte.