Nós górgios nos prendem
Tua mão à minha
Em vã e fominha esperança
Perfuras meu cor com tua lança
E prostras teus olhos de cabra em mim
Impondo em mim teu sigilo
Teu segredo - dás-me ânsia
Sinto medo
Não diz agora essa palavra -
Ainda é cedo.
O que há de errado nisso?
Não firmamos compromisso...
Cada um pra sua praia
Você de calça, eu de saia
Você de jeans, eu de cambraia
Fundir-se é termo ultrapassado
Amar é coisa do passado
Amor é manco, cego, surdo, mudo...
Um velho retrogrado
Eu fui
seu ideal - e
vocêMais um
ex-namorado, ou melhor:
Namorico, ou melhor:
Um incômodo fardo.
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Duas notas: o eu lírico é feminino do início ao fim do poema, e eu o atribuo a uma pessoa que deixo sob a égide do anonimato. O que tal pessoa pensa (ou, ao menos, o que eu supus que pensasse), não condiz em nada com que eu penso. Eu acredito no amor - não por ingenuidade, mas porque tenho exemplos da vida real para me fundar. E, para mim, nunca houve um "cedo demais". Isso é restrição, é baboseira, hoje me faz rir. Mas quando ouvi da boca dela, me deixou bastante chocado. Talvez fosse cedo demais para ela, mas de forma alguma para mim. Enfim, se não é mútuo, não é verdadeiro. Ao menos nisso ela acertou. Ah, e todas as falas do poema são dirigidas da parte dela para mim, ou seja, eu sou o receptor dessa mensagem suficientemente incisiva (para quem acreditou amar do fundo do coração). Só posto isso porque faz parte da minha maturidade emocional. Hoje eu tenho os olhos bem mais abertos, o diálogo bem melhor construído, e nem por isso deixo de crer no poder edificante do amor genuíno. Eu tenho como firme crença artística minha que o poeta não deve ser hipócrita com a própria vida - não que seus poemas sejam necessariamente autobiográficos - nesse ponto, vários poemas postados neste blog podem ser tomados como exemplo. Mas detrás do poeta está uma pessoa que se esforça por viver uma vida não-hipócrita, e avessa às mentiras, calúnias e seduções mesquinhas.