Minha peregrinação
No deserto do sertão
Onde eu conheci São Ão
De chinela e tamancão
Ele ria e dizia
Faz um sol de meio-dia
Essa minha travessia
É um banho de água fria
No meu corpo quase nu
Esfolado pelo sol
Trago a vaca que fez mu
Entoado em si bemol
E por pouco a chifrada
Nesta pele depenada
Não fez um rombão enorme
Onde o intestino dorme
Eu fiquei foi mais esperto
Nunca mais cheguei tão perto
Doutros bois de cara preta
De espingarda de espoleta
Ai, mamãe, que é qu'eu fiz
Nesta vida de aprendiz
Pra nascer tão infeliz
Co'esse rosto bonachão
Se fui salvo por um triz
Foi porque o fado quis
Co'essa linda flor-de-lis
Recheada de emoção
Respirar o ar do mar
Por aqui não consegui
Só o belo bem-te-vi
Pude ver no céu silvar
O pedreiro desta terra
Faz do alto sua mansão
O joão-de-barro é fera
Jamais erra uma mão
Pelejei com a enxada
Chapéu coco na mia cuca
Esse cabo que machuca
Grita, berra, urra e brada
Capinei, rocei, suei
E gritei: E-í E-í e Ei
Ô-í ô-í ou, eu vou
Procurar em mim o ouro
Ouro fino, ouro preto, ouro
Branco de joias reais
Elas em mim valem mais
Que um simples, fixo agouro
Predestinado da vida
Tão precoce e resumida
Por rezas e esconjuros
Prisioneiros de seus muros
Onde eu conheci São Ão
Rima de libertação
Forte como a explosão
De um vivo e rico Não
Não à mão que esmurra e bate
Nas bochechas escarlates
Dessa moça nova e bela
Pra mantê-la sob a sela
Não a todas bagatelas
Ditas por um Zé Ruela
Cuja vida é mentir
Com astúcias seduzir
Se eu amo a aventura
Foi devido à vida dura
Adoçada à rapadura
Quando a noite vinha escura
Foi devido aos meus amigos
Os meus cães qu'eu sempre sigo
Me livrando do perigo
De focar meu próprio umbigo
No deserto do sertão
Onde eu conheci São Ão
De chinela e tamancão
Ele ria e dizia
Faz um sol de meio-dia
Essa minha travessia
É um banho de água fria
No meu corpo quase nu
Esfolado pelo sol
Trago a vaca que fez mu
Entoado em si bemol
E por pouco a chifrada
Nesta pele depenada
Não fez um rombão enorme
Onde o intestino dorme
Eu fiquei foi mais esperto
Nunca mais cheguei tão perto
Doutros bois de cara preta
De espingarda de espoleta
Ai, mamãe, que é qu'eu fiz
Nesta vida de aprendiz
Pra nascer tão infeliz
Co'esse rosto bonachão
Se fui salvo por um triz
Foi porque o fado quis
Co'essa linda flor-de-lis
Recheada de emoção
Respirar o ar do mar
Por aqui não consegui
Só o belo bem-te-vi
Pude ver no céu silvar
O pedreiro desta terra
Faz do alto sua mansão
O joão-de-barro é fera
Jamais erra uma mão
Pelejei com a enxada
Chapéu coco na mia cuca
Esse cabo que machuca
Grita, berra, urra e brada
Capinei, rocei, suei
E gritei: E-í E-í e Ei
Ô-í ô-í ou, eu vou
Procurar em mim o ouro
Ouro fino, ouro preto, ouro
Branco de joias reais
Elas em mim valem mais
Que um simples, fixo agouro
Predestinado da vida
Tão precoce e resumida
Por rezas e esconjuros
Prisioneiros de seus muros
Onde eu conheci São Ão
Rima de libertação
Forte como a explosão
De um vivo e rico Não
Não à mão que esmurra e bate
Nas bochechas escarlates
Dessa moça nova e bela
Pra mantê-la sob a sela
Não a todas bagatelas
Ditas por um Zé Ruela
Cuja vida é mentir
Com astúcias seduzir
Se eu amo a aventura
Foi devido à vida dura
Adoçada à rapadura
Quando a noite vinha escura
Foi devido aos meus amigos
Os meus cães qu'eu sempre sigo
Me livrando do perigo
De focar meu próprio umbigo
2 comentários:
Muito bom, tipo de poesia que faz parte da minha infância, acho que devido a imagem do trem, eu li no seu compasso.
Uma ótima semana!
Postar um comentário