segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Balanguê

Jean-Honoré Fragonard, "O balanço" (1767)

Apesar dos pesares,
A vida vai bem,
Vai vem.

(Meu)



O constante balanço, entre o ir e o voltar, o constar. O ser definido por estar, aqui e acolá, um meio definido pela passagem, a inércia do movimento que transmuda o rápido em lento, um auspício agourento, um eterno "vivo e tento". Tento ser o que não sou, estar onde não estou, voltar de onde eu vou. Meu voo, minha reflexão, estar planando parado em movimento, até parece miragem, mas é a vida.

Destituída de limites, infinita. O poeta fita o horizonte dalém da ponte, multicor, destoando no ódio, corando no amor, neutralizar-se é rancor é morrer é toda a dor o fim do ardor. O poeta colore e percorre milhas e milhas de sendas e lendas e vendas e vê. Povos e lugares, o vinho dos lagares, os velhos e os novos - os que jamais morreram. Pois viveram como vive a luz do sol enquanto é dia, sem se preocupar jamais com o despertar do sonho - a poesia.

O poeta retesa o arco, atira a seta. O querubim do fim da festa, o rememorar após a sesta - o poeta testa e atesta um viver diferente, um "viver com a gente", entre nós, dentre nós. Um ouvir, um dizer, um nascer fenecer, e o vivo manter da canção. Redivivo revivendo a tradição do toma lá e dá cá, um pega-pega inexaurível. Brincadeiras, jovialidade, o amor, o doce ninar da criança no berço na rede, que volta e avança, cantiga antiga... adormece.

E renasce todo santo dia pululando de alegria, recheando o biscoito da vida com uma bonança quase esquecida. E monta o cavalo alazão de um salto do chão, sem sela nem trela, e galga. Montanhas e vales, pega ela. Pega nada. Foi a vida. Estando na tua frente, te pegou por trás. Abracadabra, taí a surpresa. O bafo que aquece a tua mesa no café da manhã, no sacro arrebenta-diabos duma vida sã.

Ai, cunhã! Vem cá, dá um abraço no pai.

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